Média condicionam opinião pública -1
A falta de objectividade a nível dos média, que leva muitos dos jornalistas a não cruzar fontes de informação diferentes e a não divulgar opiniões diferentes, é cada vez mais frequente. O exemplo mais recente é o «conselho» dado a Portugal pela OCDE para liberalizar ainda mais os despedimentos individuais, que foi transformado por muitos jornalistas em verdade absoluta, inquestionável e única e assim transmitido à opinião publica. Assiste-se ainda à tendência de certos profissionais para fazer passar como suas ou como posição dos jornais em que trabalham as opiniões e informações de entidades interessadas em condicionar a opinião pública, bem como em ajustar o que publicam às posições do poder político e mesmo económico. Isto não significa que não existam jornalistas, e felizmente ainda existem muitos, que resistem a «esta onda», pautando a sua conduta pela objectividade e rigor.
Ver SALÁRIOS NA UE (Eurostat)
Nestes dois artigos que agora iniciamos, vamos analisar apenas dois casos que são paradigmáticos e ao mesmo tempo merecem uma reflexão atenta porque utilizam a mentira e a manipulação para condicionar a opinião pública. Estes casos situam-se na área da economia, que é aquela que dominamos. O primeiro, refere-se a um artigo publicado no dia 12 de Fevereiro de 2007, no Diário de Notícias, suplemento de Economia, por Manuel Esteves, e o segundo caso diz respeito a duas peças de Daniel Amaral – um convidado da direcção do Expresso, que tem um espaço quinzenal reservado neste semanário para opinar sobre questões económicas –, publicadas em 6.1.2007 e em 3.2.2007.
Na análise destes dois casos vamos apresentar os factos para que o próprio leitor possa tirar também as suas próprias conclusões.
No seu artigo, com o título «Ganhos de Produtividade favorecem lucros em detrimento dos salários», Manuel Esteves, um jornalista do caderno de economia do DN, utilizando um estudo do FMI escreveu que «os ganhos de produtividade obtidos nas principais economias têm vindo a reflectir-se essencialmente nos lucros e cada vez menos nos salários». Como consequência, tem-se registado uma «redução da percentagem da riqueza destinada aos trabalhadores nos últimos anos em favor dos proprietários das empresas». E na parte final do artigo acrescenta um pequeno texto já mais da sua lavra com o título: «Portugal foge à tendência geral» em que diz o seguinte: «Acontece que esta tendência internacional não parece verificar-se em Portugal. Dados também da Comissão Europeia mostram que em 2005 os salários em Portugal receberam 62,5% do produto interno bruto (PIB), o que corresponde ao valor mais elevado da zona euro. Entre os 25 países da UE apenas o Reino Unido apresenta valores superiores» (sic).
Basta ver e tirar a conclusão
Confrontemos o que escreveu Manuel Esteves, jornalista da redacção de economia do Diário de Notícias, com dados recentes (ver QUADRO >>) divulgados pelo Eurostat, que é o serviço oficial de estatística da União Europeia. Os dados estão disponíveis no site do Eurostat, pelo que qualquer leitor poderá aceder directamente a eles pela Internet.
Como o próprio leitor pode concluir, contrariamente ao que escreveu Manuel Esteves, não é verdade que «em 2005, os salários em Portugal receberam 62,5% do produto interno bruto (PIB)», não é verdade que seja superior aos países da zona euro, nem é verdade que, «entre os 25 países da U.E. apenas o Reino Unido apresenta valores superiores».
Efectivamente, em 2005, a percentagem para Portugal era apenas de 47,4% do PIB, sendo esta inferior à média da zona euro (48%), e existiam muitos mais países da UE25 do que o Reino Unido que apresentavam percentagens superiores à portuguesa. Só isso explica que a percentagem para Portugal nesses ano fosse 47,4% do PIB, e a percentagem média para a UE25, nesse mesmo ano, atingisse 49,2% do PIB.
E a mentira ainda se torna maior se se tiver presente que Manuel Esteves refere salários, portanto os 62,5% não incluem as contribuições patronais para a Segurança Social, mas a percentagem de 47,4% do PIB calculada pelo Eurostat para Portugal inclui as contribuições patronais para a Segurança Social. Se se retirar estas contribuições o valor calculado pelo Eurostat para Portugal – 47,4% do PIB – reduz-se para apenas 37,4% , o que significa menos 25,1 pontos percentuais que a percentagem referida por Manuel Esteves. Em valor de salários, 25,1 pontos percentuais corresponde a mais 37 650 milhões de euros. É precisamente este valor que Manuel Esteves afirmou que os trabalhadores portugueses receberam a mais de salários do que aquilo que efectivamente receberam.
É desta forma que se condiciona a opinião pública e que se justiça e branqueia a actual política do governo de redução continuada dos salários reais dos trabalhadores. Os fins parecem justificar os meios, ou seja, a utilização da mentira. Mesmo em 1975, que foi o ano em que reverteu para os trabalhadores uma maior parte do PIB, a percentagem foi apenas de 59%. Era evidente para qualquer pessoa que dominasse minimamente esta matéria que os salários, em 2005, não podiam corresponder a 62,5% do PIB. Só não o foi para o jornalista especializado da área de economia do Diário de Noticias. Será que ele terá a humildade e a coragem de corrigir o erro no mesmo jornal e dando o mesmo relevo que deu à notícia anterior, não deixando os leitores no engano? Esperamos para ver qual é a linha editorial deste jornal diário em relação a casos como este. Será enganar os leitores e mantê-los depois no engano quando tal é detectado?
Na análise destes dois casos vamos apresentar os factos para que o próprio leitor possa tirar também as suas próprias conclusões.
No seu artigo, com o título «Ganhos de Produtividade favorecem lucros em detrimento dos salários», Manuel Esteves, um jornalista do caderno de economia do DN, utilizando um estudo do FMI escreveu que «os ganhos de produtividade obtidos nas principais economias têm vindo a reflectir-se essencialmente nos lucros e cada vez menos nos salários». Como consequência, tem-se registado uma «redução da percentagem da riqueza destinada aos trabalhadores nos últimos anos em favor dos proprietários das empresas». E na parte final do artigo acrescenta um pequeno texto já mais da sua lavra com o título: «Portugal foge à tendência geral» em que diz o seguinte: «Acontece que esta tendência internacional não parece verificar-se em Portugal. Dados também da Comissão Europeia mostram que em 2005 os salários em Portugal receberam 62,5% do produto interno bruto (PIB), o que corresponde ao valor mais elevado da zona euro. Entre os 25 países da UE apenas o Reino Unido apresenta valores superiores» (sic).
Basta ver e tirar a conclusão
Confrontemos o que escreveu Manuel Esteves, jornalista da redacção de economia do Diário de Notícias, com dados recentes (ver QUADRO >>) divulgados pelo Eurostat, que é o serviço oficial de estatística da União Europeia. Os dados estão disponíveis no site do Eurostat, pelo que qualquer leitor poderá aceder directamente a eles pela Internet.
Como o próprio leitor pode concluir, contrariamente ao que escreveu Manuel Esteves, não é verdade que «em 2005, os salários em Portugal receberam 62,5% do produto interno bruto (PIB)», não é verdade que seja superior aos países da zona euro, nem é verdade que, «entre os 25 países da U.E. apenas o Reino Unido apresenta valores superiores».
Efectivamente, em 2005, a percentagem para Portugal era apenas de 47,4% do PIB, sendo esta inferior à média da zona euro (48%), e existiam muitos mais países da UE25 do que o Reino Unido que apresentavam percentagens superiores à portuguesa. Só isso explica que a percentagem para Portugal nesses ano fosse 47,4% do PIB, e a percentagem média para a UE25, nesse mesmo ano, atingisse 49,2% do PIB.
E a mentira ainda se torna maior se se tiver presente que Manuel Esteves refere salários, portanto os 62,5% não incluem as contribuições patronais para a Segurança Social, mas a percentagem de 47,4% do PIB calculada pelo Eurostat para Portugal inclui as contribuições patronais para a Segurança Social. Se se retirar estas contribuições o valor calculado pelo Eurostat para Portugal – 47,4% do PIB – reduz-se para apenas 37,4% , o que significa menos 25,1 pontos percentuais que a percentagem referida por Manuel Esteves. Em valor de salários, 25,1 pontos percentuais corresponde a mais 37 650 milhões de euros. É precisamente este valor que Manuel Esteves afirmou que os trabalhadores portugueses receberam a mais de salários do que aquilo que efectivamente receberam.
É desta forma que se condiciona a opinião pública e que se justiça e branqueia a actual política do governo de redução continuada dos salários reais dos trabalhadores. Os fins parecem justificar os meios, ou seja, a utilização da mentira. Mesmo em 1975, que foi o ano em que reverteu para os trabalhadores uma maior parte do PIB, a percentagem foi apenas de 59%. Era evidente para qualquer pessoa que dominasse minimamente esta matéria que os salários, em 2005, não podiam corresponder a 62,5% do PIB. Só não o foi para o jornalista especializado da área de economia do Diário de Noticias. Será que ele terá a humildade e a coragem de corrigir o erro no mesmo jornal e dando o mesmo relevo que deu à notícia anterior, não deixando os leitores no engano? Esperamos para ver qual é a linha editorial deste jornal diário em relação a casos como este. Será enganar os leitores e mantê-los depois no engano quando tal é detectado?
CONTINUA