Obama. Euforia e realidade
A vitória de Obama resulta da confluência momentânea de interesses opostos e inconciliáveis
«Mudar» e «Sim, nós podemos» foram as palavras de ordem com que Obama conquistou o eleitorado que o levou à presidência dos Estados Unidos. Mas terminada a campanha eleitoral mais longa, mais cara e mais mediática da história do país, ainda ninguém sabe se o novo presidente e a sua equipa pretendem e podem «mudar» alguma coisa.
Se há certeza que desde já mereça ser assinalada é o facto de ter sido eleito pela primeira vez um presidente afro-americano, num país que ao longo da sua história oprimiu e escravizou de uma forma brutal a sua população afro-americana e que até ao martírio de Luther King lhe negou os mais elementares direitos cívicos. Não esqueçamos que em Junho deste ano, ao completar 90 anos, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, ainda constava em Washington numa lista como «terrorista» por ter lutado uma vida inteira contra o regime fascista e racista do apartheid.
A vitória de Obama resulta visivelmente da confluência momentânea de interesses opostos e inconciliáveis, onde se destacam a percepção de determinados sectores da oligarquia financeira da necessidade de pôr fim ao descrédito e isolamento a que a governação de George Bush e o Partido Republicano conduziram os Estados Unidos, e a indignação das camadas populares descriminadas e exploradas, gravemente atingidas pela crise económica e social, e expropriadas pelos bancos e institutos de crédito dessa mesma oligarquia. Poderá um novo presidente responder aos anseios de mudança do povo americano, sabendo-se que o bipartidarismo norte-americano, além de funcionar na prática como um sistema de partido único com duas alas, uma «republicana» mais conservadora e outra «democrata» mais liberal, tem como finalidade suprema garantir na América e no mundo os privilégios da burguesia monopolista e o «direito» à exploração?
Marx, numa carta a Engels de 8 de Dezembro de 1857, referindo-se à grande crise do capitalismo que rebentara em Agosto desse mesmo ano, escreve: «os capitalistas que tanto gritaram contra o “direito ao trabalho”, agora exigem dos governos ajuda pública, (...) isto é, o “direito ao lucro”».
Sem ignorar as diferenças entre os candidatos republicano e democrata e como salienta o comunicado do Gabinete de Imprensa do PCP, «a verdade é que ambas as candidaturas não disfarçam o seu vínculo a um projecto de dominação do mundo no plano económico, ideológico e militar». Tenhamos presente que foi durante o mandato do «democrata» Clinton que a NATO aprovou em Washington o novo conceito estratégico agressivo e os EUA executaram nos Balcãs, no Iraque e no Sudão agressões militares contrárias aos princípios da ONU e ao direito internacional. Ao intensificar o recurso à guerra, aos campos de concentração e à tortura, o governo de George Bush demonstrou como nenhum outro a incompatibilidade existente entre o capitalismo, o respeito pelos direitos, a dignidade da pessoa humana e a democracia. A eleição de Obama não anula, antes comprova a necessidade de se intensificar ainda mais a luta contra a actual ofensiva do imperialismo por uma mudança real da correlação de forças internacional, favorável à justiça social, à paz e à democracia.
Se há certeza que desde já mereça ser assinalada é o facto de ter sido eleito pela primeira vez um presidente afro-americano, num país que ao longo da sua história oprimiu e escravizou de uma forma brutal a sua população afro-americana e que até ao martírio de Luther King lhe negou os mais elementares direitos cívicos. Não esqueçamos que em Junho deste ano, ao completar 90 anos, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, ainda constava em Washington numa lista como «terrorista» por ter lutado uma vida inteira contra o regime fascista e racista do apartheid.
A vitória de Obama resulta visivelmente da confluência momentânea de interesses opostos e inconciliáveis, onde se destacam a percepção de determinados sectores da oligarquia financeira da necessidade de pôr fim ao descrédito e isolamento a que a governação de George Bush e o Partido Republicano conduziram os Estados Unidos, e a indignação das camadas populares descriminadas e exploradas, gravemente atingidas pela crise económica e social, e expropriadas pelos bancos e institutos de crédito dessa mesma oligarquia. Poderá um novo presidente responder aos anseios de mudança do povo americano, sabendo-se que o bipartidarismo norte-americano, além de funcionar na prática como um sistema de partido único com duas alas, uma «republicana» mais conservadora e outra «democrata» mais liberal, tem como finalidade suprema garantir na América e no mundo os privilégios da burguesia monopolista e o «direito» à exploração?
Marx, numa carta a Engels de 8 de Dezembro de 1857, referindo-se à grande crise do capitalismo que rebentara em Agosto desse mesmo ano, escreve: «os capitalistas que tanto gritaram contra o “direito ao trabalho”, agora exigem dos governos ajuda pública, (...) isto é, o “direito ao lucro”».
Sem ignorar as diferenças entre os candidatos republicano e democrata e como salienta o comunicado do Gabinete de Imprensa do PCP, «a verdade é que ambas as candidaturas não disfarçam o seu vínculo a um projecto de dominação do mundo no plano económico, ideológico e militar». Tenhamos presente que foi durante o mandato do «democrata» Clinton que a NATO aprovou em Washington o novo conceito estratégico agressivo e os EUA executaram nos Balcãs, no Iraque e no Sudão agressões militares contrárias aos princípios da ONU e ao direito internacional. Ao intensificar o recurso à guerra, aos campos de concentração e à tortura, o governo de George Bush demonstrou como nenhum outro a incompatibilidade existente entre o capitalismo, o respeito pelos direitos, a dignidade da pessoa humana e a democracia. A eleição de Obama não anula, antes comprova a necessidade de se intensificar ainda mais a luta contra a actual ofensiva do imperialismo por uma mudança real da correlação de forças internacional, favorável à justiça social, à paz e à democracia.