Protestos abalam a Grécia

Um dia após a aprovação da reforma das pensões pela escassa maioria de direita que governa o país, os principais sindicatos anunciaram o prosseguimento dos protestos, com novas greves e manifestações.

Sindicatos prometem novas mobilizações até à revogação da lei

Insensível às fortíssimas movimentações sociais que, desde Dezembro último, se fazem sentir em praticamente todos os sectores de actividade, a maioria conservadora que suporta o governo de Costas Caramanlis aprovou sozinha, dia 20, a polémica reforma dos regimes de pensões.
A lei passou à justa no parlamento, recolhendo 151 votos a favor num total de 300 deputados. Os socialistas abstiveram-se e a restante oposição de esquerda votou contra. Lá fora, uma multidão de manifestantes que exigiam a retirada do projecto de lei insistiram em cercar o edifico do parlamento.
A greve geral realizada na véspera por milhões de trabalhadores foi prosseguida, no dia da votação, em numerosos sectores de actividade. Na capital, Atenas, que acabara de assistir à maior manifestação realizada nos últimos 30 anos com mais de cem mil pessoas a desfilar pelas suas ruas, permaneciam visíveis as marcas dos incessantes protestos e paralisações que abalaram o país desde o início do mês.
O lixo acumulado na via pública, as portas encerradas de repartições e serviços públicos, os sucessivos cortes de energia, a falta de transportes públicos, ou ausência de jornais e revistas à venda nos quiosques eram sinais evidentes de que a luta continuava no dia seguinte da greve geral.
Nesta que foi a terceira paralisação nacional desde Dezembro, centenas de voos internacionais e nacionais foram cancelados ou atrasados devido à adesão à greve dos controladores aéreos. Não houve transportes públicos, à excepção do metropolitano de Atenas que abriu para permitir a deslocação dos manifestantes, os barcos e os comboios não funcionaram. Escolas, bancos, tribunais e a generalidade das instituições públicas estiveram encerrados.
A adesão maciça ao protesto confirmou as conclusões de alguns estudos de opinião, segundo os quais, 71 por cento dos gregos opõem-se à reforma do sistema de pensões.
Tentando navegar neste oceano de protestos, os socialistas do PASOK afirmam que estão a tentar reunir 180 deputados para submeter a nova a lei a referendo popular.
Em plena manifestação, o seu líder, George Papandreou, exigiu «um sistema de pensões justo» e acusou o governo de destruir «o direito mais básico», enquanto continua a permitir reduções nos impostos aos mais ricos e benefícios às grandes empresas. «É inadmissível. Lutamos e esperamos ganhar esta luta por uma Grécia muito melhor e mais segura», disse Papandreou.

Uma reforma
imposta pela UE


Por seu lado, o governo do conservador Costas Caramanlis alega que a reforma é indispensável e, que sem ela, o sistema de segurança social entrará em colapso dentro de 15 anos. De tanto ser utilizado indistintamente pelos vários governos da União Europeia, o argumento há muito que é conhecido dos trabalhadores gregos. Estes sabem também que desde há anos que as instâncias económicas internacionais, como o FMI ou a OCDE fazem coro com Bruxelas sobre a urgência da redução dos direitos de reforma.
Reeleito em Setembro, Caramanlis fez desta orientação o caderno de encargos do seu governo, mostrando-se determinado a concluí-lo contra tudo e todos.
Mas, apesar de ter conseguido aprovar o conteúdo fundamental da lei, a maioria governamental foi obrigada a fazer algumas concessões já em pleno debate parlamentar. A ministra do Emprego, Fany Pétralia, aceitou retirar a disposição que fixava para as reformas antecipadas um limite de 58 anos e 37 anos de contribuições. Para mais tarde ficou também a revisão da lista de profissões «penosas e insalubres», mantendo a possibilidade de reformas antecipadas numa lista de 537 profissões que abrangem 32 por cento da população activa. Por fim, o governo absteve-se de restringir as condições de atribuição de pensões por invalidez.
Não obstante estas «concessões», a lei aprovada reduz de 133 para 13 os regimes diferenciados de pensões, o que implica o nivelamento por baixo das condições e a retirada de direitos (aqui também apelidados de «privilégios injustos») a muito milhões de trabalhadores.
Por outro lado o cálculo das reformas antecipadas é alterado reduzindo-se os respectivos montantes e são dados «estímulos» a quem trabalhar para além dos 65 anos (mais 3,3% por ano).


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