Espaço de debate diferente e útil
O Seminário Internacional «Los Partidos Y Una Nueva Sociedad», promovido pelo Partido do Trabalho do México-PT, é um acontecimento importante para o debate de ideias no Continente Americano.
O XI Seminário, este ano, confirmou a tradição. Durante três dias, de 9 a 11 de Março, 616 delegados, de 43 países, representando mais de uma centena de partidos e organizações de todos os continentes, reunidos na capital mexicana discutiram os grandes problemas da humanidade, num momento de crise civilizacional.
O temário era amplo: Balanço dos processos políticos eleitorais e experiências de governos de centro esquerda; livre autodeterminação de povos, recursos naturais e defesa contra agressões imperialistas; e assuntos de conjuntura.
Dirigentes políticos, cientistas sociais, parlamentares, economistas, escritores procederam de alguma maneira àquilo a que se poderia chamar um diagnóstico do estado do mundo, dedicando atenção especial à América Latina.
Este Seminário difere de outros na aparência similares por ser um espaço polémico aberto à defesa de ideias com frequência contraditórias. O hino do PT é o «Venceremos», a sua meta programática é o Socialismo, a Internacional canta-se no plenário e o partido edita os clássicos do marxismo. Tal como em anos anteriores todos os oradores se assumiram como antineoliberais e anti-imperialistas. Mas a palavra socialismo esteve ausente do discurso de muitos deles. O conceito de esquerda tornou-se tão fluido no mundo contemporâneo que em algumas intervenções o brasileiro Lula, o argentino Kirchner, o uruguaio Tabaré Vasquez, a chilena Bachelet foram apresentados como se fossem reformistas revolucionários apesar de desenvolverem políticas neoliberais. Trotskistas do Prata identificaram na política de submissão ao imperialismo da chilena Michele Bachelet uma estratégia socialista.
Chamaram muito a atenção as intervenções dos representantes dos partidos comunistas da Federação Russa, da China, do Vietname e Cuba.
Num acontecimento desta natureza torna-se difícil destacar esta ou aquela comunicação. Não tive aliás a possibilidade de acompanhar todas porque simultaneamente se reuniu na capital mexicana uma Conferência Nacional de Solidariedade com o povo da Colômbia e desloquei-me ali para intervir e expressar a minha solidariedade com a luta das FARC-EP.
Como se esperava, as intervenções dos representantes do triângulo Venezuela-Equador-Bolívia despertaram muito interesse. O plenário demonstrou ser sensível à firmeza com que os presidentes desses três países enfrentam o imperialismo, desenvolvendo políticas progressistas orientadas para a ruptura do sistema de dominação. E Cuba, obviamente, foi muito aclamada pela sua heróica resistência na guerra não declarada que lhe movem os EUA.
Luta dos povos
O Seminário começou muito bem com uma conferência do economista Julio Gambina que esboçou com lucidez um panorama da crise global que atinge a humanidade, situando nela as lutas em ascensão dos povos da América Latina e o debate teórico sobre os caminhos a percorrer rumo ao socialismo distante.
Os franceses Georges Labica – um dos mais eminentes filósofos marxistas contemporâneos – e Remy Herrera esboçaram com rigor o quadro em que se desenvolvem as lutas do povo das França, e a italiana Marina Minicuci iluminou o funcionamento da engrenagem perversa e mal conhecida do Vaticano por ela definido como «o Estado mais pequeno e mais pernicioso do mundo».
Vladimir Lakeev, do Partido Comunista da Federação Russa, apresentou uma comunicação muito interessante. Depois de lembrar que a vitalidade do seu Partido desmente a previsão de Ieltsine (amigavelmente anunciada a Bush pai) de que tinha acabado o comunismo na Rússia, Lakeev sublinhou que a Revolução de Outubro contribuiu para o auge do movimento revolucionário mundial e deixou uma herança imperecível à humanidade. Concluiu afirmando que o objectivo do Partido da Federação Russa é a restauração do Socialismo no seu país.
Ainda pela Europa, a espanhola Angeles Maestro, da Corriente Roja, emocionou o plenário ao criticar numa bem documentada comunicação a falta de memória dos povos perante agressão sionista ao Líbano e à Palestina martirizada, e ao denunciar os crimes contra a humanidade cometidos pelo imperialismo no Iraque e no Afeganistão ocupados e vandalizados.
Registei que o equatoriano Victor Hugo Jijon – um dos mais respeitados especialistas em hidrocarbonetos da América – apresentou uma importante comunicação sobre temas inseparáveis da escassez dramática de petróleo resultante da estratégia de dominação e esbanjamento de recursos do imperialismo.
O cubano Roberto Regalado levou ao Seminário, como em anos anteriores, um trabalho de muita qualidade e alto nível ideológico.
Os economistas chilenos Orlando Caputo e Graciela Galarce apresentaram um estudo notável sobre o Capital Produtivo e o Capital Financeiro na Economia Mundial e na América Latina. Desmascararam simultaneamente a política neoliberal da actual presidente do Chile, Michele Bachelet.
Surpresa colombiana
A participação de Ollanta Humala, que foi candidato à Presidência nas últimas eleições peruanas, era aguardada com muita expectativa. Na minha opinião as suas duas intervenções foram decepcionantes. Coube-lhe a honra de pronunciar o discurso de encerramento. E não esteve à altura da tarefa. Faltou conteúdo à sua mensagem.
A surpresa maior do Seminário foi a intervenção da senadora colombiana Piedad Córdoba. Eleita pelo Partido Liberal, uma organização submissa ao imperialismo, comprometida no apoio a políticas neoliberais, a sua comunicação empolgou o plenário que a aclamou de pé na mais prolongada e quente ovação do Seminário.
«Lançando um apelo à coerência na acção – declarou a terminar – considero-me obrigada a alertar para a instabilidade que envolve a região ao manter relações formais com um governo mentiroso e fascista como o que encarna Álvaro Uribe na Colômbia».
Exemplo comovente de coragem e dignidade o de Piedad, consciente do risco que assumiu ao desafiar o presidente fascista Uribe, o aliado número um de Bush na América Latina.
Muito saudadas também foram as comunicações enviadas pelas FARC e pelo ELN, organizações revolucionárias colombianas que não puderam enviar representantes por terem sido incluídas na lista de movimentos «terroristas» após exigência de Washington.
O senador Alberto Anaya, o mais destacado dirigente do PT, pronunciou um importante discurso. O tema foi o «Processo eleitoral de 2006 no México».
Professor de Economia e intelectual de prestígio nacional, Anaya, que desempenhou um papel decisivo na adesão do seu partido à coligação «Por el Bien de Todos», que lançou a candidatura de Andres Manuel Lopez Obrador à Presidência, apresentou uma comunicação na qual são identificáveis as contradições de um país que exibe a cultura mais fascinante da América Latina. É um facto que somente uma gigantesca fraude impediu Lopez Obrador de ser hoje o Presidente do México. Mas é também oportuno recordar que em momento algum o candidato defendeu o socialismo. É um reformador cujo programa tinha poucas afinidades com o do PT, partido que proclama a sua fidelidade ao marxismo e cuja meta oficial é o socialismo.
O XI Seminário, como os anteriores, não emitiu Declaração Final. Mas foram aprovadas resoluções que expressaram, conforme os casos, solidariedade ou condenação. Entre outras as que envolveram Cuba, a Venezuela, a Bolívia, o Equador, a Nicarágua, El Salvador, Porto Rico, a China, a Rússia, o Iraque, os povos do Líbano, da Palestina, do Irão, da França, da Colômbia e a condenação do imperialismo norte-americano, o grande inimigo da humanidade, com mais de 750 bases militares semeadas pelo planeta.
O XI Seminário do PT mexicano atingiu mais uma vez o seu objectivo. Foi uma contribuição valiosa para o debate de ideias sobre a crise global que a humanidade enfrenta e um incentivo à luta dos povos por um mundo diferente e melhor do que o actual.
Dirigentes políticos, cientistas sociais, parlamentares, economistas, escritores procederam de alguma maneira àquilo a que se poderia chamar um diagnóstico do estado do mundo, dedicando atenção especial à América Latina.
Este Seminário difere de outros na aparência similares por ser um espaço polémico aberto à defesa de ideias com frequência contraditórias. O hino do PT é o «Venceremos», a sua meta programática é o Socialismo, a Internacional canta-se no plenário e o partido edita os clássicos do marxismo. Tal como em anos anteriores todos os oradores se assumiram como antineoliberais e anti-imperialistas. Mas a palavra socialismo esteve ausente do discurso de muitos deles. O conceito de esquerda tornou-se tão fluido no mundo contemporâneo que em algumas intervenções o brasileiro Lula, o argentino Kirchner, o uruguaio Tabaré Vasquez, a chilena Bachelet foram apresentados como se fossem reformistas revolucionários apesar de desenvolverem políticas neoliberais. Trotskistas do Prata identificaram na política de submissão ao imperialismo da chilena Michele Bachelet uma estratégia socialista.
Chamaram muito a atenção as intervenções dos representantes dos partidos comunistas da Federação Russa, da China, do Vietname e Cuba.
Num acontecimento desta natureza torna-se difícil destacar esta ou aquela comunicação. Não tive aliás a possibilidade de acompanhar todas porque simultaneamente se reuniu na capital mexicana uma Conferência Nacional de Solidariedade com o povo da Colômbia e desloquei-me ali para intervir e expressar a minha solidariedade com a luta das FARC-EP.
Como se esperava, as intervenções dos representantes do triângulo Venezuela-Equador-Bolívia despertaram muito interesse. O plenário demonstrou ser sensível à firmeza com que os presidentes desses três países enfrentam o imperialismo, desenvolvendo políticas progressistas orientadas para a ruptura do sistema de dominação. E Cuba, obviamente, foi muito aclamada pela sua heróica resistência na guerra não declarada que lhe movem os EUA.
Luta dos povos
O Seminário começou muito bem com uma conferência do economista Julio Gambina que esboçou com lucidez um panorama da crise global que atinge a humanidade, situando nela as lutas em ascensão dos povos da América Latina e o debate teórico sobre os caminhos a percorrer rumo ao socialismo distante.
Os franceses Georges Labica – um dos mais eminentes filósofos marxistas contemporâneos – e Remy Herrera esboçaram com rigor o quadro em que se desenvolvem as lutas do povo das França, e a italiana Marina Minicuci iluminou o funcionamento da engrenagem perversa e mal conhecida do Vaticano por ela definido como «o Estado mais pequeno e mais pernicioso do mundo».
Vladimir Lakeev, do Partido Comunista da Federação Russa, apresentou uma comunicação muito interessante. Depois de lembrar que a vitalidade do seu Partido desmente a previsão de Ieltsine (amigavelmente anunciada a Bush pai) de que tinha acabado o comunismo na Rússia, Lakeev sublinhou que a Revolução de Outubro contribuiu para o auge do movimento revolucionário mundial e deixou uma herança imperecível à humanidade. Concluiu afirmando que o objectivo do Partido da Federação Russa é a restauração do Socialismo no seu país.
Ainda pela Europa, a espanhola Angeles Maestro, da Corriente Roja, emocionou o plenário ao criticar numa bem documentada comunicação a falta de memória dos povos perante agressão sionista ao Líbano e à Palestina martirizada, e ao denunciar os crimes contra a humanidade cometidos pelo imperialismo no Iraque e no Afeganistão ocupados e vandalizados.
Registei que o equatoriano Victor Hugo Jijon – um dos mais respeitados especialistas em hidrocarbonetos da América – apresentou uma importante comunicação sobre temas inseparáveis da escassez dramática de petróleo resultante da estratégia de dominação e esbanjamento de recursos do imperialismo.
O cubano Roberto Regalado levou ao Seminário, como em anos anteriores, um trabalho de muita qualidade e alto nível ideológico.
Os economistas chilenos Orlando Caputo e Graciela Galarce apresentaram um estudo notável sobre o Capital Produtivo e o Capital Financeiro na Economia Mundial e na América Latina. Desmascararam simultaneamente a política neoliberal da actual presidente do Chile, Michele Bachelet.
Surpresa colombiana
A participação de Ollanta Humala, que foi candidato à Presidência nas últimas eleições peruanas, era aguardada com muita expectativa. Na minha opinião as suas duas intervenções foram decepcionantes. Coube-lhe a honra de pronunciar o discurso de encerramento. E não esteve à altura da tarefa. Faltou conteúdo à sua mensagem.
A surpresa maior do Seminário foi a intervenção da senadora colombiana Piedad Córdoba. Eleita pelo Partido Liberal, uma organização submissa ao imperialismo, comprometida no apoio a políticas neoliberais, a sua comunicação empolgou o plenário que a aclamou de pé na mais prolongada e quente ovação do Seminário.
«Lançando um apelo à coerência na acção – declarou a terminar – considero-me obrigada a alertar para a instabilidade que envolve a região ao manter relações formais com um governo mentiroso e fascista como o que encarna Álvaro Uribe na Colômbia».
Exemplo comovente de coragem e dignidade o de Piedad, consciente do risco que assumiu ao desafiar o presidente fascista Uribe, o aliado número um de Bush na América Latina.
Muito saudadas também foram as comunicações enviadas pelas FARC e pelo ELN, organizações revolucionárias colombianas que não puderam enviar representantes por terem sido incluídas na lista de movimentos «terroristas» após exigência de Washington.
O senador Alberto Anaya, o mais destacado dirigente do PT, pronunciou um importante discurso. O tema foi o «Processo eleitoral de 2006 no México».
Professor de Economia e intelectual de prestígio nacional, Anaya, que desempenhou um papel decisivo na adesão do seu partido à coligação «Por el Bien de Todos», que lançou a candidatura de Andres Manuel Lopez Obrador à Presidência, apresentou uma comunicação na qual são identificáveis as contradições de um país que exibe a cultura mais fascinante da América Latina. É um facto que somente uma gigantesca fraude impediu Lopez Obrador de ser hoje o Presidente do México. Mas é também oportuno recordar que em momento algum o candidato defendeu o socialismo. É um reformador cujo programa tinha poucas afinidades com o do PT, partido que proclama a sua fidelidade ao marxismo e cuja meta oficial é o socialismo.
O XI Seminário, como os anteriores, não emitiu Declaração Final. Mas foram aprovadas resoluções que expressaram, conforme os casos, solidariedade ou condenação. Entre outras as que envolveram Cuba, a Venezuela, a Bolívia, o Equador, a Nicarágua, El Salvador, Porto Rico, a China, a Rússia, o Iraque, os povos do Líbano, da Palestina, do Irão, da França, da Colômbia e a condenação do imperialismo norte-americano, o grande inimigo da humanidade, com mais de 750 bases militares semeadas pelo planeta.
O XI Seminário do PT mexicano atingiu mais uma vez o seu objectivo. Foi uma contribuição valiosa para o debate de ideias sobre a crise global que a humanidade enfrenta e um incentivo à luta dos povos por um mundo diferente e melhor do que o actual.