A evolução e o atraso português
O «analfabetismo» motor de que já Sílvio Lima se queixava nos anos de 1930 mantém-se, naturalmente não com a expressão dramática de então, mas, se tomada na devida conta a época em que vivemos e a situação comparativa com o resto da Europa, não perdeu uma gravidade actual indesmentível.
A situação evoluiu. À velha ginástica sueca sucedeu a «iniciação desportiva», depois a «educação pelo movimento» e alargou-se à prática desportiva sob novas formas. No presente a confusão doutrinária é completa, criando uma desorientação na formação dos técnicos que só é prejudicial para a sua afirmação social e para a definição dos caminhos a seguir para lutar contra os tradicionais hábitos de vida sedentária que caracterizam a população na sua generalidade.
Contudo, ao mesmo tempo que se verificou esta transformação, a característica selectiva da prática desportiva não se atenuou, a invasão dos interesses comerciais deu-se por todo o lado e tende a tornar-se hegemónica. Paralelamente também não se alteraram os métodos de estruturação da elite desportiva, que continuam assentes em processos e estruturas profundamente desactualizados e sem qualquer consistência.
Se, por um lado, o espectáculo desportivo e a alta competição, passaram a ter uma ressonância muito mais vasta em toda a Nação, por outro as condições de vida da generalidade da população continuaram a constituir um sério obstáculo ao acesso à prática desportiva generalizada.
Assim, a realidade é clara: a grande massa da população continua afastada da prática desportiva, tal como acontecia há 30 anos. A política seguida nestes últimos 15, 20 anos manifestou a falência da concepção do «desporto para todos», como o objectivo oficialmente definido.
Para além das medidas erradas e anti-populares, como a afectação dos orçamentos fundamentalmente à alta competição, beneficiando os grandes clubes promotores do espectáculo desportivo profissional, prejudicando a promoção do desporto escolar e deixando morrer à míngua a maioria dos clubes populares, são também as próprias concepções orientadoras que devem ser postas em causa. A «desintervenção» (falsa!) do Estado em nome da visão neoliberal do funcionamento da sociedade, a difusão da perspectiva de que o clube se deve transformar em empresa, o encorajamento da entrada dos interesses mercantilistas no desporto, a sua transformação num novo mercado de consumo, são concepções incapazes de responder às necessidades da grande massa popular e a um desporto autenticamente ao serviço das populações.
Imobilismo continua
Para quem anda nestas «coisas» do desporto há mais de 40 anos, o ciclo continua fechado: o problema é, hoje, quase tão grave e agudo como era na véspera do 25 de Abril de 1974. Os números falam por si: o número de praticantes inscritos nas federações mal chega, em termos reais, aos 3% do total da população (apesar de se apresentar a percentagem de 3,7% cujo rigor é inexistente pois não analisa e elimina a dupla e até a tripla inscrição que, frequentemente, caracteriza a situação do mesmo atleta). Continua a verificar-se autênticos escândalos, pelos vistos sem incomodar ninguém (o atletismo continua paulatinamente nos cerca de 12 000 inscritos desde há, pelo menos, 10 anos; o desporto para indivíduos portadores de deficiência 2768; a natação 7138; a vela 2917 (Ah! Grande País de marinheiros) e o xadrez 4449, e o número de mulheres inscritas é inferior a 70 000!). Entretanto tudo corre no melhor dos mundos, quer para os responsáveis políticos, quer para os responsáveis do Sistema Desportivo. Os meios de comunicação social só levemente e cada vez menos frequentemente, prestam atenção a estes fenómenos. Para a grande maioria dos dirigentes do espectáculo desportivo, a «ingenuidade» em referir este tipo de questões merecem-lhes unicamente um leve sorriso zombeteiro.
Durante o mesmo lapso de tempo a evolução dos outros países (não só europeus) deu-se, em alguns casos, de forma «explosiva» (em França quase que triplicou o número de praticantes federados que é, no presente de cerca de 13 milhões, na Finlândia 90% da população pratica regularmente actividade físico-desportiva, etc.).
Só para se ficar com a noção mais clara do imobilismo que caracteriza a nossa situação neste campo basta verificar que, comparada com a francesa, deveríamos possuir cerca de 2 milhões e 400 mil praticantes federados. Ora, a estatística oficial apresenta cerca de 400 000 (!?), ou seja, proporcionalmente ao número de habitantes dos dois países, cerca de 6 vezes menos.
As conclusões parecem fáceis de retirar e não necessitam de comentários.
A situação evoluiu. À velha ginástica sueca sucedeu a «iniciação desportiva», depois a «educação pelo movimento» e alargou-se à prática desportiva sob novas formas. No presente a confusão doutrinária é completa, criando uma desorientação na formação dos técnicos que só é prejudicial para a sua afirmação social e para a definição dos caminhos a seguir para lutar contra os tradicionais hábitos de vida sedentária que caracterizam a população na sua generalidade.
Contudo, ao mesmo tempo que se verificou esta transformação, a característica selectiva da prática desportiva não se atenuou, a invasão dos interesses comerciais deu-se por todo o lado e tende a tornar-se hegemónica. Paralelamente também não se alteraram os métodos de estruturação da elite desportiva, que continuam assentes em processos e estruturas profundamente desactualizados e sem qualquer consistência.
Se, por um lado, o espectáculo desportivo e a alta competição, passaram a ter uma ressonância muito mais vasta em toda a Nação, por outro as condições de vida da generalidade da população continuaram a constituir um sério obstáculo ao acesso à prática desportiva generalizada.
Assim, a realidade é clara: a grande massa da população continua afastada da prática desportiva, tal como acontecia há 30 anos. A política seguida nestes últimos 15, 20 anos manifestou a falência da concepção do «desporto para todos», como o objectivo oficialmente definido.
Para além das medidas erradas e anti-populares, como a afectação dos orçamentos fundamentalmente à alta competição, beneficiando os grandes clubes promotores do espectáculo desportivo profissional, prejudicando a promoção do desporto escolar e deixando morrer à míngua a maioria dos clubes populares, são também as próprias concepções orientadoras que devem ser postas em causa. A «desintervenção» (falsa!) do Estado em nome da visão neoliberal do funcionamento da sociedade, a difusão da perspectiva de que o clube se deve transformar em empresa, o encorajamento da entrada dos interesses mercantilistas no desporto, a sua transformação num novo mercado de consumo, são concepções incapazes de responder às necessidades da grande massa popular e a um desporto autenticamente ao serviço das populações.
Imobilismo continua
Para quem anda nestas «coisas» do desporto há mais de 40 anos, o ciclo continua fechado: o problema é, hoje, quase tão grave e agudo como era na véspera do 25 de Abril de 1974. Os números falam por si: o número de praticantes inscritos nas federações mal chega, em termos reais, aos 3% do total da população (apesar de se apresentar a percentagem de 3,7% cujo rigor é inexistente pois não analisa e elimina a dupla e até a tripla inscrição que, frequentemente, caracteriza a situação do mesmo atleta). Continua a verificar-se autênticos escândalos, pelos vistos sem incomodar ninguém (o atletismo continua paulatinamente nos cerca de 12 000 inscritos desde há, pelo menos, 10 anos; o desporto para indivíduos portadores de deficiência 2768; a natação 7138; a vela 2917 (Ah! Grande País de marinheiros) e o xadrez 4449, e o número de mulheres inscritas é inferior a 70 000!). Entretanto tudo corre no melhor dos mundos, quer para os responsáveis políticos, quer para os responsáveis do Sistema Desportivo. Os meios de comunicação social só levemente e cada vez menos frequentemente, prestam atenção a estes fenómenos. Para a grande maioria dos dirigentes do espectáculo desportivo, a «ingenuidade» em referir este tipo de questões merecem-lhes unicamente um leve sorriso zombeteiro.
Durante o mesmo lapso de tempo a evolução dos outros países (não só europeus) deu-se, em alguns casos, de forma «explosiva» (em França quase que triplicou o número de praticantes federados que é, no presente de cerca de 13 milhões, na Finlândia 90% da população pratica regularmente actividade físico-desportiva, etc.).
Só para se ficar com a noção mais clara do imobilismo que caracteriza a nossa situação neste campo basta verificar que, comparada com a francesa, deveríamos possuir cerca de 2 milhões e 400 mil praticantes federados. Ora, a estatística oficial apresenta cerca de 400 000 (!?), ou seja, proporcionalmente ao número de habitantes dos dois países, cerca de 6 vezes menos.
As conclusões parecem fáceis de retirar e não necessitam de comentários.