Os votos dos franceses…
Contados os votos importa analisar as eleições presidenciais em França que ficarão para a História deste país confrontado com uma grave crise económica e social e que decerto influenciarão o resultado das eleições legislativas marcadas para Junho próximo.
Há um «escorregamento» para a direita do espectro partidário francês
Este será, sem dúvida, o principal factor que fará com que esta primeira volta fique gravada na história contemporânea da república francesa. Mais de 37 milhões de franceses foram às urnas no passado Domingo, representando uma participação recorde de cerca de 85 por cento dos inscritos - o mais alto valor desde 1965. As razões de tão alta mobilização e de um comportamento, quer dos candidatos quer dos eleitores, característicos de uma segunda volta são várias, nomeadamente o exacerbar do presidencialismo, ao melhor estilo «americano»; uma campanha eleitoral de vários meses e altamente mediatizada e o «trauma» de 2002 em que a escolha na segunda volta teve de ser feita entre Chirac e Le Pen, ou seja entre a direita e a extrema direita.
Mas, esta elevada participação eleitoral - nomeadamente da juventude segundo alguns estudos de opinião - não pode também ser desligada das actuais contradições na sociedade francesa e dos intensos processos de luta que a percorreram recentemente. A «revolta dos jovens dos subúrbios» com tudo o que implicou de reflexão sobre as desigualdades gritantes e a «solidez» dos três pilares da república - «Liberdade, Igualdade, Fraternidade»; a luta dos jovens, trabalhadores e estudantes, na luta contra o ultraliberal Contrato do Primeiro Emprego que abalou o governo e obrigou Chirac a revogar a lei, e por fim o «terramoto» político que constituiu a vitória do «Não» no referendo ao tratado constitucional europeu em Maio de 2005, são factores que pesaram certamente numa maior mobilização eleitoral.
Este é um facto que, independentemente dos resultados finais, se poderá traduzir numa maior possibilidade de intervenção para as forças que queiram continuar a apostar na luta social e na mobilização das massas como factor incontornável para uma ruptura política e democrática de sentido progressista.
Divisão ou «centrão»?
Se é verdade que a luta social politizou, do lado dos eleitores, estas eleições, que cumpriram o seu papel e acorreram em massa aos comícios e às urnas, o mesmo não se poderá dizer dos principais protagonistas destas eleições. Analistas «encartados», apontam, após esta primeira volta, uma França dividida a meio. Tal divisão existirá mas, infelizmente, não em torno de modelos de desenvolvimento para ultrapassar a crise.
A divisão existente espelha aquilo que de mais negativo se pode retirar desta primeira volta: um escorregamento para a direita do espectro partidário francês. Le Pen manteve-se igual a si próprio. Sarkozy foi à extrema direita buscar votos «esvaziou» Le Pen e está claramente à direita da direita de Chirac, que por sinal já lhe expressou o seu apoio por duas vezes, apesar das guerras «intestinas» dentro da UMP.
Ségolène Royal elegeu a terceira via de Blair como o seu modelo, apesar da correcção de tiro a que se viu obrigada a recorrer no final da campanha para garantir à sua esquerda o voto «útil» anti-Sarkozy – que, diga-se, erodiu fortemente o eleitorado do PCF e será uma das razões do seu modesto resultado. Bayrou tentou a síntese e prepara-se para fazer uso dos seus estratégicos 18% para nas legislativas se afirmar como a charneira que poderá, ou «puxar» ainda mais o PS para o flanco do neoliberalismo, ou viabilizar um governo de direita/extrema direita. Se dúvidas houvesse sobre a cortina de fumo lançada sobre o eleitorado francês, bastaria por exemplo, analisar os programas dos três principais candidatos sobre a União Europeia e concluir que com mais ou menos referendo, com mega ou mini-tratado, com mais ou menos «eixo transatlântico» o rumo que defendem para a União Europeia é o actualmente defendido pela classe dominante. Existe de facto uma divisão, mas somente entre aqueles que apoiam ou aceitam ter como presidente o pró-fascista Sarkozy - um «homem perigoso» como afirmou Marie George Buffet - e aqueles que, mesmo reconhecendo, de forma benevolente diga-se, «as insuficiências e ambiguidades da candidata socialista» tentarão tudo por tudo para não ver no palácio do Eliseu uma direita mais à direita da direita que actualmente o habita.
Mesmo para aqueles que, como nós, olham de fora para estas eleições, compreende-se a importância da batalha e não será indiferente a vitória de Sarkozy ou de Ségolène. Mas, simultaneamente, não se poderá iludir o facto de que, mesmo sem os resultados da 2.ª volta, a política de direita e o «centrão» do neoliberalismo, da Estratégia de Lisboa, da directiva Bolkenstein, poderão ser os grandes vencedores destas eleições. Neste quadro, reconhecendo o esforço por si realizado para centrar a campanha nas questões que realmente mexem com a vida dos trabalhadores e do povo francês e registando o carácter de massas que a sua campanha adquiriu, é importante, independentemente de diferenças várias existentes, expressarmos aos comunistas franceses a nossa solidariedade.
Mas, esta elevada participação eleitoral - nomeadamente da juventude segundo alguns estudos de opinião - não pode também ser desligada das actuais contradições na sociedade francesa e dos intensos processos de luta que a percorreram recentemente. A «revolta dos jovens dos subúrbios» com tudo o que implicou de reflexão sobre as desigualdades gritantes e a «solidez» dos três pilares da república - «Liberdade, Igualdade, Fraternidade»; a luta dos jovens, trabalhadores e estudantes, na luta contra o ultraliberal Contrato do Primeiro Emprego que abalou o governo e obrigou Chirac a revogar a lei, e por fim o «terramoto» político que constituiu a vitória do «Não» no referendo ao tratado constitucional europeu em Maio de 2005, são factores que pesaram certamente numa maior mobilização eleitoral.
Este é um facto que, independentemente dos resultados finais, se poderá traduzir numa maior possibilidade de intervenção para as forças que queiram continuar a apostar na luta social e na mobilização das massas como factor incontornável para uma ruptura política e democrática de sentido progressista.
Divisão ou «centrão»?
Se é verdade que a luta social politizou, do lado dos eleitores, estas eleições, que cumpriram o seu papel e acorreram em massa aos comícios e às urnas, o mesmo não se poderá dizer dos principais protagonistas destas eleições. Analistas «encartados», apontam, após esta primeira volta, uma França dividida a meio. Tal divisão existirá mas, infelizmente, não em torno de modelos de desenvolvimento para ultrapassar a crise.
A divisão existente espelha aquilo que de mais negativo se pode retirar desta primeira volta: um escorregamento para a direita do espectro partidário francês. Le Pen manteve-se igual a si próprio. Sarkozy foi à extrema direita buscar votos «esvaziou» Le Pen e está claramente à direita da direita de Chirac, que por sinal já lhe expressou o seu apoio por duas vezes, apesar das guerras «intestinas» dentro da UMP.
Ségolène Royal elegeu a terceira via de Blair como o seu modelo, apesar da correcção de tiro a que se viu obrigada a recorrer no final da campanha para garantir à sua esquerda o voto «útil» anti-Sarkozy – que, diga-se, erodiu fortemente o eleitorado do PCF e será uma das razões do seu modesto resultado. Bayrou tentou a síntese e prepara-se para fazer uso dos seus estratégicos 18% para nas legislativas se afirmar como a charneira que poderá, ou «puxar» ainda mais o PS para o flanco do neoliberalismo, ou viabilizar um governo de direita/extrema direita. Se dúvidas houvesse sobre a cortina de fumo lançada sobre o eleitorado francês, bastaria por exemplo, analisar os programas dos três principais candidatos sobre a União Europeia e concluir que com mais ou menos referendo, com mega ou mini-tratado, com mais ou menos «eixo transatlântico» o rumo que defendem para a União Europeia é o actualmente defendido pela classe dominante. Existe de facto uma divisão, mas somente entre aqueles que apoiam ou aceitam ter como presidente o pró-fascista Sarkozy - um «homem perigoso» como afirmou Marie George Buffet - e aqueles que, mesmo reconhecendo, de forma benevolente diga-se, «as insuficiências e ambiguidades da candidata socialista» tentarão tudo por tudo para não ver no palácio do Eliseu uma direita mais à direita da direita que actualmente o habita.
Mesmo para aqueles que, como nós, olham de fora para estas eleições, compreende-se a importância da batalha e não será indiferente a vitória de Sarkozy ou de Ségolène. Mas, simultaneamente, não se poderá iludir o facto de que, mesmo sem os resultados da 2.ª volta, a política de direita e o «centrão» do neoliberalismo, da Estratégia de Lisboa, da directiva Bolkenstein, poderão ser os grandes vencedores destas eleições. Neste quadro, reconhecendo o esforço por si realizado para centrar a campanha nas questões que realmente mexem com a vida dos trabalhadores e do povo francês e registando o carácter de massas que a sua campanha adquiriu, é importante, independentemente de diferenças várias existentes, expressarmos aos comunistas franceses a nossa solidariedade.