Difíceis dias de Agosto
Os dias vão maus para o telespectador que, sem se pretender muito exigente para com a TV que lhe fornecem, se esforça por não consentir que ela seja exageradamente eficaz na sua aparente vocação para reduzir ao mínimo o entendimento de quem a olha. Por vezes, liga-se o televisor, espreita-se o que vai nos quatro canais abertos a que a generalidade das -gentes tem acesso, e aquilo mete medo de tão afrontosamente medíocre que é. Dir-se-á, porventura com alguma razão, que são momentos de azar. Recordar-se-á que estamos em Agosto e que a TV desde há muito se outorgou a si própria o direito de durante o mês de Agosto descer abaixo de si própria. Fazendo-o sob o pretexto desde sempre falso e agora falsíssimo que de que, estando-se no mês de férias por excelência, todos ou quase todos os telespectadores vão a banhos ou ao oxigénio das serras, para os brasís ou para as praias das Antilhas, pelo que ficam desligados os televisores. Como se, acaso esta presunção fosse verdade, não restassem ainda muitos milhares de cidadãos condenados a ficarem em suas casas, ou tendo optado por isso, sendo até à altura de ter para com eles mais atenções e cuidados. De qualquer modo, o que de facto se verifica é que a televisão acessível à grande maioria anda agora péssima, aparentemente arrimada às transmissões e notícias de Pequim (para onde foram transferidas as doiradas expectativas que o Euro 2008 frustrou e que parece estarem agora a frustrar-se em Pequim) e pouco ou nada mais. Chegou-se ao ponto de a «2», a que tem a reputação de ser dirigida aos telespectadores que não estão por tudo, transmitir em pleno “horário nobre” uma lástima supostamente humorística. Aliás, os programas ditos humorísticos parecem ter-se multiplicado nos últimos dias, como se as estações tivessem acordado entre si anestesiar-nos com larachas ou aderido ao princípio enganoso de que «rir é o melhor remédio». O que, mais uma vez, é falso: o melhor remédio é começar por pensar e depois agir
O vírus
Perante isto, o telespectador que quer mesmo ver televisão ou que a isso está condenado procura, naturalmente, e melhor sorte entre os canais da distribuídos por cabo, ainda que portugueses. Foi assim que um dia destes foi possível encontrar no SIC-Notícias uma reportagem da BBC sobre uma seita que se reclama do anglicanismo, como aliás tantas outras, dirigida por um sujeito de origem nigeriana que se assume como bispo, o que também é costume em casos destes e similares. O que mais importa neste caso é que a sua doutrina assenta numa interpretação literal dos textos bíblicos, designadamente dos que integram o Antigo Testamento, pelo que sustentam que o mundo foi mesmo criado em seis dias com um sétimo para descanso e que a espécie humana e outra bicheza saíram das mãos do Criador tal qual como existem hoje, o que implica a rejeição do Evolucionismo e demais visões científicas do mundo e da vida. A coisa até parece não ter importância de maior, mas acontece que esta mesma rejeição do Evolucionismo, por troca pela aceitação total do chamado Criacionismo, domina de tal modo os actuais Estados Unidos que o seu ensino está proibido em muitos estados norte-americanos e é perseguido noutros, estando ligado a outras formas de fundamentalismo supostamente religioso. Na verdade, uma vaga de aparente fervor religioso percorre desde há décadas o mais poderoso estado do Ocidente e, como se sabe, o seu actual presidente não lhe é alheio, de tal modo que por mais de uma vez ornamentou com as aparências de um espírito de cruzada os destemperos de natureza militar e imperialista a que se entregou e que infligiu ao mundo. De facto, parece haver nisto uma espécie de estratégia: começa-se nas milenares páginas do antigo Testamento, faz-se escala por uma sua interpretação que ignora as circunstâncias em que foram escritas e o carácter simbólico de muitas delas, e fica-se à vontade para acções verdadeiramente anticivilizacionais. Que esta espécie de vírus mental tenha atingido um tal grau de disseminação no estado que lidera o Ocidente, que a cabecinha do presidente Bush pareça tão semelhante à cabecinha de um bispo obscuro que lidera uma seita obscurantista, não pode deixar de ser preocupante. Até porque, lá mais para o Outono, o presidente vai-se embora, mas o vírus parece ter todas as condições para ficar.
O vírus
Perante isto, o telespectador que quer mesmo ver televisão ou que a isso está condenado procura, naturalmente, e melhor sorte entre os canais da distribuídos por cabo, ainda que portugueses. Foi assim que um dia destes foi possível encontrar no SIC-Notícias uma reportagem da BBC sobre uma seita que se reclama do anglicanismo, como aliás tantas outras, dirigida por um sujeito de origem nigeriana que se assume como bispo, o que também é costume em casos destes e similares. O que mais importa neste caso é que a sua doutrina assenta numa interpretação literal dos textos bíblicos, designadamente dos que integram o Antigo Testamento, pelo que sustentam que o mundo foi mesmo criado em seis dias com um sétimo para descanso e que a espécie humana e outra bicheza saíram das mãos do Criador tal qual como existem hoje, o que implica a rejeição do Evolucionismo e demais visões científicas do mundo e da vida. A coisa até parece não ter importância de maior, mas acontece que esta mesma rejeição do Evolucionismo, por troca pela aceitação total do chamado Criacionismo, domina de tal modo os actuais Estados Unidos que o seu ensino está proibido em muitos estados norte-americanos e é perseguido noutros, estando ligado a outras formas de fundamentalismo supostamente religioso. Na verdade, uma vaga de aparente fervor religioso percorre desde há décadas o mais poderoso estado do Ocidente e, como se sabe, o seu actual presidente não lhe é alheio, de tal modo que por mais de uma vez ornamentou com as aparências de um espírito de cruzada os destemperos de natureza militar e imperialista a que se entregou e que infligiu ao mundo. De facto, parece haver nisto uma espécie de estratégia: começa-se nas milenares páginas do antigo Testamento, faz-se escala por uma sua interpretação que ignora as circunstâncias em que foram escritas e o carácter simbólico de muitas delas, e fica-se à vontade para acções verdadeiramente anticivilizacionais. Que esta espécie de vírus mental tenha atingido um tal grau de disseminação no estado que lidera o Ocidente, que a cabecinha do presidente Bush pareça tão semelhante à cabecinha de um bispo obscuro que lidera uma seita obscurantista, não pode deixar de ser preocupante. Até porque, lá mais para o Outono, o presidente vai-se embora, mas o vírus parece ter todas as condições para ficar.