A obra de José Dias Coelho
Até ao dia 6 de Abril está a decorrer, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, uma exposição sobre a antologia de artes plásticas de José Dias Coelho. Esta mostra divide-se em 12 áreas distintas: «Paisagem», «Auto-Retrato», «Retrato de Família», «Pinhel», «Outros Retratos», «Caricaturas», «Outras Obras», «Retratos de Amigos», «Estudos», «Líricos», «Neo-Realismos» e «Escultura».
A importante exposição – aberta de terça a sexta-feira, entre as 10h00 e as 19h00, no sábado das 15h00 às 22h00 e domingos das 11h00 às 18h00 – visa sobretudo homenagear José Dias Coelho, escultor, desenhador, pintor, poeta, comunista, que morreu por uma causa, preterindo capacidades artísticas em nome de um outro projecto de vida.
«Mas se o seu nome é sobretudo associado ao “mártir”, ao homem assassinado numa noite de Dezembro pela polícia política do antigo regime, cabe-nos através da apresentação dos seus trabalhos evidenciar sobretudo as qualidades plásticas do seu trabalho, de modo a possibilitar uma outra legibilidade por parte do público que agora o contempla», lê-se no catálogo da exposição, num texto assinado por Luísa Duarte Santos.
Em qualquer caso, nunca se pode desligar a obra do artista. «Neste, poderíamos dizer o mesmo, ou ir até mais longe, constatando que aqui a vida condicionou decisivamente a obra, mais do que o inverso. Para além de uma atitude de combate activo e de manifesto que se poderia à partida esperar ver, a sua expressão artística tem um forte elemento lírico, “exaltação do amor e do entendimento”, e, ao mesmo tempo, uma ingenuidade, própria de quem avança de peito aberto, acreditando na humanidade», descreve a responsável da conservação e investigação do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.
A figura humana, e fundamentalmente o retrato, atravessa toda a sua vida artística, com excepção de uma última «fase», mais acentuadamente paisagística, e que coincide com a sua passagem à clandestinidade.
Talvez pela acessibilidade dos modelos, José Dias Coelho representa quem lhe está mais próximo: primeiro os pais, os avós e irmãos, mais tarde colegas e amigos, depois a mulher e finalmente, Teresa, a filha mais velha.
Os primeiros desenhos que se lhe conhece datam da segunda metade dos anos 30. São dessa época mais primordial, e inícios de 40, as caricaturas de amigos e conhecidos das quais se mostram, na exposição, 11. Muito diferentes entre elas, indicam já a versatilidade e a perspicácia de um caricaturista que apanha num instantâneo os traços essenciais de um rosto, realçando e exagerando aqueles que efectivamente caracterizam aquela pessoa.
Depois de um intenso percurso académico, com a entrada na Escola de Belas Artes, é no retrato que a sua capacidade e mestria se evidenciam. A preferencial representação pelo rosto, o aspecto mais distintivo do ser humano, em que um mínimo detalhe torna diferente, materializa uma outra face, mas também o que mais revela, a expressão mais límpida dos ser humano, o que no fundo confere identidade.
A escultura revela-se a partir da segunda Exposição Geral de Artes Plásticas (EGAP’s), sendo que na 10.ª, já em vida de clandestinidade, são os companheiros que decidem apresentar uma obra sua, uma «Cabeça (já exposta)». Fazendo jus às intenções anunciadas no catálogo da primeira exposição, expõem principalmente na modalidade de escultura, mas também na de desenho e na cerâmica e decoração, com mais de três dezenas de obras.
Estética de intervenção
No Museu do Neo-Realismo, até ao dia 6 de Abril, o visitante poderá encontrar algumas das obras que Dias Coelho apresentou nas nove EGAP’s, nomeadamente «Cabeça de meu Pai» (1948), «Retrato de Margarida Tengarrinha» (1950), «Cabeça de Rapariga» (1948) e «Retrato do escritor Alves Redol» (1951).
Poderá ainda ver alguns desenhos e pinturas que se encontram no seu espólio, dos quais se destaca «Paisagem e castelo de Pinhel». Na exposição, provavelmente inspirado na icónica pomba de Picasso, está ainda patente um estudo preparatório de um painel de azulejos que se encontra em Vila Nova da Cerveira. Expostos estão também trabalhos realizados em vidro e em cerâmica.
Os anos entre 1955 e 1961 são de clandestinidade, e a sua obra reflecte esse maior empenhamento, sobretudo em termos de uma quantidade mais esparsa, a que não são alheios motivos de ordem material, logística e de disponibilidade pelo comprometimento de outras actividades. Em termos temáticos, e para além de uma maior centragem na paisagem, há uma focalização em assuntos considerados próximos do neo-realismo, ou de uma estética de intervenção.
Juntamente com a sua companheira, Margarida Tengarrinha, foram responsáveis pela modernização do grafismo do Avante!, tendo introduzido a imagem como ilustração.
José Dias Coelho, enquanto funcionário clandestino do PCP, foi, entretanto, assassinado há 45 anos, em Lisboa, com um tiro à queima-roupa. Vários poetas produziram poemas em sua homenagem e José Afonso dedicou-lhe a canção «A morte saiu à rua».
«Mas se o seu nome é sobretudo associado ao “mártir”, ao homem assassinado numa noite de Dezembro pela polícia política do antigo regime, cabe-nos através da apresentação dos seus trabalhos evidenciar sobretudo as qualidades plásticas do seu trabalho, de modo a possibilitar uma outra legibilidade por parte do público que agora o contempla», lê-se no catálogo da exposição, num texto assinado por Luísa Duarte Santos.
Em qualquer caso, nunca se pode desligar a obra do artista. «Neste, poderíamos dizer o mesmo, ou ir até mais longe, constatando que aqui a vida condicionou decisivamente a obra, mais do que o inverso. Para além de uma atitude de combate activo e de manifesto que se poderia à partida esperar ver, a sua expressão artística tem um forte elemento lírico, “exaltação do amor e do entendimento”, e, ao mesmo tempo, uma ingenuidade, própria de quem avança de peito aberto, acreditando na humanidade», descreve a responsável da conservação e investigação do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.
A figura humana, e fundamentalmente o retrato, atravessa toda a sua vida artística, com excepção de uma última «fase», mais acentuadamente paisagística, e que coincide com a sua passagem à clandestinidade.
Talvez pela acessibilidade dos modelos, José Dias Coelho representa quem lhe está mais próximo: primeiro os pais, os avós e irmãos, mais tarde colegas e amigos, depois a mulher e finalmente, Teresa, a filha mais velha.
Os primeiros desenhos que se lhe conhece datam da segunda metade dos anos 30. São dessa época mais primordial, e inícios de 40, as caricaturas de amigos e conhecidos das quais se mostram, na exposição, 11. Muito diferentes entre elas, indicam já a versatilidade e a perspicácia de um caricaturista que apanha num instantâneo os traços essenciais de um rosto, realçando e exagerando aqueles que efectivamente caracterizam aquela pessoa.
Depois de um intenso percurso académico, com a entrada na Escola de Belas Artes, é no retrato que a sua capacidade e mestria se evidenciam. A preferencial representação pelo rosto, o aspecto mais distintivo do ser humano, em que um mínimo detalhe torna diferente, materializa uma outra face, mas também o que mais revela, a expressão mais límpida dos ser humano, o que no fundo confere identidade.
A escultura revela-se a partir da segunda Exposição Geral de Artes Plásticas (EGAP’s), sendo que na 10.ª, já em vida de clandestinidade, são os companheiros que decidem apresentar uma obra sua, uma «Cabeça (já exposta)». Fazendo jus às intenções anunciadas no catálogo da primeira exposição, expõem principalmente na modalidade de escultura, mas também na de desenho e na cerâmica e decoração, com mais de três dezenas de obras.
Estética de intervenção
No Museu do Neo-Realismo, até ao dia 6 de Abril, o visitante poderá encontrar algumas das obras que Dias Coelho apresentou nas nove EGAP’s, nomeadamente «Cabeça de meu Pai» (1948), «Retrato de Margarida Tengarrinha» (1950), «Cabeça de Rapariga» (1948) e «Retrato do escritor Alves Redol» (1951).
Poderá ainda ver alguns desenhos e pinturas que se encontram no seu espólio, dos quais se destaca «Paisagem e castelo de Pinhel». Na exposição, provavelmente inspirado na icónica pomba de Picasso, está ainda patente um estudo preparatório de um painel de azulejos que se encontra em Vila Nova da Cerveira. Expostos estão também trabalhos realizados em vidro e em cerâmica.
Os anos entre 1955 e 1961 são de clandestinidade, e a sua obra reflecte esse maior empenhamento, sobretudo em termos de uma quantidade mais esparsa, a que não são alheios motivos de ordem material, logística e de disponibilidade pelo comprometimento de outras actividades. Em termos temáticos, e para além de uma maior centragem na paisagem, há uma focalização em assuntos considerados próximos do neo-realismo, ou de uma estética de intervenção.
Juntamente com a sua companheira, Margarida Tengarrinha, foram responsáveis pela modernização do grafismo do Avante!, tendo introduzido a imagem como ilustração.
José Dias Coelho, enquanto funcionário clandestino do PCP, foi, entretanto, assassinado há 45 anos, em Lisboa, com um tiro à queima-roupa. Vários poetas produziram poemas em sua homenagem e José Afonso dedicou-lhe a canção «A morte saiu à rua».