A omissão
Estava uma boa tarde de Verão temperada por um ventinho que apaziguava o calor, havia o café na mesa da esplanada, um ribeiro fazia correr lá o fundo a água que a seca ainda lhe permitia, tudo estava enfim saboroso e amável quando surgiu o Fernando para completar o excelente conjunto. Mas cedo me dei conta de que o Fernando vinha um pouco tristonho, que um desgosto qualquer lhe mordiscava a alegria possível. E ele contou. É que o incomodava que o grupo parlamentar do nosso Partido se tivesse recusado a votar a moção, apresentada inicialmente pelo PS e depois subscrita por outros partidos, formalizando o regozijo pela libertação de Ingrid Betancourt e outros. O camarada Fernando conhece bem o Partido, conhece-o muito para lá do véu de calúnias e desinformações que constantemente é lançado para se interpor entre a realidade do PCP e a chamada opinião pública, e o seu conhecimento levava-o a estranhar, a sentir-se desconfortado perante a suposta indiferença dos deputados comunistas perante a libertação de uma mulher que nem sequer é culpada de malfeitorias conhecidas, que até estava muito malzinha da saúde (embora, como abundantemente se viu nas imagens divulgadas pela imprensa e pela TV, a mudança de ares lhe tenha produzido melhoras espectaculares, felizmente). Escusado será dizer que o camarada Fernando estava informado pela imprensa de referência, que bem se sabe ser de toda a confiança, e pelos canais abertos da nossa televisão. Nuns e noutros tinha aprendido que os comunistas da A.R. tinham recusado juntar o seu voto aos votos congratulatórios dos restantes deputados. Os democráticos, como também se sabe. E ponto final: nada mais lhe havia sido ensinado sobre o assunto, nada mais ele aprendera. Se houvera alguma fonte de informação que tivesse acrescentado outros dados à notícia, esse complemento tinha sido suficientemente raro e minoritário para que não tivesse atingido o Fernando. E ali estava ele, tristonho, a contrariar a luminosidade da tarde de domingo.
Uma questão de hábito
Felizmente, sobretudo por razões semiprofissionais mas não apenas por elas, tenho o hábito de procurar o canal exclusivo que a A.R. mantém entre os distribuídos por cabo e aí assistir não apenas aos debates havidos no plenário mas também a sessões das comissões especializadas. Entre as várias vantagens que desse hábito recolho, e a par de alguns tempos fastidiosos que são uma espécie de tributo que o gosto por estar correctamente informado paga à alegria de viver, conta-se a vantagem de conhecer muitas intervenções de deputados comunistas a que, pelos vistos, a generalidade dos media não reconhece interesse jornalístico e, por isso, nem de longe são divulgados pela TV generalista ou pela tal imprensa. Neste caso, foi graças ao meu referido hábito que pude saber que o grupo parlamentar do Partido Comunista Português apresentara à Assembleia um texto em que não só dava conta da alegria que a libertação dos reféns lhe suscitara, mas também denunciava as responsabilidades do governo colombiano na trágica situação existente no país, lembrava os numerosos e terríveis crimes a seu mando cometidos contra o povo colombiano e formulava votos para que a estas libertações se sigam negociações visando alcançar a paz e um regime verdadeiramente democrático na Colômbia. Tratava-se, pois, de um texto (que aliás cito de cor e nos seus principais aspectos) equilibrado, imparcial, impregnado do desejo de ver a paz chegar finalmente à Colômbia, digno. Mas que foi rejeitado pelos restantes grupos parlamentares e, depois, geralmente ocultado à opinião pública pela comunicação social dominante. Felizmente, o acaso conduzira o Fernando à mesa onde tomava o meu solitário café e por isso tive oportunidade de combater, mediante uma informação mais completa, a melancolia que lhe toldava a tarde. Mas ele era apenas um e os meus camaradas são milhares. Sendo minha convicção que poucos deles têm o hábito de espreitar regularmente o canal da A.R. distribuído por cabo.
Uma questão de hábito
Felizmente, sobretudo por razões semiprofissionais mas não apenas por elas, tenho o hábito de procurar o canal exclusivo que a A.R. mantém entre os distribuídos por cabo e aí assistir não apenas aos debates havidos no plenário mas também a sessões das comissões especializadas. Entre as várias vantagens que desse hábito recolho, e a par de alguns tempos fastidiosos que são uma espécie de tributo que o gosto por estar correctamente informado paga à alegria de viver, conta-se a vantagem de conhecer muitas intervenções de deputados comunistas a que, pelos vistos, a generalidade dos media não reconhece interesse jornalístico e, por isso, nem de longe são divulgados pela TV generalista ou pela tal imprensa. Neste caso, foi graças ao meu referido hábito que pude saber que o grupo parlamentar do Partido Comunista Português apresentara à Assembleia um texto em que não só dava conta da alegria que a libertação dos reféns lhe suscitara, mas também denunciava as responsabilidades do governo colombiano na trágica situação existente no país, lembrava os numerosos e terríveis crimes a seu mando cometidos contra o povo colombiano e formulava votos para que a estas libertações se sigam negociações visando alcançar a paz e um regime verdadeiramente democrático na Colômbia. Tratava-se, pois, de um texto (que aliás cito de cor e nos seus principais aspectos) equilibrado, imparcial, impregnado do desejo de ver a paz chegar finalmente à Colômbia, digno. Mas que foi rejeitado pelos restantes grupos parlamentares e, depois, geralmente ocultado à opinião pública pela comunicação social dominante. Felizmente, o acaso conduzira o Fernando à mesa onde tomava o meu solitário café e por isso tive oportunidade de combater, mediante uma informação mais completa, a melancolia que lhe toldava a tarde. Mas ele era apenas um e os meus camaradas são milhares. Sendo minha convicção que poucos deles têm o hábito de espreitar regularmente o canal da A.R. distribuído por cabo.