Diz-me com quem andas...

Margarida Botelho
O Grupo Espírito Santo inaugurou com a presença do Presidente da República e de dois ministros o seu novo investimento na área da saúde: o Hospital da Luz, em Lisboa, apresentado como uma das mais modernas unidades de saúde da Europa. Cada consulta de urgência custa 90€ e o internamento diário pode chegar aos 240€. O Hospital inclui uma Maternidade, a que não consta que o Governo tenha exigido mil partos por ano, como fez às que encerrou pelo país fora. Por «política do grupo» o Hospital da Luz não fará interrupções voluntárias da gravidez, seja em que circunstâncias for.
Um Hospital que, nas palavras de uma das administradoras, «não é só para ricos». Tem acordos com 15 companhias de seguros e com a ADSE que, sozinha, garantirá 20% da facturação prevista. Um grande negócio para o Grupo Espírito Santo, que deixa bem clara qual é a verdadeira opção deste Governo para a saúde: destruir o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e abrir espaço para que os grupos privados o substituam. Como reconheceu recentemente um investidor da área: «as medidas do Governo estão a potenciar o crescimento do mercado». Pudera!
Em protesto à porta da inauguração ficou a população de Carnide, freguesia lisboeta com mais de 21 mil habitantes, 7 mil sem médico de família, com terreno cedido pela Câmara à espera que o Governo decida construir o novo Centro de Saúde.
Só na semana em que o Governo e o Presidente da República comemoraram o investimento do Grupo Espírito Santo, realizaram-se mais cinco manifestações em defesa do SNS: 5 mil pessoas pela construção do novo Hospital no Seixal, mil contra o encerramento das urgências do Hospital de Anadia, 200 exigiram médicos nas extensões de saúde em Torres Novas, mais de 600 contra o encerramento do SAP de Sesimbra. Para além do desfile do PCP para entregar as 100 mil assinaturas recolhidas durante a campanha «A saúde é um direito, não é um negócio.»
Além do legítimo descontentamento e da disponibilidade para lutar pelo que é seu por direito, outro facto uniu as manifestações do Seixal, da Anadia, de Torres Novas e de Sesimbra: a presença dos eleitos e dos dirigentes comunistas, solidários e empenhados na luta. Enquanto o Governo e o Presidente da República escolhem para companhia o Grupo Espírito Santo, o PCP escolhe, como não podia deixar de ser, as populações em luta em defesa do SNS. Caso para dizer: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és...


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