A eliminação
Tenho por hábito entre o semiprofissional e o cívico, em todo o caso um bom hábito, assistir aos programas «Parlamento» e «Eurodeputados». Não é que com eles se aprenda muito, mas é certo que se aprende pelo menos uma coisa cuja importância devia ser óbvia para qualquer cidadão, mesmo para aqueles que orgulhosamente proclamam que não se interessam pela vida política porque se lhes meteu na cabeça que isso é que é moderno, desempoeirado e perspicaz. Quer com «Parlamento» quer com «Eurodeputados», fica o telespectador informado do que cada partido com representação parlamentar pensa e/ou propõe acerca das questões, enormes ou minúsculas, cuja eventual resolução pode ter directamente a ver com a vida quotidiana de cada um de nós. Não é coisa pouca, designadamente para quem queira desembaraçar-se de ignorâncias e confusões, isto é, para quem, sendo inevitavelmente cidadão, não quer que a sua cidadania seja uma forma de ignorância toscamente barricada por detrás de convencimentos equivocados ou da arrogante afirmação de «não querer saber de políticas». Como subproduto, digamos assim, do acesso ao pensamento e aos argumentos dos diversos partidos, fica o telespectador daqueles dois programas a saber o que relativamente a cada problema ou a cada fase da vida nacional é preconizado pelo PCP, isto pela voz de deputados comunistas, obviamente qualificados para exprimir as posições do Partido, e não pela de qualquer jornalista que ao apresentar telenoticiários pode estar apenas a fornecer, quanto ao Partido Comunista, versões deformadas e falsificações quer por conta própria quer por mandato alheio. Esta eventualidade pode parecer um grande exagero ao cidadão de boa-fé e muita inocência, mas convém saber que, hoje, não é jornalista numa grande empresa de comunicação social quem quer, mas sim quem pode. E de tal modo que bem se pode dizer, usando uma imagem porventura atrevida, que o ingresso de um jornalista numa dessas empresas é regulado pelo porteiro que barra a entrada a quem não lhe pareça de confiança e com activo repúdio de todas as ideias subversivas. Sendo assim, já se vê que dessa porta para dentro é improvável que seja exercida alguma forma de censura política, o que é óptimo para assegurar a conformidade entre a informação saída dessa empresa e a democracia que ela decerto tanto preza.
Apenas uns segundos
Infelizmente, porém, há momentos e programas em que o mero controlo confiado ao porteiro é inaplicável, pelo que se admite a necessidade de recorrer a outros meios. Não sei se é o caso do «Parlamento» e do «Eurodeputados», ambos obrigados pela sua própria natureza a permitir a entrada de comunistas nos debates, mas são muitas as ocasiões em que me parece que sim, que há por lá comunistas a quem convém limitar o tempo de antena, não vão eles abusar. É sobretudo o caso de «Eurodeputados», programa apresentado e moderado pela jornalista Fernanda Gabriel desde tempos que já me parecem imemoriais. Eu bem sei que ela, coitada, tem de dar a palavra ao eurodeputado do PS, ao do PSD, ao do CDS-PP, ao do BE, todos eles com imensas e decerto esplêndidas coisas para dizer. Também sei que por vezes calha a representação do PCP à eurodeputada Ilda Figueiredo, senhora com uma incómoda tendência para se fazer ouvir e uma grande resistência a que a silenciem. Mas será errado que, quando a presença comunista no programa é a do eurodeputado Pedro Guerreiro, aparentemente mais tranquilo e porventura mais paciente (mas não menos sólido, claro e convincente nas suas intervenções), Fernanda Gabriel suponha que chegou enfim a oportunidade de silenciar uma voz comunista. O caso é que na mais recente emissão do «Eurodeputados», chegou a ser penoso ver Pedro Guerreiro a pedir, de dedo no ar, que lhe fosse permitido entrar na conversa, e que na parte final o deputado só possa ter falado durante uns segundos, aliás depressa interrompidos. Foi, mais uma vez, a aplicação, premeditada ou não, da técnica rudimentar mas brutal que visa eliminar o PCP e as vozes que o exprimem do território da comunicação social portuguesa. Dir-se-á que é coisa de todos os dias, pelo que não há motivo para surpresas embora sempre o haja para indignações. Direi que pois sim, mas parece-me que num programa como o «Eurodeputados» a prática tem maior gravidade.
Apenas uns segundos
Infelizmente, porém, há momentos e programas em que o mero controlo confiado ao porteiro é inaplicável, pelo que se admite a necessidade de recorrer a outros meios. Não sei se é o caso do «Parlamento» e do «Eurodeputados», ambos obrigados pela sua própria natureza a permitir a entrada de comunistas nos debates, mas são muitas as ocasiões em que me parece que sim, que há por lá comunistas a quem convém limitar o tempo de antena, não vão eles abusar. É sobretudo o caso de «Eurodeputados», programa apresentado e moderado pela jornalista Fernanda Gabriel desde tempos que já me parecem imemoriais. Eu bem sei que ela, coitada, tem de dar a palavra ao eurodeputado do PS, ao do PSD, ao do CDS-PP, ao do BE, todos eles com imensas e decerto esplêndidas coisas para dizer. Também sei que por vezes calha a representação do PCP à eurodeputada Ilda Figueiredo, senhora com uma incómoda tendência para se fazer ouvir e uma grande resistência a que a silenciem. Mas será errado que, quando a presença comunista no programa é a do eurodeputado Pedro Guerreiro, aparentemente mais tranquilo e porventura mais paciente (mas não menos sólido, claro e convincente nas suas intervenções), Fernanda Gabriel suponha que chegou enfim a oportunidade de silenciar uma voz comunista. O caso é que na mais recente emissão do «Eurodeputados», chegou a ser penoso ver Pedro Guerreiro a pedir, de dedo no ar, que lhe fosse permitido entrar na conversa, e que na parte final o deputado só possa ter falado durante uns segundos, aliás depressa interrompidos. Foi, mais uma vez, a aplicação, premeditada ou não, da técnica rudimentar mas brutal que visa eliminar o PCP e as vozes que o exprimem do território da comunicação social portuguesa. Dir-se-á que é coisa de todos os dias, pelo que não há motivo para surpresas embora sempre o haja para indignações. Direi que pois sim, mas parece-me que num programa como o «Eurodeputados» a prática tem maior gravidade.