Líbano pára e exige eleições
Milhões de libaneses aderiram à greve geral decretada pela oposição contra o governo de Fouad Siniora. Em Paris, o primeiro-ministro colheu o apoio do capital, mas no Líbano encontra-se cada vez mais isolado.
«As autoridades foram incapazes de esconder a adesão maciça dos libaneses à greve»
Terça-feira da semana passada, milhões de libaneses paralisaram o país num protesto geral contra a política económica e social seguida pelo governo de Fouad Siniora e exigiram a realização de eleições antecipadas.
De Norte a Sul, a greve geral convocada por forças políticas e sociais reunidas em torno da plataforma da oposição – na qual se incluem, entre outros, o Hezbollah, o Partido Comunista e a maior central sindical libanesa – foi um retumbante sucesso e representou um sinal claro de que o executivo de Beirute já não corresponde às expectativas e aspirações das classes populares.
Manhã cedo, os principais acessos viários à capital do país dos cedros encontravam-se bloqueados por manifestações e piquetes de greve. No centro de Beirute, algumas das principais artérias também foram ocupadas por populares que ergueram barricadas feitas de troncos de madeira e pneus em chamas.
As forças policiais procuraram durante desde logo impedir a paralisação, mas os testemunhos indicam que as autoridades foram incapazes de esconder a adesão maciça dos libaneses à iniciativa e impedi-los de se manifestarem.
O Aeroporto Internacional foi uma das muitas estruturas que não funcionou devido à greve dos trabalhadores locais. No dia seguinte, os acessos ao aeroporto continuavam encerrados, única forma de assegurar que a violência que entretanto se instalou não alastrava até aquela zona de Beirute.
Tensão acaba em confrontos
Horas depois do início do protesto, a tensão entre grevistas e partidários do executivo de Fouad Siniora degenerou em violência. Os confrontos entre facções foram considerados os mais graves desde o fim da guerra civil no Líbano (1975 – 1990), e só não se prolongaram por mais dias porque, ao final da jornada de terça-feira, a oposição ordenou o fim do protesto, justificando a decisão com o facto de já ter ficado patente o generalizado repúdio do povo contra o governo e respectiva base social de sustentação.
O próprio presidente do país, Emil Lajud, defende que Fouad Siniora já não tem condições para continuar, numa alusão clara de que a solução para o diferendo passa pela realização de um sufrágio.
Os relatos indicam que em toda a área metropolitana de Beirute militantes rivais envolveram-se em batalhas de rua com trocas de tiros, arremesso de pedras e paus.
Depois da passagem dos grupos de activistas desavindos, nas ruas ficou um rasto de destruição, com veículos incinerados e estabelecimentos comerciais parcialmente destruídos, cenário contrário às pretensões da oposição que apelou à calma e à expressão pacífica da contestação popular.
Quarta-feira a tensão manteve-se na capital e em algumas das principais cidades do país. No dia seguinte, em Beirute, nova escaramuça entre oposição e partidários de Siniora, junto à Universidade Árabe da cidade, deitou por terra a serenidade que pouco a pouco parecia poder regressar ao Líbano. Em Trípoli e Sidón repetiram-se os enfrentamentos registados na capital, onde pelo menos cinco pessoas morreram e centena e meia resultou ferida só durante os incidentes de quinta-feira.
Doadores tentam segurar Siniora
Para além de Saad Hariri, líder da maioria parlamentar e filho do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, assassinado em 2006 numa acção cujos contornos ainda não estão cabalmente apurados, e da elite política e económica libanesa, Fouad Siniora parece só granjear o apoio das potências capitalistas.
Paralelamente à greve geral e aos confrontos subsequentes no território, o primeiro-ministro esteve em Paris, no final da semana passada, para participar na conferência internacional de doadores, agendada na sequência do ataque israelita contra o Líbano no Verão passado.
A guerra provocou prejuízos na ordem dos 2,3 mil milhões de euros, aos quais se somam a avultada dívida externa do Líbano, orçada em 31 mil milhões de euros, fruto de uma política de capitulação ao interesses da oligarquia nacional e do grande capital internacional.
Na conferência, UE, EUA e França, ex-potência colonial no Líbano, comprometeram-se com o envio de nutridas somas de dinheiro e com a abertura de linhas crédito preferenciais. O objectivo é segurar Fouad Siniora no poder amarrando ainda mais o país a uma dívida insustentável, mas os fundos e os empréstimos, apelidados de vantajosos pelos doadores, tem que ser aplicados na execução do programa de reformas estruturais previamente elaborado por Siniora, explicou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
As propaladas reformas económicas, nas quais se incluí, por exemplo, o aumento dos impostos sobre o factor trabalho, foram uma das razões do protesto de milhões de libaneses, mas em Paris a objecção popular parece não ter tido lugar à mesa da conferência.
No conjunto, europeus e norte-americanos prometem entregar mil e quinhentos milhões de euros ao governo libanês, mas Siniora espera que os restantes 40 países presentes na conferência realizada na capital francesa também participem no esforço de sustentação do seu governo, com destaque para as nações árabes vizinhas, particularmente a Arábia Saudita.
De Norte a Sul, a greve geral convocada por forças políticas e sociais reunidas em torno da plataforma da oposição – na qual se incluem, entre outros, o Hezbollah, o Partido Comunista e a maior central sindical libanesa – foi um retumbante sucesso e representou um sinal claro de que o executivo de Beirute já não corresponde às expectativas e aspirações das classes populares.
Manhã cedo, os principais acessos viários à capital do país dos cedros encontravam-se bloqueados por manifestações e piquetes de greve. No centro de Beirute, algumas das principais artérias também foram ocupadas por populares que ergueram barricadas feitas de troncos de madeira e pneus em chamas.
As forças policiais procuraram durante desde logo impedir a paralisação, mas os testemunhos indicam que as autoridades foram incapazes de esconder a adesão maciça dos libaneses à iniciativa e impedi-los de se manifestarem.
O Aeroporto Internacional foi uma das muitas estruturas que não funcionou devido à greve dos trabalhadores locais. No dia seguinte, os acessos ao aeroporto continuavam encerrados, única forma de assegurar que a violência que entretanto se instalou não alastrava até aquela zona de Beirute.
Tensão acaba em confrontos
Horas depois do início do protesto, a tensão entre grevistas e partidários do executivo de Fouad Siniora degenerou em violência. Os confrontos entre facções foram considerados os mais graves desde o fim da guerra civil no Líbano (1975 – 1990), e só não se prolongaram por mais dias porque, ao final da jornada de terça-feira, a oposição ordenou o fim do protesto, justificando a decisão com o facto de já ter ficado patente o generalizado repúdio do povo contra o governo e respectiva base social de sustentação.
O próprio presidente do país, Emil Lajud, defende que Fouad Siniora já não tem condições para continuar, numa alusão clara de que a solução para o diferendo passa pela realização de um sufrágio.
Os relatos indicam que em toda a área metropolitana de Beirute militantes rivais envolveram-se em batalhas de rua com trocas de tiros, arremesso de pedras e paus.
Depois da passagem dos grupos de activistas desavindos, nas ruas ficou um rasto de destruição, com veículos incinerados e estabelecimentos comerciais parcialmente destruídos, cenário contrário às pretensões da oposição que apelou à calma e à expressão pacífica da contestação popular.
Quarta-feira a tensão manteve-se na capital e em algumas das principais cidades do país. No dia seguinte, em Beirute, nova escaramuça entre oposição e partidários de Siniora, junto à Universidade Árabe da cidade, deitou por terra a serenidade que pouco a pouco parecia poder regressar ao Líbano. Em Trípoli e Sidón repetiram-se os enfrentamentos registados na capital, onde pelo menos cinco pessoas morreram e centena e meia resultou ferida só durante os incidentes de quinta-feira.
Doadores tentam segurar Siniora
Para além de Saad Hariri, líder da maioria parlamentar e filho do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, assassinado em 2006 numa acção cujos contornos ainda não estão cabalmente apurados, e da elite política e económica libanesa, Fouad Siniora parece só granjear o apoio das potências capitalistas.
Paralelamente à greve geral e aos confrontos subsequentes no território, o primeiro-ministro esteve em Paris, no final da semana passada, para participar na conferência internacional de doadores, agendada na sequência do ataque israelita contra o Líbano no Verão passado.
A guerra provocou prejuízos na ordem dos 2,3 mil milhões de euros, aos quais se somam a avultada dívida externa do Líbano, orçada em 31 mil milhões de euros, fruto de uma política de capitulação ao interesses da oligarquia nacional e do grande capital internacional.
Na conferência, UE, EUA e França, ex-potência colonial no Líbano, comprometeram-se com o envio de nutridas somas de dinheiro e com a abertura de linhas crédito preferenciais. O objectivo é segurar Fouad Siniora no poder amarrando ainda mais o país a uma dívida insustentável, mas os fundos e os empréstimos, apelidados de vantajosos pelos doadores, tem que ser aplicados na execução do programa de reformas estruturais previamente elaborado por Siniora, explicou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
As propaladas reformas económicas, nas quais se incluí, por exemplo, o aumento dos impostos sobre o factor trabalho, foram uma das razões do protesto de milhões de libaneses, mas em Paris a objecção popular parece não ter tido lugar à mesa da conferência.
No conjunto, europeus e norte-americanos prometem entregar mil e quinhentos milhões de euros ao governo libanês, mas Siniora espera que os restantes 40 países presentes na conferência realizada na capital francesa também participem no esforço de sustentação do seu governo, com destaque para as nações árabes vizinhas, particularmente a Arábia Saudita.