O ilusionista

Henrique Custódio
A notícia veio no Sol e até foi citada pelo Diário de Notícias: há pelo menos 100 mil «falsos» empregados nas profusas contabilidades governamentais sobre o assunto, o que transforma a actual e propalada taxa oficial de 7% de desemprego nuns deprimentes 9%...
A explicação é simples e está escarrapachada na notícia: «100 mil é o universo de pessoas em formação profissional remunerada e que, por isso, não são consideradas desempregadas à luz dos critérios usados pelo Instituto Nacional de Estatística».
Não são consideradas desempregadas, mas em breve o serão: é só acabar a «formação profissional» remunerada (que geralmente dura seis meses não renováveis – era o que faltava! de «formações» a metro passar-se a «formações» de empreitada), e então sim, ficarão irrevogavelmente no desemprego e sem qualquer remuneração, o que – valha a verdade - não preocupará por aí além a propaganda governamental, porque tais desempregados já irão engrossar novas estatísticas e outras «taxas», né?
O que também se sabe – até porque já se sabia, por esse País sindical fora - é que não só a taxa de desemprego real anda mais pelos 9% do que pelos 7% que o Governo quer impingir, como a fasquia do meio milhão de desempregados efectivos já foi claramente atingida no nosso País, restando apenas averiguar em quanto já foi ultrapassada...
Tudo isto, sublinhe-se, sem entrar em linha de conta com os recibos verdes que proliferam desde a mais variada administração pública à desvairadíssima actividade privada, camuflando salários de miséria, animando explorações desenfreadas, impondo acumulações de trabalhos e empregos para se sobreviver e, finalmente, salvando as estatísticas com que o Governo vai forjando as suas «vitórias contra o desemprego».
Tudo isto sem descontar, sequer, os «empregados instantâneos» com que o Governo encharca as suas estatísticas, contabilizando, às carradas, trabalhadores sazonais como empregados efectivos, indiferente ao facto de todos eles, igualmente às carradas, estarem a trabalhar à época, à semana, à hora ou até à peça, vivendo em total insegurança, nenhuma garantia e completa ausência de futuro – o que define e caracteriza a vida de um desempregado, como o Governo está farto de saber.
Foi com este pano de fundo que o primeiro-ministro José Sócrates teve, há dias, o desplante de reivindicar para o seu Governo a «criação de 130 mil novos postos de trabalho» nestes três anos de governação, chegando ao extremo de citar os seus 150 mil empregos prometidos na campanha eleitoral que lhe deu o poder para considerar que «já não falta tudo» para «concretizar a promessa»!
É evidente que José Sócrates não deu a mais leve indicação sobre o paradeiro dos tais «130 mil postos de trabalho» que o seu Governo criou assim de repente em três anos, tal como, na semana passada – como aqui mesmo nesta coluna se assinalou -, não explicou que os tais 1200 novos postos de trabalho que foi anunciar para Santo Tirso, num novo «call center»» que a PT só abrirá daqui a um ano, afinal não são «novos» e apenas correspondem ao mesmo número de trabalhadores que a PT «dispensou» nos últimos dois anos.
Em rigor, já não falta é nada para que o País veja, a entrar-lhe pelos olhos adentro, que o actual primeiro-ministro não passa de um ilusionista, mas dos maus – dos que acabam o espectáculo com todos os truques à mostra.


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