Domingo no Porto, hoje em Guimarães

Protestos na presidência

O semestre da presidência portuguesa da UE começa sob o som dos justos protestos dos trabalhadores, cinicamente classificados pelo primeiro-ministro como «festa da democracia».

As políticas da UE e nacionais prejudicam os trabalhadores

José Sócrates reagiu assim aos apupos, assobios, vaias e palavras de ordem com que, no domingo, junto à Casa da Música, no Porto, centenas de manifestantes receberam os comissários europeus e os membros do Governo português, que ali se reuniram para a cerimónia (e concerto) de abertura da presidência portuguesa da União Europeia.
Para essa tarde, na Rotunda da Boavista, a União dos Sindicatos do Porto convocou uma concentração de trabalhadores. A estrutura distrital da CGTP-IN quis assim dar expressão às preocupações e aos protestos de quem vive do trabalho e sabe que, durante os próximos seis meses, podem ser tomadas decisões «que põem em causa a Europa social, os direitos dos trabalhadores e dos povos». A USP apontou duas matérias, em concreto: a «flexigurança» (liberalização dos despedimentos sem justa causa) e o «tratado constitucional».
A par da iniciativa da União, no local concentraram-se igualmente antigos mineiros da ENU (Empresa Nacional de Urânio, da Urgeiriça, encerrada em 2004) e activistas de movimentos de desempregados, de trabalhadores a «recibo verde» e de utentes de transportes públicos.
À chegada dos convidados, a maior parte dos manifestantes sopraram com força os seus apitos, enquanto outros gritaram palavras de ordem e apupos, dirigidos sobretudo aos membros do Governo português.
Num dos cartazes, a USP/CGTP-IN anunciava um «concerto alternativo», pois «a música aqui é outra». Só que, procurando que a «festa da democracia» não fosse tão notada, foi mandada a Polícia impor o silêncio na instalação sonora, a pretexto de falta de autorização – um episódio inédito de cerceamento das liberdades, como explicou um dirigente da União à agência Lusa. «Europa global só interessa ao capital» e «Está na hora de o Governo ir embora» foram algumas das palavras de ordem gritadas pelos sindicalistas.
Empunhando bandeiras negras, dezenas de antigos trabalhadores da ENU chamaram a atenção para o esquecimento a que o Governo tem votado a exigência de uma resposta aos problemas de saúde e de subsistência das famílias, devido ao contacto prolongado dos mineiros com o urânio. Mais de uma centena de trabalhadores acabaram por falecer, vítimas de cancro, como recordou um membro da comissão de ex-trabalhadores.
Representantes do Movimento de Trabalhadores contra os Recibos Verdes levaram ali um memorando, endereçado a José Sócrates, expondo a situação precária e «profundamente injusta» que atinge já cerca de um quinto da população activa. O Movimento dos Trabalhadores Desempregados alertou para o elevado número de pessoas que perderam o emprego no distrito do Porto (cerca de cem mil).
Por ter imposto à cidade uma nova rede de autocarros, com «menos linhas e paragens com piores condições», o Movimento dos Utentes dos Transportes Públicos do Porto reafirmou a exigência de demissão da administração da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP).
Enquanto quase todos os convidados, incluindo Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, entraram pela porta principal da Casa da Música (frente à qual se concentravam os manifestantes), o primeiro-ministro português esteve entre os poucos que preferiram um acesso mais discreto, pelas traseiras.

Milhares esperados hoje em Guimarães

A CGTP-IN adiantou segunda-feira que poderão reunir-se esta tarde, no Largo do Toural, em Guimarães, mais de cinco mil trabalhadores, numa concentração que contrapõe a posição dos trabalhadores e do movimento sindical unitário à discussão que vai ter lugar naquela cidade, na cimeira dos ministros do Trabalho e Assuntos Sociais da União Europeia.
Em conferência de imprensa, no Sindicato dos Metalúrgicos, em Guimarães, após uma reunião da Comissão Executiva da central, Carvalho da Silva recordou os principais objectivos desta acção: contra o desemprego e a precariedade, pela qualidade de emprego, contra a «flexigurança», emprego com direitos, Europa social.
Do Largo do Toural, a manifestação dirige-se ao Pavilhão Multiusos, para entregar um caderno reivindicativo aos ministros.

Polícias sensibilizam nos aeroportos

Nos aeroportos e Lisboa, Porto e Faro, a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia promoveu, sexta-feira e sábado, acções de sensibilização dos passageiros para os principais problemas e reivindicações da classe. A distribuição de folhetos «foi muito bem acolhida por portugueses e estrangeiros, não tendo sido poucas as palavras de apoio e solidariedade», refere a ASPP/PSP, no seu sítio na Internet.
Hoje, num encontro nacional de dirigentes e delegados, a associação vai discutir uma proposta de realização de uma manifestação nacional de polícias, no dia 19 de Setembro, em Lisboa (coincidindo com mais uma reunião no âmbito da presidência portuguesa da UE).

Pescadores confrontam ministro e comissário

Uma delegação do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte foi anteontem ao encontro de Jaime Silva e de Joe Borg, na lota de Matosinhos, procurando entregar uma carta sobre os graves problemas do sector e as medidas políticas que entende necessárias - uma vez que um contacto do ministro português da Agricultura e Pescas e do comissário europeu das Pescas, com representantes do sector, inicialmente anunciado, acabou por se tornar numa fugaz visita ao porto.
Na carta que dirigiu ao ministro e ao comissário, o STPN/CGTP-IN lembra que, desde a entrada na UE, Portugal abateu já mais de 40 por cento da sua frota e aniquilou mais de metade dos postos de trabalho directos na pesca, perdendo importantes oportunidades de pesca no exterior. O sindicato critica os muito baixos preços pagos ao produtor, enquanto o pescado atinge valores exorbitantes no consumidor final. É salientada a posição ainda mais aflitiva da pesca local e artesanal, face ao aumento dos combustíveis que afecta toda a actividade, «sem que a Comunidade ou o Governo faça algo para amenizar este problema». É também condenada a privatização, alienação ou encerramento da Docapesca, admitido publicamente pelo ministro.
A modernização da frota, salienta o STPN, não se faz com o apoio ao abate de mais embarcações e os milhões anunciados devem ser dirigidos à produção, enquanto a renovação da frota exige um plano nacional específico de apoio à pequena pesca.
O ministro tentou ripostar à iniciativa do sindicato, suscitando fortes protestos de dirigentes e pescadores.


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