Os trabalhadores da cultura
Sempre a saltarem-nos ao caminho as várias faces da moeda - sim, uma moeda com várias faces, as faces do incómodo perante o Conhecimento e a Cultura do País por parte das nossas elites económicas, fazedoras de opinião, políticas, «culturais», e outras que tais. E para alguns será mais uma questão de «raiva» do que de incómodo – estou a plagiar a «raiva» de uma crónica na coluna «o fio do horizonte” do sr. Eduardo Prado Coelho (EPC) dedicada ao tema “Economia e cultura» (sic; com efeito, aprendi na escola, e se bem me lembro, que, em português - pelo menos no hoje minoritário português de Portugal, ou europeu, leiam como preferirem -, portanto, neste «nosso» português, um título começa por letra maiúscula e depois vai por aí fora com palavras iniciadas por minúsculas; é assim, mas foi um azar dos diabos «Economia» ter ficado no título com maiúscula e «cultura» com minúscula; EPC bem poderia ter sido mais habilidoso e, on the spot, no momento, ter inventado um título como «Cultura e economia» - até ficava por ordem alfabética e a Cultura com o estatuto que lhe deve competir, enquanto a material economia começaria por um «e» pequeníssimo!).
Ora, ainda não refeito do programa com o ministro da ciência e ensino superior, os reitores e outros, no Prós e contras de dias antes, sobre cortes orçamentais e «empregabilidade» dos «produtos» universitários - até agora, sobretudo licenciados, amanhã sobretudo a versão desgraduada de bacharéis que virá da Europa como norma, estava eu no aeroporto em S. Paulo esperando o voo de volta, lá caí no Público e no referido texto de EPC; há muito que não lia uma prosa sua, mas alertado por uma carta ao director na mesma edição deste jornal a dar conta do bota-abaixismo de EPC a propósito do TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Superior), e em relação ao qual a Ministra da Educação, num Prós e Contras anterior, tinha exibido um sorriso que o meu pudor sócio-relacional proíbe de qualificar - portanto, um sorriso inqualificável por parte de quem desempenha aquela função. E, assim estimulado, li o texto «Economia e cultura» da página seguinte.
(Devo dizer: eu tinha estado uma semana no Brasil e, entre outras coisas, notara quão mais profundo, ou avançado, do que em Portugal me pareceu o debate sobre a questão do ensino superior e da economia e da inovação. Aí assisti, por exemplo, a um programa televisivo sobre a questão de se o ensino superior, em países em desenvolvimento, deverá ser só para ensino-aprendizagem ou deverá continuar a incluir a área de desenvolvimento do conhecimento científico, isto é, a investigação científica, um debate baseado na comparação dos casos do Brasil e da Coreia do Sul - já sei, nós não somos do Sul, somos europeus, um país desenvolvido, pelo que entre nós esta questão já não se coloca; qual não se coloca, para mim talvez não, mas a discussão da «empregabilidade» tem, encapotadamente, é certo, muito a ver com isto.)
EPC devia estar muito «indignado» para escrever neste seu texto que era vergonhoso Portugal estar de par com Malta - que os malteses (não sei ao certo como se chamam os habitantes de Malta) desculpem esta «saloiada» de EPC - em termos da baixa percentagem dos «trabalhadores da cultura» (noto: continua minúscula a primeira letra da palavra «cultura») «que nem mesmo fizeram o secundário». Possivelmente quis escrever, ao mostrar a associação de Malta com Portugal neste particular, que estavam os dois países no fim da lista e com um resultado muito mau, isto é, muito baixo. Mas não referiu nenhum destes pormenores «científicos» ou «numéricos»(?); bastou-lhe, ao mediático Professor, referir Malta à laia de metáfora de um inaceitável atraso, de uma terra de ninguém que se preze. A culpa – escreveu - [em Portugal, claro,] era da Universidade, isto é, digo eu, do próprio Professor EPC (também este, seguindo as orientações do tempo - parece mesmo, e o que parece será -, a alinhar no forte e concertado ataque à Universidade Pública Portuguesa - ganda ponto!)
Mas que esperava o culto EPC? Não sabe ele que este tipo de qualificação laboral é o próprio, em Portugal, do tecido empresarial? Porque deviam fazer diferente as empresas ainda menos exigentes da chamada «cultura industrial»? Na verdade, para estas ainda é mais normal a baixa qualificação académica - a malta não se dá bem na escola e fica com mais tempo para a espontaneidade da criação artística - para cantar, tocar, representar, posar, etc.
Ora, ainda não refeito do programa com o ministro da ciência e ensino superior, os reitores e outros, no Prós e contras de dias antes, sobre cortes orçamentais e «empregabilidade» dos «produtos» universitários - até agora, sobretudo licenciados, amanhã sobretudo a versão desgraduada de bacharéis que virá da Europa como norma, estava eu no aeroporto em S. Paulo esperando o voo de volta, lá caí no Público e no referido texto de EPC; há muito que não lia uma prosa sua, mas alertado por uma carta ao director na mesma edição deste jornal a dar conta do bota-abaixismo de EPC a propósito do TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Superior), e em relação ao qual a Ministra da Educação, num Prós e Contras anterior, tinha exibido um sorriso que o meu pudor sócio-relacional proíbe de qualificar - portanto, um sorriso inqualificável por parte de quem desempenha aquela função. E, assim estimulado, li o texto «Economia e cultura» da página seguinte.
(Devo dizer: eu tinha estado uma semana no Brasil e, entre outras coisas, notara quão mais profundo, ou avançado, do que em Portugal me pareceu o debate sobre a questão do ensino superior e da economia e da inovação. Aí assisti, por exemplo, a um programa televisivo sobre a questão de se o ensino superior, em países em desenvolvimento, deverá ser só para ensino-aprendizagem ou deverá continuar a incluir a área de desenvolvimento do conhecimento científico, isto é, a investigação científica, um debate baseado na comparação dos casos do Brasil e da Coreia do Sul - já sei, nós não somos do Sul, somos europeus, um país desenvolvido, pelo que entre nós esta questão já não se coloca; qual não se coloca, para mim talvez não, mas a discussão da «empregabilidade» tem, encapotadamente, é certo, muito a ver com isto.)
EPC devia estar muito «indignado» para escrever neste seu texto que era vergonhoso Portugal estar de par com Malta - que os malteses (não sei ao certo como se chamam os habitantes de Malta) desculpem esta «saloiada» de EPC - em termos da baixa percentagem dos «trabalhadores da cultura» (noto: continua minúscula a primeira letra da palavra «cultura») «que nem mesmo fizeram o secundário». Possivelmente quis escrever, ao mostrar a associação de Malta com Portugal neste particular, que estavam os dois países no fim da lista e com um resultado muito mau, isto é, muito baixo. Mas não referiu nenhum destes pormenores «científicos» ou «numéricos»(?); bastou-lhe, ao mediático Professor, referir Malta à laia de metáfora de um inaceitável atraso, de uma terra de ninguém que se preze. A culpa – escreveu - [em Portugal, claro,] era da Universidade, isto é, digo eu, do próprio Professor EPC (também este, seguindo as orientações do tempo - parece mesmo, e o que parece será -, a alinhar no forte e concertado ataque à Universidade Pública Portuguesa - ganda ponto!)
Mas que esperava o culto EPC? Não sabe ele que este tipo de qualificação laboral é o próprio, em Portugal, do tecido empresarial? Porque deviam fazer diferente as empresas ainda menos exigentes da chamada «cultura industrial»? Na verdade, para estas ainda é mais normal a baixa qualificação académica - a malta não se dá bem na escola e fica com mais tempo para a espontaneidade da criação artística - para cantar, tocar, representar, posar, etc.