Com amigos destes...
«Historicamente, nós brancos, fomos descobrir as terras e os homens negros. Íamos armados da nossa cultura fechada sobre si mesma, conflitual, arrogante, agressiva. Eles negros, precisavam, dependiam de nós para se salvar, para se emancipar. Precisavam dos brancos. Nós não íamos abandoná-los. Ficámos com os negros a evangelizar, a civilizar, a fazer com que trabalhassem, a dominar, a explorar. Mas, na essência ao longo e ao fim de cinco séculos, para nós, brancos, os negros não mudaram, não ascenderam – em pleno – à condição de homens. A grande mistificação subsiste.» (Frantz Fanon, Pele Negra Mascaras Brancas, 1961)
Muito se tem escrito e dito nos jornais, rádios e televisões de «referência» sobre a realização da Cimeira União Europeia (UE) – África. Muito mesmo. Debita-se sobre a vinda ou não de Robert Mugabe, presidente do Zimbabué, e associada a esta, a do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Pergunta-se se o «dirigente líbio» Muamar al-Kadhafi fica hospedado num hotel ou se «acampa» ao ar livre? Sobre qual o nível de «segurança», hotéis, número de pessoas, se os passageiros chegam à Portela ou a Figo Maduro? Se...
Qualquer um de nós se questionará sobre o interesse «filantrópico» das grandes potências da UE em África. Significará que, afinal, como ironicamente referia Fanon, «os negros não mudaram, não ascenderam – em pleno – à condição de homens», precisando da tutela dos «brancos»? Ou será apenas uma forma de esconder a ofensiva imperialista para África?
O processo histórico transformou o mundo. Não vivemos, hoje, o colonialismo puro e duro do século passado. A realidade destes países alterou-se com novas tendências e fenómenos - positivos e negativos -, resultantes de uma intensa luta de classes e de processos de libertação e transformação social. O neocolonialismo apresenta-se sobre novas formas de dominação económica e política que, mantendo a sua essência, adquiriu formas superiores de exploração, apoiadas e articuladas numa poderosa máquina de propaganda de massas – televisões, rádios, jornais, etc. – e na acção de muitas ONG’s financiadas pelo sistema. Para mais, criou-se a chamada «ajuda ao desenvolvimento», que na maior parte dos casos mais não é do que um «paliativo» para nos vender a reprodução do capitalismo como uma espécie de novo filantropismo assente em velhas teses sobre a «incapacidade natural» destes povos para a sua emancipação e desenvolvimento.
A exploração a que estes países foram historicamente submetidos e a falta de uma estruturação própria dos seus sistemas produtivos baseada nas suas especificidades e necessidades próprias de desenvolvimento interno ao serviço dos seus povos, gerou desde logo uma debilidade estrutural que tem sido explorada pelas potências capitalistas.
É esta exploração que se pretende perpetuar. Nem os flashes, nem toda uma prosa requentada de «ajuda», e ainda menos as luzes da ribalta de uma qualquer Cimeira, conseguem disfarçar a cobiça do capitalismo em crise nas riquezas africanas. Uma bonita embalagem e um bonito laço, por si, nunca fizeram uma boa prenda.
Aquilo que a UE tem para oferecer aos países e povos africanos é mais do mesmo. Disfarçados de «desafio» à «paz e segurança», de «democracia e direitos humanos, comércio, energia e alterações climáticas» estão todos os objectivos das grandes potências europeias e do grande capital, que se confrontam com a escassez e aumento do preço do petróleo e precisam de novos mercados e «investimentos» que, a partir da sobre-exploração do trabalho nestes países, lhes permita obter mais lucros.
Os Acordos de Parceria Económica (APE) – um dos eixos centrais da política da UE para África – que estão a ser discutidos com os países ACP (África, Caraíbas e Pacífico), que representam 79 ex-colónias, enquadram-se na lógica da integração capitalista ao nível mundial, preconizada no quadro da OMC.
Dado o impasse da Ronda de Doha, os negociadores europeus exercem fortes pressões e chantagens sobre os governos africanos, ameaçando designadamente revogar os acordos de comércio preferencial existentes com a UE.
Propondo-se dirigir o processo de integração africano, a UE pretende dar um salto qualitativo com as «parceria estratégicas» que propõe, através das quais impõe relações comerciais segundo os seus interesses, eliminando barreiras ao capital (circulação de capitais, liberdade de investimento, etc.) e favorecendo o desenvolvimento dos monopólios em África, controlados pelas transnacionais ocidentais.
É caso para dizer: com amigos como estes, quem é que necessita de inimigos!
Muito se tem escrito e dito nos jornais, rádios e televisões de «referência» sobre a realização da Cimeira União Europeia (UE) – África. Muito mesmo. Debita-se sobre a vinda ou não de Robert Mugabe, presidente do Zimbabué, e associada a esta, a do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Pergunta-se se o «dirigente líbio» Muamar al-Kadhafi fica hospedado num hotel ou se «acampa» ao ar livre? Sobre qual o nível de «segurança», hotéis, número de pessoas, se os passageiros chegam à Portela ou a Figo Maduro? Se...
Qualquer um de nós se questionará sobre o interesse «filantrópico» das grandes potências da UE em África. Significará que, afinal, como ironicamente referia Fanon, «os negros não mudaram, não ascenderam – em pleno – à condição de homens», precisando da tutela dos «brancos»? Ou será apenas uma forma de esconder a ofensiva imperialista para África?
O processo histórico transformou o mundo. Não vivemos, hoje, o colonialismo puro e duro do século passado. A realidade destes países alterou-se com novas tendências e fenómenos - positivos e negativos -, resultantes de uma intensa luta de classes e de processos de libertação e transformação social. O neocolonialismo apresenta-se sobre novas formas de dominação económica e política que, mantendo a sua essência, adquiriu formas superiores de exploração, apoiadas e articuladas numa poderosa máquina de propaganda de massas – televisões, rádios, jornais, etc. – e na acção de muitas ONG’s financiadas pelo sistema. Para mais, criou-se a chamada «ajuda ao desenvolvimento», que na maior parte dos casos mais não é do que um «paliativo» para nos vender a reprodução do capitalismo como uma espécie de novo filantropismo assente em velhas teses sobre a «incapacidade natural» destes povos para a sua emancipação e desenvolvimento.
A exploração a que estes países foram historicamente submetidos e a falta de uma estruturação própria dos seus sistemas produtivos baseada nas suas especificidades e necessidades próprias de desenvolvimento interno ao serviço dos seus povos, gerou desde logo uma debilidade estrutural que tem sido explorada pelas potências capitalistas.
É esta exploração que se pretende perpetuar. Nem os flashes, nem toda uma prosa requentada de «ajuda», e ainda menos as luzes da ribalta de uma qualquer Cimeira, conseguem disfarçar a cobiça do capitalismo em crise nas riquezas africanas. Uma bonita embalagem e um bonito laço, por si, nunca fizeram uma boa prenda.
Aquilo que a UE tem para oferecer aos países e povos africanos é mais do mesmo. Disfarçados de «desafio» à «paz e segurança», de «democracia e direitos humanos, comércio, energia e alterações climáticas» estão todos os objectivos das grandes potências europeias e do grande capital, que se confrontam com a escassez e aumento do preço do petróleo e precisam de novos mercados e «investimentos» que, a partir da sobre-exploração do trabalho nestes países, lhes permita obter mais lucros.
Os Acordos de Parceria Económica (APE) – um dos eixos centrais da política da UE para África – que estão a ser discutidos com os países ACP (África, Caraíbas e Pacífico), que representam 79 ex-colónias, enquadram-se na lógica da integração capitalista ao nível mundial, preconizada no quadro da OMC.
Dado o impasse da Ronda de Doha, os negociadores europeus exercem fortes pressões e chantagens sobre os governos africanos, ameaçando designadamente revogar os acordos de comércio preferencial existentes com a UE.
Propondo-se dirigir o processo de integração africano, a UE pretende dar um salto qualitativo com as «parceria estratégicas» que propõe, através das quais impõe relações comerciais segundo os seus interesses, eliminando barreiras ao capital (circulação de capitais, liberdade de investimento, etc.) e favorecendo o desenvolvimento dos monopólios em África, controlados pelas transnacionais ocidentais.
É caso para dizer: com amigos como estes, quem é que necessita de inimigos!