Menosprezo da correlação ou desorientação?
No rescaldo da recente Greve Geral de 30 de Maio retornaram à superfície da sociedade a generalidade dos comentários normalmente transmitidos através dos média – portanto comentários controlados pelo bloco hegemónico ou do Poder –, comentários costumeiros nestas situações agudas de confronto: «classe contra classe». Com poucas variações, contudo tais comentários tinham obrigatoriamente de voltar – sobretudo para o público em geral que é suposto imaginar que a realidade da vida é a que lhes pespega os meios de comunicação social; esta tem a tarefa de convencê-los, mais ou menos, que a Greve Geral quase não aconteceu.
«Que pena a fraqueza demonstrada pelos sindicatos, eles que são tão importantes para levar a cabo os objectivos de desenvolvimento económico do nosso País» ou, como dizia o (in-)famoso Ferraz da Costa, «Faz sempre jeito aos patrões saberem o que os trabalhadores pensam e os sindicatos são um instrumento para isso (sic); mas hoje já nem tanto – foi o mesmo acrescentando na SIC Notícias –, com as novas organizações empresariais, mais espalmadas, com menos níveis hierárquicos, ou quase sem eles, os patrões comunicam mais directamente com os trabalhadores e os sindicatos já não são tão necessários (para o controlo dos trabalhadores, entenda-se). O outro, o celebérrimo da «rasquice» dos jovens actuais, que ele é um jornalista repetidor de trivialidades e patetices (concomitantes de uma extrema toleima), além de ser deputado do PS, se não erro: «Grande serviço que a CGTP prestou ao PM, a Sócrates e à sua governação. Pois é, os sindicatos só representam os empregados e não os desempregados, não lutam pela formação dos trabalhadores». Logo, o tal Ferraz da Costa: «A Educação está mal em Portugal e a culpa é dos sindicatos» – leitor, se julgares que este está passado terás alguma razão; de facto, ele e os outros imaginam que podem dizer as parvoíces que entenderem, tal é o desplante proporcionado por se acharem em terra completamente conquistada – enganam-se, mas julgam que é assim! Este Ferraz chegou a afirmar, óculos assestados para um papel, que no «privado» a adesão terá sido uns 1,5%, uma média entre 0,5% e uns 3%. Isto só de quem já nem dá por que os telespectadores não passam todos de uns patetas – disto «eles» estão convencidos. E tanto é assim, esta sensação de domínio absoluto de classe sobre os trabalhadores, que já se sentem com à vontade de criticarem os números do Governo, de gozarem com este, como fez o tal Ferraz da Costa, insinuando que as percentagens daquele são muito baixas relativamente à realidade, que o Governo não sabe defender tão bem, nem aproximadamente, a sua trincheira como o «privado». E como estes, muitos outros, Pachecos Pereiras, mais subliminares e portanto mais venenosos, e outros, em particular ministros, mais apatetados, que fizeram, melhor ou pior, a sua parte nesta orquestração.
Fazendo caminho
Mas também apareceu um argumento com alguma novidade. Sabendo que já não pode ser escondido o facto de os baixos salários serem o indicador principal do círculo vicioso de que a nossa economia não está a conseguir sair, começam a culpar os sindicatos do mal que leva o nosso País a não conseguir responder com um desenvolvimento indispensável à sua parte no «Mundo Global». Seria por culpa deles, dos sindicatos, do seu atraso, do seu dinossaurismo, da sua organização centralizada, que os salários não são mais elevados, não crescem. Com efeito, seria o convencimento dos sindicatos de que o aumento dos salários conduz a uma espiral de aumento de desemprego que leva à sua luta pela manutenção de um padrão de salários baixos no nosso País! Pois, tudo coordenado e mantido com mão firme centralmente. Libertados deste controlo central, os trabalhadores organizados localmente (curioso, isto faz lembrar o slogan do MRPP no movimento associativo estudantil dos primeiros anos da década de 70: «todo o poder aos cursos», ou algo semelhante), aconselham eles, os trabalhadores poderiam finalmente levar os patrões a aumentar os seus salários e a inovar, a melhorar os processos, a tornarem mais produtivas as suas empresas. Estranho, não é? Pois leiam o artigo, pejado de artilharia de ciência económica, publicado por um Professor com colaboração regular no Jornal de Negócios.
O certo é que cerca de milhão e meio de trabalhadores aderiram à Greve Geral e muitos mais estiveram do seu lado. Os caminhantes vão andando, fazem o seu caminho, como se comprova da sintomática emergente dos média.
«Que pena a fraqueza demonstrada pelos sindicatos, eles que são tão importantes para levar a cabo os objectivos de desenvolvimento económico do nosso País» ou, como dizia o (in-)famoso Ferraz da Costa, «Faz sempre jeito aos patrões saberem o que os trabalhadores pensam e os sindicatos são um instrumento para isso (sic); mas hoje já nem tanto – foi o mesmo acrescentando na SIC Notícias –, com as novas organizações empresariais, mais espalmadas, com menos níveis hierárquicos, ou quase sem eles, os patrões comunicam mais directamente com os trabalhadores e os sindicatos já não são tão necessários (para o controlo dos trabalhadores, entenda-se). O outro, o celebérrimo da «rasquice» dos jovens actuais, que ele é um jornalista repetidor de trivialidades e patetices (concomitantes de uma extrema toleima), além de ser deputado do PS, se não erro: «Grande serviço que a CGTP prestou ao PM, a Sócrates e à sua governação. Pois é, os sindicatos só representam os empregados e não os desempregados, não lutam pela formação dos trabalhadores». Logo, o tal Ferraz da Costa: «A Educação está mal em Portugal e a culpa é dos sindicatos» – leitor, se julgares que este está passado terás alguma razão; de facto, ele e os outros imaginam que podem dizer as parvoíces que entenderem, tal é o desplante proporcionado por se acharem em terra completamente conquistada – enganam-se, mas julgam que é assim! Este Ferraz chegou a afirmar, óculos assestados para um papel, que no «privado» a adesão terá sido uns 1,5%, uma média entre 0,5% e uns 3%. Isto só de quem já nem dá por que os telespectadores não passam todos de uns patetas – disto «eles» estão convencidos. E tanto é assim, esta sensação de domínio absoluto de classe sobre os trabalhadores, que já se sentem com à vontade de criticarem os números do Governo, de gozarem com este, como fez o tal Ferraz da Costa, insinuando que as percentagens daquele são muito baixas relativamente à realidade, que o Governo não sabe defender tão bem, nem aproximadamente, a sua trincheira como o «privado». E como estes, muitos outros, Pachecos Pereiras, mais subliminares e portanto mais venenosos, e outros, em particular ministros, mais apatetados, que fizeram, melhor ou pior, a sua parte nesta orquestração.
Fazendo caminho
Mas também apareceu um argumento com alguma novidade. Sabendo que já não pode ser escondido o facto de os baixos salários serem o indicador principal do círculo vicioso de que a nossa economia não está a conseguir sair, começam a culpar os sindicatos do mal que leva o nosso País a não conseguir responder com um desenvolvimento indispensável à sua parte no «Mundo Global». Seria por culpa deles, dos sindicatos, do seu atraso, do seu dinossaurismo, da sua organização centralizada, que os salários não são mais elevados, não crescem. Com efeito, seria o convencimento dos sindicatos de que o aumento dos salários conduz a uma espiral de aumento de desemprego que leva à sua luta pela manutenção de um padrão de salários baixos no nosso País! Pois, tudo coordenado e mantido com mão firme centralmente. Libertados deste controlo central, os trabalhadores organizados localmente (curioso, isto faz lembrar o slogan do MRPP no movimento associativo estudantil dos primeiros anos da década de 70: «todo o poder aos cursos», ou algo semelhante), aconselham eles, os trabalhadores poderiam finalmente levar os patrões a aumentar os seus salários e a inovar, a melhorar os processos, a tornarem mais produtivas as suas empresas. Estranho, não é? Pois leiam o artigo, pejado de artilharia de ciência económica, publicado por um Professor com colaboração regular no Jornal de Negócios.
O certo é que cerca de milhão e meio de trabalhadores aderiram à Greve Geral e muitos mais estiveram do seu lado. Os caminhantes vão andando, fazem o seu caminho, como se comprova da sintomática emergente dos média.