O PCP e o reforço da solidariedade internacionalista

Manuela Bernardino (Membro do Secretariado)
A actividade e as relações internacionais do Partido, nos últimos quatro anos, foram inseparáveis da própria evolução da situação internacional marcada pela violenta ofensiva do imperialismo e pelo aprofundar da crise do sistema capitalista, cujas graves consequências para os trabalhadores e para os povos exigem o reforço dos partidos comunistas em cada país e, simultaneamente, o reforço da sua cooperação e solidariedade internacionalista assim como com todas as forças do progresso social e de libertação nacional.
Vivemos tempos de grande instabilidade e incerteza, em que se adensam perigos para a segurança e a paz mundial, em que se ampliam os ataques à soberania dos Estados e a direitos históricos dos trabalhadores, com milhões e milhões de seres humanos a serem afastados do sistema produtivo, socialmente marginalizados, empurrados para uma situação de pobreza extrema que surge como dedo acusador de um sistema profundamente injusto e desumano que revela, como há muito o PCP vem afirmando, os seus limites históricos.
É com esta profunda convicção que radica não apenas nas próprias dificuldades e contradições do capitalismo, mas fundamentalmente porque por toda a parte prossegue a luta dos trabalhadores e dos povos que vemos reais possibilidades e potencialidades de avanço na luta libertadora. Aliás, como o projecto de Teses refere, vive-se uma fase de agudização da luta de classes, que nos anima a prosseguir com determinação a luta em defesa dos interesses vitais dos trabalhadores, pelo progresso social, a paz e o socialismo.
É nesta realidade que intervimos e agimos. Uma realidade que reclama profundas transformações revolucionárias que garantam uma nova ordem democrática, justa e equitativa. Vemos assim como imperiosa a mais ampla unidade de todas as forças que combatem o neoliberalismo, hoje desacreditado, apontando simultaneamente a responsabilidade da social-democracia na ofensiva do grande capital e procurando identificar os conteúdos que propiciem a acção comum ou convergente e a eficácia da luta no plano imediato, colocando simultaneamente a perspectiva da alternativa do socialismo.
As relações internacionais do nosso Partido mantêm-se muito amplas e diversificadas. Orientadas pelo internacionalismo proletário, a solidariedade internacionalista e a defesa da paz, nelas se incluem prioritariamente o relacionamento com os partidos comunistas, visando o reforço do movimento comunista internacional ainda em fase de recuperação e de grande dispersão ideológica, mas cuja cooperação não se pode diluir no quadro mais amplo da frente anti-imperialista. Lutando pelo reforço da unidade do movimento comunista internacional, temos dado uma contribuição positiva para a convergência e acção comum em todos os espaços multilaterais em que intervimos. É assim no processo dos Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários, cujo 10.º Encontro se acaba de realizar em S. Paulo, é assim que valorizamos o Grupo GUE/EVN no Parlamento Europeu, é assim que participamos no NELF e no Fórum de S. Paulo, assim como em múltiplos encontros, conferências e seminários internacionais em que a palavra do PCP é ouvida com respeito.

Cooperação e solidariedade

A diversidade de espaços e iniciativas multilaterais reflecte os próprios processos de integração e internacionalização e reforçam a exigência da cooperação dos comunistas e outras forças do progresso social. O PCP que não exclui a necessidade de se caminhar para formas mais estáveis de cooperação, rejeita contudo «soluções» de estruturação e organização centralizada e tentativas de uniformização programática que não levam em conta a história de cada povo e a situação de cada país. Para o PCP, o marco nacional é o terreno incontornável e decisivo da luta de classes, e a indispensável cooperação e solidariedade devem basear-se nos princípios de igualdade, soberania e não ingerência. Razões que, entre outras, justificam a nossa discordância em relação ao «Partido da Esquerda Europeia», o que não põe em causa as relações bilaterais com os partidos que o integram e cuja presença no nosso Congresso confirma.
O nosso projecto de Teses, no seu ponto 4.12, dá conta da actividade internacional do Partido, não podendo entretanto reflectir integralmente toda a sua riqueza e intensidade. Gostaria de salientar, para além da prioridade que damos às relações na Europa, a preocupação que tivemos em relação a África – continente explorado, espoliado e devastado pela gula das transnacionais e o seu processo de recolonização – com a realização em Lisboa dum Seminário Internacional; as visitas realizadas a países que definem como orientação e objectivos a construção duma sociedade socialista, nomeadamente à China, a Cuba e ao Vietname, com o objectivo de conhecer melhor as suas experiências, dificuldades e contradições; as visitas a países de África, da América Latina e da Ásia, a par de numerosas iniciativas em defesa da paz e de solidariedade com países e povos vítimas de bloqueio e da agressão imperialista.
A análise que fazemos da situação internacional e dos perigos que comporta, aponta para a necessidade de recuperação do papel dos comunistas combatendo concepções anarquizantes, esquerdistas e reformistas e conceitos ligados ao «novo internacionalismo». O momento é de relançar os ideais do socialismo, que contará em cada país com a acção criativa das massas.
Em Portugal, tal caminho está expresso no lema do nosso Congresso «Por Abril, pelo socialismo, um Partido mais forte!».


Mais artigos de: Temas

Por uma Administração Pública ao serviço do povo e do País

Ao longo da sua existência o capitalismo sempre fez tudo para esconder a verdadeira natureza do Estado, procurando fazer crer que ele paira acima das classes e dos seus interesses, funcionando como um árbitro.Mas a actual crise do sistema capitalista trouxe à evidência, como demonstraram Marx e Lénine, que o Estado é a...

Defesa nacional e Forças Armadas

Ao tratarmos as questões relativas à política de Defesa Nacional e Forças Armadas temos de ter presente, no plano nacional, o aprofundamento da ofensiva, nas suas diferentes expressões, em consequência da política de direita e, no plano internacional, as dinâmicas em curso.É da análise conjugada deste quadro que se...

Os quadros e a formação política e ideológica

Como destaca a proposta de Resolução Política que está aqui em discussão, «a natureza de classe do Partido e os objectivos políticos e organizativos que pretende alcançar, determinam o conteúdo e os princípios fundamentais que orientam a sua política de quadros». As decisões aprovadas no XVII Congresso relativamente à...

A ligação às massas e o alargamento de influência do Partido

Em 1964, o «Rumo à Vitória» definia a «luta popular de massas» como «único caminho para o levantamento nacional» para derrubar o fascismo. Em dez anos a vida comprovou essa afirmação na madrugada libertadora de Abril. Nos dias de hoje, o Partido transporta um imenso património de experiência adquirida e de saber nesta...

A actividade do Grupo Parlamentar do PCP

Vivemos há quatro anos sujeitos a uma maioria absoluta e a um Governo que leva por diante uma brutal ofensiva de agravamento da política de direita, de ataque aos direitos constitucionais e de benefício dos poderosos. Os trabalhadores e o nosso povo têm respondido com fortes acções de massas, em particular as organizadas...

A situação económica e os grupos monopolistas

A situação em que nos encontramos, a situação a que chegámos, 50 mil milhões de fundos comunitários e 33 mil milhões de receitas de privatizações depois, é o resultado de 32 anos de políticas de direita. Responsabilidade de anteriores governos. Responsabilidade do actual Governo PS/Sócrates, que não só as continuou como...

Ofensiva contra o poder local

O poder local surgiu como emanação e expressão directa da vontade do povo, com características marcadamente democráticas e populares, na sequência da Revolução de Abril. Afirmou-se como um importante factor na melhoria das condições de vida e de desenvolvimento local.A ofensiva em curso contra as principais conquistas de...

As questões sociais

O aprofundamento do conteúdo de classe das políticas sociais do Governo PS/Sócrates semeia a regressão nos direitos e cria novos factores de injustiça e desigualdade social. São políticas «embrulhadas» num vasto glossário de terminologias que, na segurança social, se traduzem na pretensa preocupação de construir uma nova...