Mais perto dos militantes
No bairro de Miratejo, no concelho do Seixal, o PCP tem uma Comissão Local. Criada há mais de dez anos para responder às especificidades daquele bairro, é hoje praticamente autónoma da organização de freguesia.
Todas as semanas surgem novas transferências e recrutamentos
Miratejo é um dos grandes bairros que compõem a freguesia de Corroios, no concelho do Seixal. Regularmente, partem e chegam autocarros de Lisboa, Cacilhas, Almada e, mais espaçadamente, do Seixal. Mas nenhum liga o bairro ao resto da freguesia.
Desde que existe o comboio da ponte que há um autocarro que liga o Miratejo à estação ferroviária de Corroios. Mas como o passe social não é aceite nesse transporte, pouca gente que não seja utente do comboio o utiliza. Assim, para ir do Miratejo até ao centro da freguesia e voltar é necessário apanhar quatro transportes, o que custa muito tempo – e dinheiro. Por tudo isto, eram poucos os militantes do bairro que reuniam no Centro de Trabalho de Corroios, localizado no coração da freguesia, em plena Estrada Nacional 10.
Para Domingas Gonçalves, responsável pela Comissão Local, esta foi a principal razão que esteve na base da sua criação, há mais de dez anos. A dimensão do bairro, com mais de 12 mil eleitores, terá sido outro dos motivos.
«Criámos a Comissão Local para nos organizarmos melhor», afirma. E, ao longo dos anos, com altos e baixos, esta nunca deixou de funcionar. «Reunimos lá e cobramos as nossas próprias quotas. Passámos a trabalhar autonomamente», explicou. A ligação à Comissão de Freguesia de Corroios é assegurada por três membros da Comissão Local, participantes também naquele organismo, que reúne mensalmente. Domingas é uma delas.
Em tempos, chegou a pensar-se em encontrar um Centro de Trabalho para o Partido no bairro. «Falava-se da hipótese de Miratejo poder vir a ser uma freguesia», lembra Domingas Gonçalves. Mas não havia condições para realizar esse sonho. As reuniões e plenários são feitos nas instalações do Clube Recreativo local.
Foi precisamente aí onde, no dia 5 de Abril, se realizou a III Assembleia da organização do PCP no bairro de Miratejo. Na ocasião, foi eleita uma nova Comissão Local, com seis elementos, mais um do que a anterior. Nessa assembleia, conta Domingas Gonçalves, «discutimos sobre como nos devemos organizar melhor. Há muita gente a chegar e temos de contactar todos os militantes».
Muita gente a chegar
Nos últimos tempos, a organização local de Miratejo tem vindo a crescer. Todas as semanas, conta Domingas Gonçalves, chegam novas transferências. Muitos militantes que estavam organizados por local de trabalho, saíram das empresas, por reforma ou despedimento, e integram agora a organização do bairro.
Um desses militantes, que esteve vários anos afastado da actividade do Partido, desde que saiu da empresa onde trabalhava, começou a participar nas reuniões públicas da Comissão de Utentes da Saúde de Corroios. Desta comissão unitária, onde participavam comunistas, gente sem partido e militantes de outros partidos, também fazia parte Domingas Gonçalves. «Depois de algumas reuniões, percebeu quem eu era e identificou-se. Agora está muito activo e faz parte da Comissão Local», lembra a responsável.
Também as novas entradas se sucedem. Da Concelhia do Seixal chega regularmente a informação de novos militantes do bairro, que entraram para o Partido através das fichas de contacto incluídas nos comunicados distribuídos à população ou recrutados na Festa do Avante!.
A reestruturação do Partido na freguesia também acrescentou militantes à organização. Os comunistas da localidade da Quinta do Brasileiro/ Rouxinol, que antes funcionavam autonomamente, passaram a integrar a organização do Partido em Miratejo.
Para além dos recrutamentos e das transferências, muitos outros militantes do Partido nunca deixaram de estar ali organizados e outros foram «recuperados» durante a campanha de contactos. Quase todos pagam a sua quota e o nível da quotização era, pelo menos até há pouco tempo, o mais elevado da freguesia, afirma Domingas, com orgulho.
Mas nem tudo está bem. Se «até tem sido fácil» trazer gente nova para o Partido e pô-los a pagar quotas, mais difícil é pôr militantes a assumir tarefas, lamenta: «Já fizemos mais iniciativas do que fazemos agora.»
Insatisfação à parte, a Comissão Local de Miratejo parece ser um exemplo a seguir em Corroios. Noutro grande bairro da freguesia, Vale de Milhaços, também já existe uma Comissão Local. E no novo bairro de Santa Marta do Pinhal está definido o objectivo de criar uma ainda este ano.
Fama do bairro é exagerada
Há 38 anos a viver na freguesia de Corroios, Domingas Gonçalves mudou-se para Miratejo há 14. Em sua opinião, é exagerado o que dizem do bairro: «nestes anos todos, nunca tive quaisquer problemas e muitas vezes, quando venho das reuniões do Partido, chego tarde a casa.»
Que os problemas existem Domingas não nega. Miratejo «tem uma forte componente de bairro social e há também o mercado da droga, que é o que estraga a juventude». Mas os traficantes não são jovens, realça a militante comunista.
Para Domingas Gonçalves, aquilo que mais caracteriza o bairro de Miratejo é a sua forte componente multi-racial. «Há gente de todo o lado», conta. Aos africanos e aos ciganos, têm-se vindo a juntar em grande número os brasileiros. Também são já muitos os chineses, árabes, indianos e paquistaneses, assim como gente proveniente dos países do Leste da Europa.
Outra característica de Miratejo é a sua actividade associativa. Existe uma associação de reformados, que presta apoio domiciliário aos idosos mais carenciados, e uma outra associação que tem um serviço de tempos livres para as crianças e amas. Há vários desportos nas duas colectividades, o Clube Recreativo de Miratejo e o Clube Brasileiro/ Rouxinol. O movimento associativo juvenil é também bastante rico e diversificado, com grupos que intervêm em áreas tão diversas como o ambiente ou a informática.
As comunidades imigrantes também se envolvem nesta intensa vida associativa. Há dois anos, lembra Domingas, houve umas festas no bairro, em que cada associação e colectividade participou com aquilo que tinha.
Para encurtar as distâncias que existem entre o bairro e o centro da freguesia, funciona em Miratejo uma delegação da Junta de Freguesia e uma loja do munícipe, para além da Oficina da Juventude.
Apesar dos problemas, Domingas Gonçalves não faria o que muitos antigos vizinhos fizeram: «eu não me mudava. Miratejo tem muitos espaços verdes, muitos dos bairros novos não.»
Desde que existe o comboio da ponte que há um autocarro que liga o Miratejo à estação ferroviária de Corroios. Mas como o passe social não é aceite nesse transporte, pouca gente que não seja utente do comboio o utiliza. Assim, para ir do Miratejo até ao centro da freguesia e voltar é necessário apanhar quatro transportes, o que custa muito tempo – e dinheiro. Por tudo isto, eram poucos os militantes do bairro que reuniam no Centro de Trabalho de Corroios, localizado no coração da freguesia, em plena Estrada Nacional 10.
Para Domingas Gonçalves, responsável pela Comissão Local, esta foi a principal razão que esteve na base da sua criação, há mais de dez anos. A dimensão do bairro, com mais de 12 mil eleitores, terá sido outro dos motivos.
«Criámos a Comissão Local para nos organizarmos melhor», afirma. E, ao longo dos anos, com altos e baixos, esta nunca deixou de funcionar. «Reunimos lá e cobramos as nossas próprias quotas. Passámos a trabalhar autonomamente», explicou. A ligação à Comissão de Freguesia de Corroios é assegurada por três membros da Comissão Local, participantes também naquele organismo, que reúne mensalmente. Domingas é uma delas.
Em tempos, chegou a pensar-se em encontrar um Centro de Trabalho para o Partido no bairro. «Falava-se da hipótese de Miratejo poder vir a ser uma freguesia», lembra Domingas Gonçalves. Mas não havia condições para realizar esse sonho. As reuniões e plenários são feitos nas instalações do Clube Recreativo local.
Foi precisamente aí onde, no dia 5 de Abril, se realizou a III Assembleia da organização do PCP no bairro de Miratejo. Na ocasião, foi eleita uma nova Comissão Local, com seis elementos, mais um do que a anterior. Nessa assembleia, conta Domingas Gonçalves, «discutimos sobre como nos devemos organizar melhor. Há muita gente a chegar e temos de contactar todos os militantes».
Muita gente a chegar
Nos últimos tempos, a organização local de Miratejo tem vindo a crescer. Todas as semanas, conta Domingas Gonçalves, chegam novas transferências. Muitos militantes que estavam organizados por local de trabalho, saíram das empresas, por reforma ou despedimento, e integram agora a organização do bairro.
Um desses militantes, que esteve vários anos afastado da actividade do Partido, desde que saiu da empresa onde trabalhava, começou a participar nas reuniões públicas da Comissão de Utentes da Saúde de Corroios. Desta comissão unitária, onde participavam comunistas, gente sem partido e militantes de outros partidos, também fazia parte Domingas Gonçalves. «Depois de algumas reuniões, percebeu quem eu era e identificou-se. Agora está muito activo e faz parte da Comissão Local», lembra a responsável.
Também as novas entradas se sucedem. Da Concelhia do Seixal chega regularmente a informação de novos militantes do bairro, que entraram para o Partido através das fichas de contacto incluídas nos comunicados distribuídos à população ou recrutados na Festa do Avante!.
A reestruturação do Partido na freguesia também acrescentou militantes à organização. Os comunistas da localidade da Quinta do Brasileiro/ Rouxinol, que antes funcionavam autonomamente, passaram a integrar a organização do Partido em Miratejo.
Para além dos recrutamentos e das transferências, muitos outros militantes do Partido nunca deixaram de estar ali organizados e outros foram «recuperados» durante a campanha de contactos. Quase todos pagam a sua quota e o nível da quotização era, pelo menos até há pouco tempo, o mais elevado da freguesia, afirma Domingas, com orgulho.
Mas nem tudo está bem. Se «até tem sido fácil» trazer gente nova para o Partido e pô-los a pagar quotas, mais difícil é pôr militantes a assumir tarefas, lamenta: «Já fizemos mais iniciativas do que fazemos agora.»
Insatisfação à parte, a Comissão Local de Miratejo parece ser um exemplo a seguir em Corroios. Noutro grande bairro da freguesia, Vale de Milhaços, também já existe uma Comissão Local. E no novo bairro de Santa Marta do Pinhal está definido o objectivo de criar uma ainda este ano.
Fama do bairro é exagerada
Há 38 anos a viver na freguesia de Corroios, Domingas Gonçalves mudou-se para Miratejo há 14. Em sua opinião, é exagerado o que dizem do bairro: «nestes anos todos, nunca tive quaisquer problemas e muitas vezes, quando venho das reuniões do Partido, chego tarde a casa.»
Que os problemas existem Domingas não nega. Miratejo «tem uma forte componente de bairro social e há também o mercado da droga, que é o que estraga a juventude». Mas os traficantes não são jovens, realça a militante comunista.
Para Domingas Gonçalves, aquilo que mais caracteriza o bairro de Miratejo é a sua forte componente multi-racial. «Há gente de todo o lado», conta. Aos africanos e aos ciganos, têm-se vindo a juntar em grande número os brasileiros. Também são já muitos os chineses, árabes, indianos e paquistaneses, assim como gente proveniente dos países do Leste da Europa.
Outra característica de Miratejo é a sua actividade associativa. Existe uma associação de reformados, que presta apoio domiciliário aos idosos mais carenciados, e uma outra associação que tem um serviço de tempos livres para as crianças e amas. Há vários desportos nas duas colectividades, o Clube Recreativo de Miratejo e o Clube Brasileiro/ Rouxinol. O movimento associativo juvenil é também bastante rico e diversificado, com grupos que intervêm em áreas tão diversas como o ambiente ou a informática.
As comunidades imigrantes também se envolvem nesta intensa vida associativa. Há dois anos, lembra Domingas, houve umas festas no bairro, em que cada associação e colectividade participou com aquilo que tinha.
Para encurtar as distâncias que existem entre o bairro e o centro da freguesia, funciona em Miratejo uma delegação da Junta de Freguesia e uma loja do munícipe, para além da Oficina da Juventude.
Apesar dos problemas, Domingas Gonçalves não faria o que muitos antigos vizinhos fizeram: «eu não me mudava. Miratejo tem muitos espaços verdes, muitos dos bairros novos não.»