A incorrecção das concepções dominantes
O desporto participa directamente da crise geral que constitui um elemento central da sociedade actual. Cada vez mais parece que entre a prática desportiva, tal como se exprime, e a visão humanista do desporto, se alarga o fosso que separa a realidade do ideal.
Repousando sobre os «restos» de uma imagem positiva veiculada durante largos decénios pelo discurso oficial (bom para a saúde, factor de formação e cultura, etc.), afirmando-se através da imagem simbólica dos grandes atletas identificados como autênticos «heróis do povo» do nosso tempo, o desporto actual constitui de facto, um terreno de fácil (e lucrativa) exploração pelo capital. A sua dependência dos interesses comerciais e mediáticos (o que é o mesmo!) não cessa de crescer. A corrente que afirma o desporto como um «produto» comercial a vender (seja qual for a sua vertente) não cessa de engrossar, impondo uma visão tecnocrática da visão das práticas, vazia de significado humanizador. Aliás, esta questão de valor cultural e formativo da actividade desportiva é um problema que nem se quer é compreendida pelos comerciantes e, quando se fala em tal coisa, até os faz sorrir e galhofar.
Trata-se de uma evolução «natural» numa sociedade comandada pelo lucro, em que os interesses materiais passaram por cima de qualquer outro valor e tudo pretendem dominar. Mas se esta é uma realidade incontornável, não é menos verdade que se trata de um projecto degradante social, cultural e educativamente falando, que os educadores, nas suas escolas, os clubes e as autarquias locais, não podem aceitar e contra a qual é preciso lutar sem descanso. Portanto, qualquer discurso que pretenda afirmar esta evolução como uma fatalidade, mais não é do que um aspecto do grande processo de liquidação geral de valores essenciais orientadores de vida colectiva, a que se assiste por todo o lado.
Por mais que os tecnocratas de serviço acusem esta visão de conservadora e «dinossauresca» por parte daqueles que não desarmam na luta pela preservação, afirmação e predomínio de valores humanizadores para todas as actividades do Homem, não é isso que fará desaparecer, ou até, limitar, a sua responsabilidade histórica no empobrecimento generalizado do desporto como prática social condicionada por valores éticos fundamentais.
Isto por um conjunto de razões de que faremos sobressair duas, em especial:
em 1.º lugar é falso que o desporto só possa desenvolver-se, como actividade social, de acordo com uma perspectiva exclusivamente economicista. É evidente que o desporto e a sua prática, precisam de dinheiro para se desenvolverem. Basta reconhecer ao desporto a função social que deve ser a sua, e se procure responder com seriedade às necessidades das populações para que aqueles valores surjam e se imponham.
Em 2.º lugar, é falso que o clube se deva transformar numa empresa para poder sobreviver como núcleo comunitário dinamizador de cultura e de convívio. É evidente que o clube de há 30 anos não pode fornecer resposta aos problemas de hoje. É preciso, por isso, que renovem os seus métodos de acção. Mas também é indispensável que se reconheça a sua importância social sem o que a renovação não será viável.
Evidentemente que esta dupla perspectiva impõe que se fale de uma «outra» realidade social e de uma «outra» política a desenvolver pelos diferentes níveis de Poder. E é aqui que se esbarra com o cepticismo, a incompreensão das verdadeiras finalidades sociais (do desporto, da cultura, do ambiente, da participação, da democratização, etc.) da acção porque, num presente carregado de fatalismo e em que se perderam referências éticas essenciais para o funcionamento da polis, a descrença na correcção possível de comportamentos e hábitos é maior do que nunca (ao mesmo tempo que a crença na «mudança» se tornou quase religiosa).
É no interior deste processo clarificador que se deve equacionar o direito constitucionalmente definido para a prática do desporto. Não unicamente como um importante princípio generosamente concebido pelo 25 de Abril, mas que se mantém à espera de melhores dias que, aliás, se duvida que cheguem em breve. O «desporto direito do povo» resultou de uma séria tomada de consciência por parte das populações do seu valor cultural e mantém-se, apesar de tudo o que se passou, como uma exigência a que a «mudança» deve dar resposta.
Mas não uma resposta que, de facto, se for aplicada, constitui um outro aspecto mistificador da democratização real do acesso à prática desportiva generalizada. Terá de se estruturar como uma forma objectiva de fornecer resposta a necessidades essenciais da vida num quadro humanizador de toda a vida social, não se limitando à cópia daquilo que a concepção neoliberal procura impor para toda a actividade social.
Repousando sobre os «restos» de uma imagem positiva veiculada durante largos decénios pelo discurso oficial (bom para a saúde, factor de formação e cultura, etc.), afirmando-se através da imagem simbólica dos grandes atletas identificados como autênticos «heróis do povo» do nosso tempo, o desporto actual constitui de facto, um terreno de fácil (e lucrativa) exploração pelo capital. A sua dependência dos interesses comerciais e mediáticos (o que é o mesmo!) não cessa de crescer. A corrente que afirma o desporto como um «produto» comercial a vender (seja qual for a sua vertente) não cessa de engrossar, impondo uma visão tecnocrática da visão das práticas, vazia de significado humanizador. Aliás, esta questão de valor cultural e formativo da actividade desportiva é um problema que nem se quer é compreendida pelos comerciantes e, quando se fala em tal coisa, até os faz sorrir e galhofar.
Trata-se de uma evolução «natural» numa sociedade comandada pelo lucro, em que os interesses materiais passaram por cima de qualquer outro valor e tudo pretendem dominar. Mas se esta é uma realidade incontornável, não é menos verdade que se trata de um projecto degradante social, cultural e educativamente falando, que os educadores, nas suas escolas, os clubes e as autarquias locais, não podem aceitar e contra a qual é preciso lutar sem descanso. Portanto, qualquer discurso que pretenda afirmar esta evolução como uma fatalidade, mais não é do que um aspecto do grande processo de liquidação geral de valores essenciais orientadores de vida colectiva, a que se assiste por todo o lado.
Por mais que os tecnocratas de serviço acusem esta visão de conservadora e «dinossauresca» por parte daqueles que não desarmam na luta pela preservação, afirmação e predomínio de valores humanizadores para todas as actividades do Homem, não é isso que fará desaparecer, ou até, limitar, a sua responsabilidade histórica no empobrecimento generalizado do desporto como prática social condicionada por valores éticos fundamentais.
Isto por um conjunto de razões de que faremos sobressair duas, em especial:
em 1.º lugar é falso que o desporto só possa desenvolver-se, como actividade social, de acordo com uma perspectiva exclusivamente economicista. É evidente que o desporto e a sua prática, precisam de dinheiro para se desenvolverem. Basta reconhecer ao desporto a função social que deve ser a sua, e se procure responder com seriedade às necessidades das populações para que aqueles valores surjam e se imponham.
Em 2.º lugar, é falso que o clube se deva transformar numa empresa para poder sobreviver como núcleo comunitário dinamizador de cultura e de convívio. É evidente que o clube de há 30 anos não pode fornecer resposta aos problemas de hoje. É preciso, por isso, que renovem os seus métodos de acção. Mas também é indispensável que se reconheça a sua importância social sem o que a renovação não será viável.
Evidentemente que esta dupla perspectiva impõe que se fale de uma «outra» realidade social e de uma «outra» política a desenvolver pelos diferentes níveis de Poder. E é aqui que se esbarra com o cepticismo, a incompreensão das verdadeiras finalidades sociais (do desporto, da cultura, do ambiente, da participação, da democratização, etc.) da acção porque, num presente carregado de fatalismo e em que se perderam referências éticas essenciais para o funcionamento da polis, a descrença na correcção possível de comportamentos e hábitos é maior do que nunca (ao mesmo tempo que a crença na «mudança» se tornou quase religiosa).
É no interior deste processo clarificador que se deve equacionar o direito constitucionalmente definido para a prática do desporto. Não unicamente como um importante princípio generosamente concebido pelo 25 de Abril, mas que se mantém à espera de melhores dias que, aliás, se duvida que cheguem em breve. O «desporto direito do povo» resultou de uma séria tomada de consciência por parte das populações do seu valor cultural e mantém-se, apesar de tudo o que se passou, como uma exigência a que a «mudança» deve dar resposta.
Mas não uma resposta que, de facto, se for aplicada, constitui um outro aspecto mistificador da democratização real do acesso à prática desportiva generalizada. Terá de se estruturar como uma forma objectiva de fornecer resposta a necessidades essenciais da vida num quadro humanizador de toda a vida social, não se limitando à cópia daquilo que a concepção neoliberal procura impor para toda a actividade social.