Olhar para Lisboa
É certo que Portugal não é só Lisboa. Mas a capital de um país que não progride desempenha sempre o papel que Lisboa tem na vida nacional. Lisboa é sede do governo, da finança privada, das direcções-gerais que controlam o país e da poderosa igreja portuguesa. É nela que se alojam a Assembleia da República e os Tribunais Superiores. É estação terminal dos fundos que vêm da Europa. É convergência de lobbies e de grupos de pressão. É a cabeça disforme de um país raquítico.
Virá certamente o tempo da efectiva democratização de todo este sistema. Mas por enquanto é assim. Portugal é um país que precisa de «olhar para Lisboa». É neste quadro geral que dentro de dias os cidadãos da mais importante autarquia serão chamados a votar, num acto eleitoral intercalar que assinala a ruptura total, financeira e ética, a que chegou o mais rico município do país. Nos restantes concelhos, é claro, os cidadãos não votam. Mas é preciso que olhem bem para Lisboa, a observem, a critiquem e exijam mudança.
Portugal mergulha na maior das confusões. Sócrates, primeiro-ministro de um governo de aventureiros obcecados com a formação do capital, enredou-se em negócios que ultrapassam em muito os próprios limites da iniciativa governamental. Endivida o país, saqueia o património, extingue direitos e liberdades, prepara a próxima tirania totalitária do Poder. Se a Câmara de Lisboa vai a votos, é porque a fraude e a corrupção política minaram a sua direcção. E é evidente terem sido protagonistas principais dessa degradação as clientelas partidárias e os falsos independentes colocados no poder municipal pela mão do poder central ou pelos meninos de oiro que se alimentam dos lucros dos negócios sujos ou das alianças de alfurja. Todos nós devemos olhar para Lisboa, observar o que nela acontece e passar à acção colectiva exigente. Se Lisboa mudar em virtude do voto popular, também o país mudará.
É esta a lição que a História nos ensina.
As máscaras dos mitos
Muitos mitos caíram desde 1974. Por exemplo, o mito da democracia. Que voz activa tem agora a força popular? O mito da solidariedade e do combate à pobreza. Em Lisboa há um mendigo em cada esquina, um desempregado em cada lar. Os mitos da educação e do sucesso, do direito à habitação, à saúde, ao emprego, à segurança, à justiça, etc.. Ao longo de três décadas, as políticas do Estado cavaram um abismo entre as classes sociais. No caso das autarquias (nem em todas, felizmente) foi-se verificando a gradual ocupação das câmaras pelos caciques locais que transformaram em mitos as grandes Conquistas de Abril. Foi o que vimos acontecer em Lisboa.
O crime está consumado mas não devemos esquecer que os principais agentes políticos deste estado de podridão foram os governos, os executivos camarários, os partidos, os infiltrados que beneficiaram com as fraudes e a igreja católica com o seu enorme cortejo de fundações, misericórdias, Ongs e IPSS lucrativas e não lucrativas, jogos e lotarias, bancos do Opus Dei a estoirarem de dinheiro, universidades que formam especuladores financeiros, anjos de negócios revestidos com as vestes do combate à pobreza, agentes da acção social que saltam das câmaras para as empresas e regressam, depois, ao poder local como arautos do voluntariado, da luta contra a exclusão, das vozes dos que não têm voz, etc., etc.. Em Lisboa, a igreja é sede dessas movimentações. Enquanto isso acontece na sombra, não devemos omitir que o Patriarcado, com as suas Fundações, Misericórdias, Ordens Religiosas e Patrimoniais, é de longe o principal proprietário dos terrenos urbanos de Lisboa. Herdou ou adquiriu valores artísticos ou turísticos incalculáveis que se recusa a revelar. Joga com a influência política que detém, com o seu esmagador peso financeiro e com as alianças que domina, como aquela que liga António Costa a Maria José Nogueira Pinto, a vidente misericordiosa de uma Lisboa futura erguida sobre a destruição da Baixa pombalina.
Olhemos para Lisboa e não tenhamos receio de projectar noutros ecrãs o que formos apurando nessa observação da cidade: os negócios escuros que surgem como cogumelos, as Opas, as Otas e os Santuários, os TGVs e as novas pontes, os lucros das grandes empresas e da banca privada, a expropriação de terrenos, as novelas da luta contra a pobreza, os modelos capitalistas de voluntariado, a conversão caritativa dos ricos, a solidariedade de classes ou os jogos diplomáticos com base na subsidaridade (tu dás-me o que tens e eu faço aquilo que tu querias fazer), a usurpação de direitos e a escravização dos homens pelos homens.
Parecerá exagero mas todos estes factores estão presentes no acto eleitoral de Lisboa e têm projecção no resto do país.
Votemos com confiança e observemos aquilo que se irá passar.
Virá certamente o tempo da efectiva democratização de todo este sistema. Mas por enquanto é assim. Portugal é um país que precisa de «olhar para Lisboa». É neste quadro geral que dentro de dias os cidadãos da mais importante autarquia serão chamados a votar, num acto eleitoral intercalar que assinala a ruptura total, financeira e ética, a que chegou o mais rico município do país. Nos restantes concelhos, é claro, os cidadãos não votam. Mas é preciso que olhem bem para Lisboa, a observem, a critiquem e exijam mudança.
Portugal mergulha na maior das confusões. Sócrates, primeiro-ministro de um governo de aventureiros obcecados com a formação do capital, enredou-se em negócios que ultrapassam em muito os próprios limites da iniciativa governamental. Endivida o país, saqueia o património, extingue direitos e liberdades, prepara a próxima tirania totalitária do Poder. Se a Câmara de Lisboa vai a votos, é porque a fraude e a corrupção política minaram a sua direcção. E é evidente terem sido protagonistas principais dessa degradação as clientelas partidárias e os falsos independentes colocados no poder municipal pela mão do poder central ou pelos meninos de oiro que se alimentam dos lucros dos negócios sujos ou das alianças de alfurja. Todos nós devemos olhar para Lisboa, observar o que nela acontece e passar à acção colectiva exigente. Se Lisboa mudar em virtude do voto popular, também o país mudará.
É esta a lição que a História nos ensina.
As máscaras dos mitos
Muitos mitos caíram desde 1974. Por exemplo, o mito da democracia. Que voz activa tem agora a força popular? O mito da solidariedade e do combate à pobreza. Em Lisboa há um mendigo em cada esquina, um desempregado em cada lar. Os mitos da educação e do sucesso, do direito à habitação, à saúde, ao emprego, à segurança, à justiça, etc.. Ao longo de três décadas, as políticas do Estado cavaram um abismo entre as classes sociais. No caso das autarquias (nem em todas, felizmente) foi-se verificando a gradual ocupação das câmaras pelos caciques locais que transformaram em mitos as grandes Conquistas de Abril. Foi o que vimos acontecer em Lisboa.
O crime está consumado mas não devemos esquecer que os principais agentes políticos deste estado de podridão foram os governos, os executivos camarários, os partidos, os infiltrados que beneficiaram com as fraudes e a igreja católica com o seu enorme cortejo de fundações, misericórdias, Ongs e IPSS lucrativas e não lucrativas, jogos e lotarias, bancos do Opus Dei a estoirarem de dinheiro, universidades que formam especuladores financeiros, anjos de negócios revestidos com as vestes do combate à pobreza, agentes da acção social que saltam das câmaras para as empresas e regressam, depois, ao poder local como arautos do voluntariado, da luta contra a exclusão, das vozes dos que não têm voz, etc., etc.. Em Lisboa, a igreja é sede dessas movimentações. Enquanto isso acontece na sombra, não devemos omitir que o Patriarcado, com as suas Fundações, Misericórdias, Ordens Religiosas e Patrimoniais, é de longe o principal proprietário dos terrenos urbanos de Lisboa. Herdou ou adquiriu valores artísticos ou turísticos incalculáveis que se recusa a revelar. Joga com a influência política que detém, com o seu esmagador peso financeiro e com as alianças que domina, como aquela que liga António Costa a Maria José Nogueira Pinto, a vidente misericordiosa de uma Lisboa futura erguida sobre a destruição da Baixa pombalina.
Olhemos para Lisboa e não tenhamos receio de projectar noutros ecrãs o que formos apurando nessa observação da cidade: os negócios escuros que surgem como cogumelos, as Opas, as Otas e os Santuários, os TGVs e as novas pontes, os lucros das grandes empresas e da banca privada, a expropriação de terrenos, as novelas da luta contra a pobreza, os modelos capitalistas de voluntariado, a conversão caritativa dos ricos, a solidariedade de classes ou os jogos diplomáticos com base na subsidaridade (tu dás-me o que tens e eu faço aquilo que tu querias fazer), a usurpação de direitos e a escravização dos homens pelos homens.
Parecerá exagero mas todos estes factores estão presentes no acto eleitoral de Lisboa e têm projecção no resto do país.
Votemos com confiança e observemos aquilo que se irá passar.