Educação física, nova escola e desporto popular (I)
As consequências das perspectivas que desvalorizam a educação física e segmentam a vida escolar do aluno valorizando a teoria em detrimento da prática, são decisivas para todo o sistema de ensino e altamente prejudiciais para a vida do aluno. Uma outra consequência refere-se à formação dos professores em que se mantém a tendência em reduzi-la à transmissão de técnicas de ensino, em detrimento de uma visão educativa global que coloque no centro do processo formativo as necessidades da criança (presentes e futuras). Trata-se de uma antiquíssima concepção em que predomina a visão não unitária do processo educativo pois, mesmo quando se referem os aspectos cognitivos, afectivos e sociais, isto é feito de forma segmentada e não integrada, incitando, de facto, os educadores a «desmembrar» a criança e, portanto, a reproduzir o insucesso.
Para compreender esta situação é bom não esquecer que a escola que temos continua a ser reprodutora das desigualdades sociais, assumindo um carácter segregativo, tendo como pano de fundo uma realidade social em que o desemprego, a marginalização e a exclusão sociais, não só se mantêm, como se acentuam.
Em termos de formulação de perspectivas globais há muito que se defrontam duas teses opostas que se podem sintetizar da seguinte forma:
- A escola e em geral a educação, libertam o indivíduo das limitações (por ex: dos obstáculos sociais). A educação é, assim, o factor de «libertação» social por excelência, através da escola. É a tese da escola libertadora ou da «utopia pedagógica»;
- A escola, na sociedade capitalista é uma «escola capitalista», portanto um «aparelho ideológico do Estado» que tem por função reproduzir as relações sociais. É a tese da conservação social através da escola ou do «fatalismo» da reprodução dos valores dominantes.
Na realidade, ambas as teses possuem aspectos que devem ser bem conhecidos, mas não traduzem uma visão realmente integradora daquilo que se passa nas relações da escola com a sociedade. A pedagogia como processo de teorização da educação, e a própria prática educativa nunca são neutras, isto é, não estão libertas das concepções e interesses dominantes. Mas tem de se reconhecer que ambas reinterpretam as condições sociais e políticas em que mergulham, de acordo com as normas que lhe são próprias podendo contribuir para a liquidação da enorme mistificação representada pela ideologia da igualdade de oportunidades.
Desta forma o que é preciso compreender é que nem a escola está integralmente submetida ao poder dominante, nem é inteiramente independente e capaz de, por si só, constituir um factor de libertação. Reproduzindo no seu interior as desigualdades sociais, possui uma margem de manobra que os educadores e os pais podem aproveitar numa tarefa de luta contra os atrasos, as desigualdades, e todas as formas de exclusão escolar.
Para a educação física esta perspectiva assume uma importância especial na medida em que permite que o esforço da sua implantação escolar integre a luta por uma escola que se coloque ao serviço de todos, visando responder, de forma efectiva, ao desenvolvimento pleno das aptidões da criança e do jovem.
A «crise» da educação física e do desporto escolar mais não são do que aspectos específicos da «crise» da escola. Esta, por sua vez, mais não é do que a transposição para o meio escolar do conjunto de contradições que caracterizam o mundo actual e que estruturam a «crise» social global.
Centrar o problema da educação física no quadro específico da própria «disciplina» é fechá-la num círculo hermético de que não há saída possível. No fundo consiste em cometer um erro semelhante aquele que considera o insucesso escolar tendo origem exclusivamente no professor e no próprio aluno. A escola surge desta forma, desenraizada daquilo que a cerca e na qual se integra inevitavelmente, e que condiciona intensamente a sua acção.
Na verdade o problema da educação física (ou da expressão motora, ou da educação pelo movimento, etc. e como se quiser) não é separável da problemática global em que, no presente, se assumem posições políticas evidentes que, afinal, fazem reviver as lutas antigas travadas em torno da escola em vários países europeus, visando contribuir para a construção de uma nova sociedade mais justa, com uma democracia que não se reduzisse exclusivamente ao seu aspecto político, mas integrasse também os aspectos sociais, culturais e económicas. Só neste quadro se pode compreender a autêntica espoliação a que foram submetidos os filhos da classe operária, geração após geração, em que a escola se limitou ao ler, escrever e contar, repudiando o «resto» de uma acção formativa que, no entanto, é essencial para o desenvolvimento pleno do ser em crescimento.
Por outro lado, também se deve seguir idêntica perspectiva ao pensar num «desporto popular» que não possui a sua raiz essencial na própria educação física (ou expressão motora… etc.) no 1.º ciclo do ensino, pura e simplesmente porque a Nação, através do seu Ministério da Educação negaram valor e importância a esta «disciplina» e a tornaram inviável. Facto que, como bem se sabe, continua a verificar-se.
Para compreender esta situação é bom não esquecer que a escola que temos continua a ser reprodutora das desigualdades sociais, assumindo um carácter segregativo, tendo como pano de fundo uma realidade social em que o desemprego, a marginalização e a exclusão sociais, não só se mantêm, como se acentuam.
Em termos de formulação de perspectivas globais há muito que se defrontam duas teses opostas que se podem sintetizar da seguinte forma:
- A escola e em geral a educação, libertam o indivíduo das limitações (por ex: dos obstáculos sociais). A educação é, assim, o factor de «libertação» social por excelência, através da escola. É a tese da escola libertadora ou da «utopia pedagógica»;
- A escola, na sociedade capitalista é uma «escola capitalista», portanto um «aparelho ideológico do Estado» que tem por função reproduzir as relações sociais. É a tese da conservação social através da escola ou do «fatalismo» da reprodução dos valores dominantes.
Na realidade, ambas as teses possuem aspectos que devem ser bem conhecidos, mas não traduzem uma visão realmente integradora daquilo que se passa nas relações da escola com a sociedade. A pedagogia como processo de teorização da educação, e a própria prática educativa nunca são neutras, isto é, não estão libertas das concepções e interesses dominantes. Mas tem de se reconhecer que ambas reinterpretam as condições sociais e políticas em que mergulham, de acordo com as normas que lhe são próprias podendo contribuir para a liquidação da enorme mistificação representada pela ideologia da igualdade de oportunidades.
Desta forma o que é preciso compreender é que nem a escola está integralmente submetida ao poder dominante, nem é inteiramente independente e capaz de, por si só, constituir um factor de libertação. Reproduzindo no seu interior as desigualdades sociais, possui uma margem de manobra que os educadores e os pais podem aproveitar numa tarefa de luta contra os atrasos, as desigualdades, e todas as formas de exclusão escolar.
Para a educação física esta perspectiva assume uma importância especial na medida em que permite que o esforço da sua implantação escolar integre a luta por uma escola que se coloque ao serviço de todos, visando responder, de forma efectiva, ao desenvolvimento pleno das aptidões da criança e do jovem.
A «crise» da educação física e do desporto escolar mais não são do que aspectos específicos da «crise» da escola. Esta, por sua vez, mais não é do que a transposição para o meio escolar do conjunto de contradições que caracterizam o mundo actual e que estruturam a «crise» social global.
Centrar o problema da educação física no quadro específico da própria «disciplina» é fechá-la num círculo hermético de que não há saída possível. No fundo consiste em cometer um erro semelhante aquele que considera o insucesso escolar tendo origem exclusivamente no professor e no próprio aluno. A escola surge desta forma, desenraizada daquilo que a cerca e na qual se integra inevitavelmente, e que condiciona intensamente a sua acção.
Na verdade o problema da educação física (ou da expressão motora, ou da educação pelo movimento, etc. e como se quiser) não é separável da problemática global em que, no presente, se assumem posições políticas evidentes que, afinal, fazem reviver as lutas antigas travadas em torno da escola em vários países europeus, visando contribuir para a construção de uma nova sociedade mais justa, com uma democracia que não se reduzisse exclusivamente ao seu aspecto político, mas integrasse também os aspectos sociais, culturais e económicas. Só neste quadro se pode compreender a autêntica espoliação a que foram submetidos os filhos da classe operária, geração após geração, em que a escola se limitou ao ler, escrever e contar, repudiando o «resto» de uma acção formativa que, no entanto, é essencial para o desenvolvimento pleno do ser em crescimento.
Por outro lado, também se deve seguir idêntica perspectiva ao pensar num «desporto popular» que não possui a sua raiz essencial na própria educação física (ou expressão motora… etc.) no 1.º ciclo do ensino, pura e simplesmente porque a Nação, através do seu Ministério da Educação negaram valor e importância a esta «disciplina» e a tornaram inviável. Facto que, como bem se sabe, continua a verificar-se.