Coitadinho!

João Frazão
José Miguel Júdice, ex-militante do PSD, figura tutelar da direita portuguesa, eminência parda das políticas de direitas que, quer o PS, quer o PSD têm promovido, indigitado Presidente, há um ano, de uma empresa especial para gerir a renovação de toda a frente ribeirinha de Lisboa, uma das caras mais conhecidas das grandes sociedades de advogados, deu, esta semana uma entrevista à TSF.
Tem sempre muito interesse ouvir quem sabe das coisas, quem circula nos corredores do poder, sempre sem se fazer notar, pois por vezes têm destas tiradas clarividente.
Diz Júdice que «é importante que os partidos sejam diferentes». Isto a culminar uma explicação muito clara de que PS e PSD são completamente iguais, que, de facto, em Portugal, existem «dois partidos social-democratas a defender as mesmas soluções», em função da guinada à direita do PS. Foi mais longe, dizendo mesmo que era melhor que se fundissem. Já se cá sabia. Sempre temos dito que não são mais que as duas faces da mesma moeda.
Claro está que para Júdice, o problema não é não haver oposição. O que lhe dói é que não se consiga garantir a aparência de que à direita alguém se opõe a esta política.
O que custa a Júdice é que, perante esta política anti-social e de declínio nacional, fique cada vez mais claro aos trabalhadores e ao Povo que a única força de oposição nas palavras e nas acções é o PCP. Mas isso, também já se cá sabia.
O que não se sabia era da vida depauperada de Júdice.
O também sócio minoritário de uma empresa de hotelaria, informou na mesma entrevista que, com esta nomeação, vai ganhar menos dinheiro. E, fazendo o papel de quem se senta à mesa do orçamento com o ar enfastiado que lhe impõe uma dieta rigorosa, assinalou que, face ao convite que o Primeiro Ministro lhe fez, aceitou com sacrifício submeter-se ao esforço de, nada ganhando, dedicar menos tempo aos seus clientes, utilizando quatro horas do seu precioso tempo a cuidar da cidade.
Uma vez mais desenvolveu e disse que tem pouco dinheiro, que vive com pouco dinheiro e gasta pouco dinheiro.
Ficámos tocados e sensibilizados. Reconhecemos o pendor de entrega à causa pública, que sempre nortearam a sua actuação, e que justificam o ultimato que fez ao Governo para ser nomeado, para a tal empresa.
È por isso que, conhecedores das dificuldades por que passa a maioria dos portugueses com as políticas de direita que Júdice patrocina, decidimos abrir uma subscrição em www.ajudemojudice.fazfavor para que ele, altruisticamente, possa continuar a dar-se aos outros.


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