Os alquimistas
Nos tempos idos os alquimistas tentaram encontrar, através de complicadas triangulações, a fórmula mágica que transforma os metais pobres em oiro – a pedra filosofal. Se é certo que não conseguiram descobrir o que então procuravam, teceram a quimera que continua a apaixonar políticos, banqueiros, empresários, bispos e cardeais. Transformar em oiro tudo aquilo em que se toca, ter à mão a poção mágica que permite dar o dito pelo não dito e passar uma esponja sobre o que se disse porque já não nos convém. Vem tudo isto a propósito do que se passa em Espanha e nos deve continuar a merecer uma grande atenção. Há coisas de lá que acabam por vir para cá. E quando elas são perigosas, como é o caso, devem ser antecipados e medidos os riscos que encerram.
Assim, como já aqui ficou dito, houve uma escaramuça em Madrid entre a Igreja e o governo socialista. Segundo os comentadores, os sermões da «missa campal», agressivos e provocadores, terão criado um clima de crise entre o Vaticano e o Estado espanhol. Viu-se depois que o diagnóstico era exagerado. Houve, é certo, uma troca de mimos entre o governo e a Igreja. Mas logo surgiu um «arcanjo» que mediou o conflito, na pessoa de monsenhor Manuel Monteiro de Castro, núncio português na capital espanhola. Então, como seria de esperar, a alquimia produziu efeitos imediatos. A indignação inicial dos socialistas espanhóis, causada pela intromissão da Igreja nos assuntos políticos internos, suavizou-se e transformou-se em simples «mágoa». Foi o regresso à lua de mel em que anteriormente se vivia. Caiu o pano sobre os discretos encontros de Zapatero com o núncio. Veremos como todas estas trocas e baldrocas se irão traduzir nos resultados das próximas eleições legislativas de 9 de Março.
Coincidências gritantes
Enquanto que em Madrid decorriam as negociações entre o núncio e o primeiro-ministro, bem longe, no Vaticano, um outro destacado português, o poderoso cardeal José Saraiva Martins, era também vedeta. E é bom lembrar que este prelado, raramente citado na comunicação social, ocupa o altíssimo cargo de Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, uma das pastas mais cobiçadas da Cúria Romana.
O cardeal encontrou-se com o papa numa normal sessão de trabalho, informou-o acerca do andamento da beatificação da irmã Lúcia, a última vidente das aparições de Fátima, e propôs-lhe antecipar em dois anos a abertura desse processo canónico. A proposta foi aceite de imediato e as cerimónias da proclamação verificar-se-ão em 2009. Como é natural, o acto revestir-se-á de grande pompa e terá lugar em Fátima, na grandiosa nova catedral. Mesmo que não esteja presente, Bento XVI far-se-á representar e enviará uma mensagem pessoal. Mas é possível que venha a Portugal. Centenas de milhares de peregrinos estrangeiros convergirão para Fátima. O País assistirá a uma grandiosa Festa da Igreja. Depois, no mesmo ano, irá votar nas eleições legislativas...
É neste ponto que se começam a surgir coincidências encadeadas entre o caso da Missa Campal de Madrid e os cerimoniais da Irmã Lúcia em Portugal. Ambos os actos precedem eleições legislativas. Em ambos os países o poder está entregue a partidos gémeos, com orientações políticas idênticas. Tanto em Espanha como em Portugal, existe um grande descontentamento popular gerado pelas promessas não cumpridas do poder. Em ambas as nações estão em causa grandes interesses das igrejas nas áreas sociais, financeiras, comerciais, políticas, etc. O Vaticano está a um passo de registar uma grande vitória na Península Ibérica, retomando o domínio das escolas, dos hospitais, das creches, dos infantários e do pré-escolar, da segurança social, da banca, da ordenação do território, dos planos de desenvolvimento, etc., etc. O poder parece estar ao seu alcance, mesmo ali ao virar da esquina. Mas toda este grande tesouro prometido exige estabilidade política das forças amigas que actualmente detêm as rédeas do poder e tão generosas são para com a Igreja Católica. Se elas perderem as próximas eleições muito será posto em causa e o Vaticano terá de dar um novo passo atrás. É preciso apoiar a «revolução de veludo».
Vai soar a hora da verdade. As políticas seguidas em Portugal e em Espanha, relativamente à Igreja são, na prática, em tudo idênticas. O Governo privatiza e a Igreja compra, quase sempre através de terceiros. Então, o Estado transfere para os privados (que a Igreja comprou) caudais de subsídios e legisla abrindo portas a novas oportunidades de negócios. Em contrapartida, desinveste na Saúde, na Educação, no Trabalho, nas Autarquias e nas áreas sociais não lucrativas. Ao procederem assim, os governos ibéricos transferem, insensivelmente, para a Igreja, grossas fatias dos poderes que a Constituição lhes confere. A Igreja acumula dinheiro e poder e faz voto de silêncio sobre os crimes públicos. É este o preço do sucesso. Por isso, nos estados laicos e quando isso lhe convém, alia-se aos seus aparentes inimigos ideológicos. Serve-os, ocultando-os sob a capa do discurso da Ética Cristã.
O espectáculo espanhol já está montado e vai funcionar. Portugal não perde pela demora. Também nós teremos a nossa «Missa Campal»!...
Assim, como já aqui ficou dito, houve uma escaramuça em Madrid entre a Igreja e o governo socialista. Segundo os comentadores, os sermões da «missa campal», agressivos e provocadores, terão criado um clima de crise entre o Vaticano e o Estado espanhol. Viu-se depois que o diagnóstico era exagerado. Houve, é certo, uma troca de mimos entre o governo e a Igreja. Mas logo surgiu um «arcanjo» que mediou o conflito, na pessoa de monsenhor Manuel Monteiro de Castro, núncio português na capital espanhola. Então, como seria de esperar, a alquimia produziu efeitos imediatos. A indignação inicial dos socialistas espanhóis, causada pela intromissão da Igreja nos assuntos políticos internos, suavizou-se e transformou-se em simples «mágoa». Foi o regresso à lua de mel em que anteriormente se vivia. Caiu o pano sobre os discretos encontros de Zapatero com o núncio. Veremos como todas estas trocas e baldrocas se irão traduzir nos resultados das próximas eleições legislativas de 9 de Março.
Coincidências gritantes
Enquanto que em Madrid decorriam as negociações entre o núncio e o primeiro-ministro, bem longe, no Vaticano, um outro destacado português, o poderoso cardeal José Saraiva Martins, era também vedeta. E é bom lembrar que este prelado, raramente citado na comunicação social, ocupa o altíssimo cargo de Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, uma das pastas mais cobiçadas da Cúria Romana.
O cardeal encontrou-se com o papa numa normal sessão de trabalho, informou-o acerca do andamento da beatificação da irmã Lúcia, a última vidente das aparições de Fátima, e propôs-lhe antecipar em dois anos a abertura desse processo canónico. A proposta foi aceite de imediato e as cerimónias da proclamação verificar-se-ão em 2009. Como é natural, o acto revestir-se-á de grande pompa e terá lugar em Fátima, na grandiosa nova catedral. Mesmo que não esteja presente, Bento XVI far-se-á representar e enviará uma mensagem pessoal. Mas é possível que venha a Portugal. Centenas de milhares de peregrinos estrangeiros convergirão para Fátima. O País assistirá a uma grandiosa Festa da Igreja. Depois, no mesmo ano, irá votar nas eleições legislativas...
É neste ponto que se começam a surgir coincidências encadeadas entre o caso da Missa Campal de Madrid e os cerimoniais da Irmã Lúcia em Portugal. Ambos os actos precedem eleições legislativas. Em ambos os países o poder está entregue a partidos gémeos, com orientações políticas idênticas. Tanto em Espanha como em Portugal, existe um grande descontentamento popular gerado pelas promessas não cumpridas do poder. Em ambas as nações estão em causa grandes interesses das igrejas nas áreas sociais, financeiras, comerciais, políticas, etc. O Vaticano está a um passo de registar uma grande vitória na Península Ibérica, retomando o domínio das escolas, dos hospitais, das creches, dos infantários e do pré-escolar, da segurança social, da banca, da ordenação do território, dos planos de desenvolvimento, etc., etc. O poder parece estar ao seu alcance, mesmo ali ao virar da esquina. Mas toda este grande tesouro prometido exige estabilidade política das forças amigas que actualmente detêm as rédeas do poder e tão generosas são para com a Igreja Católica. Se elas perderem as próximas eleições muito será posto em causa e o Vaticano terá de dar um novo passo atrás. É preciso apoiar a «revolução de veludo».
Vai soar a hora da verdade. As políticas seguidas em Portugal e em Espanha, relativamente à Igreja são, na prática, em tudo idênticas. O Governo privatiza e a Igreja compra, quase sempre através de terceiros. Então, o Estado transfere para os privados (que a Igreja comprou) caudais de subsídios e legisla abrindo portas a novas oportunidades de negócios. Em contrapartida, desinveste na Saúde, na Educação, no Trabalho, nas Autarquias e nas áreas sociais não lucrativas. Ao procederem assim, os governos ibéricos transferem, insensivelmente, para a Igreja, grossas fatias dos poderes que a Constituição lhes confere. A Igreja acumula dinheiro e poder e faz voto de silêncio sobre os crimes públicos. É este o preço do sucesso. Por isso, nos estados laicos e quando isso lhe convém, alia-se aos seus aparentes inimigos ideológicos. Serve-os, ocultando-os sob a capa do discurso da Ética Cristã.
O espectáculo espanhol já está montado e vai funcionar. Portugal não perde pela demora. Também nós teremos a nossa «Missa Campal»!...