O reforço
Os telespectadores com acesso à TV distribuída por cabo tinham para eventual escolha dois canais portugueses assumidamente vocacionados para o fornecimento de notícias e complementares programas de informação, o SIC Notícias e a RTPN. Agora têm três porque chegou a TVI24, o que significa um reforço de cinquenta por cento em relação à situação anterior. É claro, porém, que dizê-lo assim, com números e percentagens, pode resultar enganoso, pois isto de números não é como o algodão de um já velho momento publicitário que alegadamente não enganava: os números enganam, e não poucas vezes. Por exemplo, dizer-se que a TVI e a SIC nos seus canais abertos duplicam as possibilidades de escolha por parte do público é em larga medida uma falácia, pois bem se sabe que são muitas as horas semanais em que os programas transmitidos por uma e outra se assemelham entre si de tal modo que o suposto embaraço da escolha se transmuta na náusea da indiferença. Assim, o espectável enriquecimento dos fluxos informativos prestados pela televisão por cabo aos cidadãos portugueses só será autêntico se a informação fornecida pela recém-chegada TVI24 se distinguir dos conteúdos dos dois canais que a precederam. E se as diferenças forem para melhor, já se vê, pois só assim se justificará falar em enriquecimento. Semelhantemente, importará que o novo canal se distancie de práticas e estilos adoptados no canal terrestre da estação que firam a lisura, a deontologia ou o simples bom gosto. Regra esta, se regra se lhe pode chamar, que não ultrapassa a evidência contida numa espécie de máxima popular: para melhor está bem, está bem; para mal já basta assim.
O risco da inutilidade
Entre as palavras com que a TVI24 iniciou as suas emissões figurou a promessa de que o novo canal terá «a qualidade a que a TVI nos habituou». É uma frase que não surpreende mas que, à luz de um certo rigor literal e talvez de alguma má-vontade, pode tornar-se inquietante. É que, como bem sabe qualquer telespectador não completamente passivo e acrítico, a qualidade a que a TVI nos habituou está longe de ser entusiasmante, bem se podendo dizer que as suas frequentes opções pelo populismo, pela demagogia, pela tabloidização, foram decisivas para a consolidação no nosso País de uma televisão de efeito diametralmente oposto ao interesse nacional que é o da emergência de um público informado com isenção e seriedade, portanto disponível para a lucidez. É certo que nestes primeiros dias a TVI24 nos ofereceu alguns programas interessantes acerca de temas com inegável actualidade, mas bem se pode dizer que era o que se podia esperar em tempo que ainda é de estreia. Porventura mais sintomático, por revelar a persistência de pendores e vícios que desmentem a credibilidade de qualquer fornecedor de Informação, foi o modo como num dos primeiros noticiários do novo canal foi falsificado o sentido das palavras do presidente Hugo Chavez acerca da administração Obama. Percebe-se que uma espécie de doença mental percorra o Ocidente «democrático», uma chavezfobia que não radica na circunstância de Chavez ser barrigudo nem de ele preferir a franca linguagem da rua às hipócritas fórmulas dos salões diplomáticos, mas sim no facto de ele meter medo. É que Hugo Chavez escolheu os interesses do seu povo em vez da subserviência perante Washington, tradicional não apenas na América Latina mas também na mais poderosa comunicação social europeia, e tem vindo a ter êxito. O que assusta. De onde a consequência que não pode surpreender conheça os bastidores dos media: a ordem nunca claramente expressa, por ser desnecessário exprimi-la abertamente, mas presente, para que sempre que possível sejam disparadas contra Chavez falsificações e calúnias. Ora, tendo Chavez perguntado, lá por palavras suas, se a actual Administração norte-americana é de facto presidida e dirigida por Obama ou se prossegue os maus caminhos de Bush, logo a TVI24 nos impingiu a «informação» de que Chavez equiparara Obama a Bush. Foi uma forma de impostura talvez ainda soft mas indiciadora de qualquer coisa de inquietante: de que, pelo menos em matérias que são fundamentais e cujo tratamento é esclarecedor, a TVI24 se propõe, na verdade, manter a «qualidade» a que sempre nos habituou. E, a ser assim, é claro que no plano da Informação credível não terá valido a pena o trabalhão de lançar mais um canal.
O risco da inutilidade
Entre as palavras com que a TVI24 iniciou as suas emissões figurou a promessa de que o novo canal terá «a qualidade a que a TVI nos habituou». É uma frase que não surpreende mas que, à luz de um certo rigor literal e talvez de alguma má-vontade, pode tornar-se inquietante. É que, como bem sabe qualquer telespectador não completamente passivo e acrítico, a qualidade a que a TVI nos habituou está longe de ser entusiasmante, bem se podendo dizer que as suas frequentes opções pelo populismo, pela demagogia, pela tabloidização, foram decisivas para a consolidação no nosso País de uma televisão de efeito diametralmente oposto ao interesse nacional que é o da emergência de um público informado com isenção e seriedade, portanto disponível para a lucidez. É certo que nestes primeiros dias a TVI24 nos ofereceu alguns programas interessantes acerca de temas com inegável actualidade, mas bem se pode dizer que era o que se podia esperar em tempo que ainda é de estreia. Porventura mais sintomático, por revelar a persistência de pendores e vícios que desmentem a credibilidade de qualquer fornecedor de Informação, foi o modo como num dos primeiros noticiários do novo canal foi falsificado o sentido das palavras do presidente Hugo Chavez acerca da administração Obama. Percebe-se que uma espécie de doença mental percorra o Ocidente «democrático», uma chavezfobia que não radica na circunstância de Chavez ser barrigudo nem de ele preferir a franca linguagem da rua às hipócritas fórmulas dos salões diplomáticos, mas sim no facto de ele meter medo. É que Hugo Chavez escolheu os interesses do seu povo em vez da subserviência perante Washington, tradicional não apenas na América Latina mas também na mais poderosa comunicação social europeia, e tem vindo a ter êxito. O que assusta. De onde a consequência que não pode surpreender conheça os bastidores dos media: a ordem nunca claramente expressa, por ser desnecessário exprimi-la abertamente, mas presente, para que sempre que possível sejam disparadas contra Chavez falsificações e calúnias. Ora, tendo Chavez perguntado, lá por palavras suas, se a actual Administração norte-americana é de facto presidida e dirigida por Obama ou se prossegue os maus caminhos de Bush, logo a TVI24 nos impingiu a «informação» de que Chavez equiparara Obama a Bush. Foi uma forma de impostura talvez ainda soft mas indiciadora de qualquer coisa de inquietante: de que, pelo menos em matérias que são fundamentais e cujo tratamento é esclarecedor, a TVI24 se propõe, na verdade, manter a «qualidade» a que sempre nos habituou. E, a ser assim, é claro que no plano da Informação credível não terá valido a pena o trabalhão de lançar mais um canal.