Três duma vez
Em apenas três dias - mais exactamente entre domingo e terça-feira passados -, o Presidente da República Cavaco Silva brindou o País com três intervenções sucessivas sobre um mesmo assunto (o «caso BPN»), surpreendendo duplamente o auditório nacional: primeiro, pelo inesperado de se pronunciar pessoalmente sobre um caso a que, notoriamente, não estava ligado em termos pessoais; segundo, por necessitar de três explicações consecutivas para, afinal, não esclarecer o que devia.
A primeira intervenção surgiu no domingo sob forma de um comunicado presidencial, onde o actual chefe de Estado garantia solenemente que nunca teve nem tem qualquer ligação ou tirou algum benefício do BPN, respondendo assim a «mentiras e insinuações» que não identificou e remetendo toda a gente para a sua declaração de património e rendimentos entregue ao Tribunal Constitucional e disponível para quem a quiser consultar.
O insólito deste comunicado está no facto de ninguém poder «mentir ou insinuar» sobre ligações de Cavaco Silva ao BPN, passadas ou presentes, pela linear razão de Cavaco Silva nunca ter tido, que se saiba, qualquer ligação profissional ao dito BPN. Assim sendo, este esclarecimento presidencial surgiu, à superfície, tão desnecessário que mais parecia deslocado.
Porém, no dia seguinte, Cavaco Silva voltou ao assunto, mas para falar de outra coisa: esclareceu que, no seu entendimento, «a lei» impedia-o de demitir Dias Loureiro do lugar de conselheiro de Estado, para onde pessoalmente o escolhera no início do seu mandato presidencial. Quanto ao motivo desta nova surpresa explicativa, ficou subentendido no que o Presidente não disse - que este seu conselheiro pessoal e ex-ministro de outros tempos estava, ele sim, atolado até ao pescoço nas suspeições sobre o BPN. Assim sendo, decorre que o Presidente terá querido demarcar-se, de novo, do escândalo BPN, mas agora distanciando-se de quem, manifestamente, está comprometido com ele. Só que, de caminho, deixaria Dias Loureiro sob suspeita ao refugiar-se na declaração de que «não podia demiti-lo». E se pudesse, que faria?
Talvez para continuar a não responder a isso, no dia seguinte o Presidente surgiu com terceira declaração: informava que Dias Loureiro lhe garantira não ter cometido qualquer ilícito no BPN o que, no presidencial critério, era o suficiente para nele manter a confiança.
Convenhamos que é conversa presidencial a mais, para tão curto esclarecimento.
Na verdade, se o Presidente Cavaco Silva queria explicar alguma coisa de carácter pessoal em relação ao «caso BPN», deveria fazê-lo sobre o único facto relevante para a sua Presidência: o da manutenção de Dias Loureiro como conselheiro de Estado por si próprio escolhido, quando Dias Loureiro surgiu publicamente envolvido no escândalo do BPN, como ex-gestor da instituição.
Se não queria expô-lo, não devia ter começado por falar de si mesmo para não falar de Dias Loureiro, para acabar a falar de Dias Loureiro... sem explicar por que o mantinha como seu conselheiro de confiança pessoal.
A primeira intervenção surgiu no domingo sob forma de um comunicado presidencial, onde o actual chefe de Estado garantia solenemente que nunca teve nem tem qualquer ligação ou tirou algum benefício do BPN, respondendo assim a «mentiras e insinuações» que não identificou e remetendo toda a gente para a sua declaração de património e rendimentos entregue ao Tribunal Constitucional e disponível para quem a quiser consultar.
O insólito deste comunicado está no facto de ninguém poder «mentir ou insinuar» sobre ligações de Cavaco Silva ao BPN, passadas ou presentes, pela linear razão de Cavaco Silva nunca ter tido, que se saiba, qualquer ligação profissional ao dito BPN. Assim sendo, este esclarecimento presidencial surgiu, à superfície, tão desnecessário que mais parecia deslocado.
Porém, no dia seguinte, Cavaco Silva voltou ao assunto, mas para falar de outra coisa: esclareceu que, no seu entendimento, «a lei» impedia-o de demitir Dias Loureiro do lugar de conselheiro de Estado, para onde pessoalmente o escolhera no início do seu mandato presidencial. Quanto ao motivo desta nova surpresa explicativa, ficou subentendido no que o Presidente não disse - que este seu conselheiro pessoal e ex-ministro de outros tempos estava, ele sim, atolado até ao pescoço nas suspeições sobre o BPN. Assim sendo, decorre que o Presidente terá querido demarcar-se, de novo, do escândalo BPN, mas agora distanciando-se de quem, manifestamente, está comprometido com ele. Só que, de caminho, deixaria Dias Loureiro sob suspeita ao refugiar-se na declaração de que «não podia demiti-lo». E se pudesse, que faria?
Talvez para continuar a não responder a isso, no dia seguinte o Presidente surgiu com terceira declaração: informava que Dias Loureiro lhe garantira não ter cometido qualquer ilícito no BPN o que, no presidencial critério, era o suficiente para nele manter a confiança.
Convenhamos que é conversa presidencial a mais, para tão curto esclarecimento.
Na verdade, se o Presidente Cavaco Silva queria explicar alguma coisa de carácter pessoal em relação ao «caso BPN», deveria fazê-lo sobre o único facto relevante para a sua Presidência: o da manutenção de Dias Loureiro como conselheiro de Estado por si próprio escolhido, quando Dias Loureiro surgiu publicamente envolvido no escândalo do BPN, como ex-gestor da instituição.
Se não queria expô-lo, não devia ter começado por falar de si mesmo para não falar de Dias Loureiro, para acabar a falar de Dias Loureiro... sem explicar por que o mantinha como seu conselheiro de confiança pessoal.