Greve no sector automóvel dos EUA

Trabalhadores firmes na luta

Bryan G. Pheifer
Mais de 3600 trabalhadores do sector automóvel afectos à Union Auto Workers (UAW) estão em greve, desde 26 de Fevereiro, em quatro fábricas no Michigan e Nova Iorque.

Em três anos a American Axle reduziu para metade o número de postos de trabalho nos EUA

A paralisação nas unidades produtivas da American Axle tem como objectivo lutar contra a imposição de cortes salariais por parte da empresa, que pretende reduzir de 24 para 14 dólares o valor da remuneração por hora, e a retirada de direitos como a assistência médica e o pagamento de pensões dos vínculos dos trabalhadores no activo. O UAW e o patronato interromperam as negociações no passado dia 9 de Março.
Os referidos cortes representam a continuação do assalto aos salários e benefícios imposto aos operários da Delphi, General Motors, Ford e Chrysler. Na Delphi e nas três gigantes construtoras automóveis, os cortes maciços nos salários visavam no imediato os novos contratados, mantendo os trabalhadores as actuais garantias e remunerações. Pelo contrário, na American Axle, os 3600 funcionários enfrentam desde já cortes superiores a 50 por cento nos salários e regalias.
O resultado desta luta vai determinar a que velocidade a diminuição de 10 dólares na remuneração por hora vai ser implementada para toda a força de trabalho do sector automóvel. Os «três grandes», ou pelo menos a GM e a Chrysler, nunca especificaram quantos dos actuais trabalhadores serão definidos como não-qualificados e, por isso, sujeitos a reduções na ordem dos 50 por cento.
Esta greve testa ainda e mais uma vez a disposição dos trabalhadores para a luta por salários dignos e direitos na era da globalização. O seu sucesso reside na capacidade de mobilização e organização sindical e na solidariedade dos trabalhadores de outras unidades.

Solidariedade activa

A GM já avisou que 22 das suas fábricas – incluindo as situadas nos Estados do Michigan, Missouri, Wisconsin, Ohio, Nova Iorque e Indiana – serão encerradas ou parcialmente afectadas na respectiva capacidade produtiva, fruto da carência de componentes provenientes da Americam Axle.
No quartel-general da companhia, em Hamtramck, uma pequena cidade dentro de Detroit, membros da célula local da UAW, contando 1900 trabalhadores da produção, e outros 300 da siderurgia, realizam piquetes nos nove portões do complexo industrial.
Apesar do frio gelado, da neve e da chuva que se fizeram sentir durante a primeira semana de greve, trabalhadores de várias origens – negro, brancos, árabes ou latino-americanos – mantiveram-se firmes no piquete ostentando os cartazes da paralisação, aquecendo-se nas fogueiras e nos lampiões a gás, recebendo as provisões que outros sindicatos e apoiantes da comunidade lhes forneceram, elevando o espírito combativo dos presentes e a moral para continuar a acção.
Lawerence H. Moore, responsável local do sindicato e designado por este para representar os trabalhadores nos organismos de inspecção em Ypsilanti e Michigan, juntou-se à primeira linha do piquete em Hamtramck. Moore é uma entre as muitas centenas de pessoas que se têm solidarizado no terreno com os trabalhadores e a sua luta. Os comerciantes da área do complexo industrial doaram comida e outros géneros; os residentes dos bairros que circundam a fábrica são presença constante no piquete; e até os automobilistas que passam pela concentração operária buzinam efusivamente manifestando a sua solidariedade com os trabalhadores.
«Todos os grevistas me manifestaram com absoluta convicção de que estão dispostos a continuar a luta pelo tempo que for necessário», disse Moore no dia 3 de Março. «Os trabalhadores agradecem e apreciam a solidariedade e a ajuda dos habitantes, e convidam todos a passarem pelo piquete, nem que seja para os ouvirem dizer que vão continuar a buzinar de cada vez que circularem frente aos portões», continuou.
O dirigente sindical esclareceu que todos os grevistas estão a receber auxílio alimentar e outro da parte daquela estrutura, mas, frisou ainda, «os sindicatos têm que conjugar esforços e solidariedade porque levam a cabo o mesmo combate. Todos enfrentamos o inimigo que pretende destruir os empregos e as garantias laborais».

Protesto alargado

As outras delegações da UAW que decretaram greve contra as medidas da American Axle são a organização de Three Rivers, no Michigan, com um total de 800 membros, a da siderurgia de Tonawanda e a de maquinaria de Cheektowaga, ambas em Nova Iorque, com um total de 600 trabalhadores, e a representativa dos trabalhadores de Buffalo, também no Estado de Nova Iorque, cuja fábrica foi encerrada antes da greve.
De acordo com o sindicato, a companhia recusou-se a fornecer a necessária informação financeira para a negociação do acordo de empresa, revelando má-fé. «A American Axle não nos prestou as informações adequadas para um diálogo justo sobre os contratos dos nossos associados», disse Adrian R. King, presidente da estrutura local da UAW em Hamtramck. «Não nos quiseram mostrar as contas; não nos quiseram mostrar os lucros que obtiveram», os quais somaram 37 milhões de dólares em 2007.
A American Axl reduziu para metade o número de postos de trabalho desde 2004, seguindo uma política de deslocalização das unidades produtivas.
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* Bryan G. Pfeifer foi Editor Chefe do Union Workers Milwaukee Post, e co-organizador da campanha sindical «O emprego é um direito»


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