Pobreza e antipobreza
Ao contrário dos discursos, empolados e burlescos, de Sócrates e dos seus ministros, os organismos especializados da ONU têm vindo a divulgar dados negativos acerca da real situação económica portuguesa. Portugal encontra-se sistematicamente no grupo dos mais atrasados estados europeus. Os ministros portugueses são carpinteiros de opereta. O futuro do país é imprevisível.
A hierarquia católica conhece o que se passa nos seus mais minuciosos detalhes. Sabe que todas as políticas sectoriais do governo convergem no sentido do agravamento da pobreza e da riqueza mal distribuída. Sabe que as classes dirigentes toleram e partilham os benefícios da corrupção pública. Mas nada faz para denunciar a mentira. Pelo contrário, empresta uma capa de santidade ao materialismo usurário mais espesso. Mas a atitude política da igreja não é gratuita nem inocente. É agora mais que evidente que os bispos protegem e temem o galope do capitalismo. Protegem-no, porque a extinção do Estado Social promete canalizar para a igreja importantes benefícios materiais. Protegem-no, porque o modelo descentralizado de desenvolvimento e de apropriação capitalista tem muitos traços comuns com a estrutura interna da própria igreja. Mas o alto clero também teme que o sistema capitalista evolua no sentido de a certa altura não precisar da igreja como parceiro. Então, a par do reconhecimento da Ética capitalista a doutrina do Vaticano concebeu formas autónomas de expansão contínua da influência católica no interior do próprio sistema neocapitalista. Um exemplo ligado ao combate à Pobreza e à Exclusão: - os agentes e meios da pastoral social.
A Pastoral como método de expansão
A igreja define como agentes da Pastoral Social as famílias, as instituições e obras católicas e as comunidades eclesiais. Ou seja, os núcleos familiares tradicionalmente católicos, as IPSS e Misericórdias, bem como os numerosos grupos de acção sócio-caritativa e as instituições e obras pertencentes à Igreja ou por ela reconhecidas. Trata-se de muitos milhares de activistas apoiados num aparelho assistencial impressionante. Todo o trabalho desenvolvido tem como destinatários «toda a pessoa física ou moral que se encontre em estado de carência ou insuficiência de natureza material ou imaterial». O agente fundamental da Pastoral Social é a Igreja, no seu todo. È seu objectivo final a construção de uma sociedade mais justa e fraterna , «verdadeiro prenúncio e vivência pré-figurada da Cidade Celeste». A Pastoral Social ganha corpo e unidade. Une-se, por um lado, aos dogmas da igreja materna. Define o seu corpo físico e o seu âmbito de acção. E propõe-se como uma clara ideologia de transformação da sociedade. O destinatário principal da pastoral é, em princípio, o pobre.
Inesperadamente, porém, dá-se um golpe de teatro. O pobre ocupa um segundo plano e o sujeito principal do combate à pobreza é entregue à «classe média» e à «nova evangelização». O agente da pastoral despe-se de preconceitos e aceita reflectir terra-a-terra. Assim fez o padre Feytor Pinto na III Semana Nacional da Pastoral Social. Considerou então o conhecido dirigente católico: «Caminhante, não há caminhos, os caminhos fazem-se a andar! A descoberta do método faz-se por comparação com a experiência de Cristo, na sua acção conhecida através do Evangelho. Para consegui-lo é preciso : a) Deixar as ideologias. Uma vez que o agente da Pastoral Social é normalmente oriundo da classe média, convém recordar que a definição ideológica de classe média é, essencialmente, a sua indefinição. São seu traços característicos : vive por cima das coisas, oscilando à esquerda e à direita sem se comprometer; tem o gosto das teorias abstractas (intelectualização dos problemas, revolucionarismo teórico, sectarismo político e atitude moralista); vive no individualismo extremo que se exprime através do isolamento social, do egoísmo de interesses, do privatismo na solução dos problemas e de uma certa alienação do religioso e espiritual... É que o cristianismo não é uma ideologia mas uma experiência de vida. b) Manter todos os valores universais que são úteis à libertação do homem e c) Intentar a conversão do próprio agente da Pastoral que tem de realizar uma profunda mudança de vida na sua relação com o outro e, também, na sua relação com Cristo definitivamente tornado valor absoluto e referência permanente».
Tudo parece ficar esclarecido. Os crimes do capitalismo são esquecidos. Pode escavar fossos à vontade, desde que não toque nos privilégios históricos da Igreja. O combate à pobreza é um simples pretexto. A religião e a classe média são o pomo central desse saboroso fruto que é a globalização capitalista.
A hierarquia católica conhece o que se passa nos seus mais minuciosos detalhes. Sabe que todas as políticas sectoriais do governo convergem no sentido do agravamento da pobreza e da riqueza mal distribuída. Sabe que as classes dirigentes toleram e partilham os benefícios da corrupção pública. Mas nada faz para denunciar a mentira. Pelo contrário, empresta uma capa de santidade ao materialismo usurário mais espesso. Mas a atitude política da igreja não é gratuita nem inocente. É agora mais que evidente que os bispos protegem e temem o galope do capitalismo. Protegem-no, porque a extinção do Estado Social promete canalizar para a igreja importantes benefícios materiais. Protegem-no, porque o modelo descentralizado de desenvolvimento e de apropriação capitalista tem muitos traços comuns com a estrutura interna da própria igreja. Mas o alto clero também teme que o sistema capitalista evolua no sentido de a certa altura não precisar da igreja como parceiro. Então, a par do reconhecimento da Ética capitalista a doutrina do Vaticano concebeu formas autónomas de expansão contínua da influência católica no interior do próprio sistema neocapitalista. Um exemplo ligado ao combate à Pobreza e à Exclusão: - os agentes e meios da pastoral social.
A Pastoral como método de expansão
A igreja define como agentes da Pastoral Social as famílias, as instituições e obras católicas e as comunidades eclesiais. Ou seja, os núcleos familiares tradicionalmente católicos, as IPSS e Misericórdias, bem como os numerosos grupos de acção sócio-caritativa e as instituições e obras pertencentes à Igreja ou por ela reconhecidas. Trata-se de muitos milhares de activistas apoiados num aparelho assistencial impressionante. Todo o trabalho desenvolvido tem como destinatários «toda a pessoa física ou moral que se encontre em estado de carência ou insuficiência de natureza material ou imaterial». O agente fundamental da Pastoral Social é a Igreja, no seu todo. È seu objectivo final a construção de uma sociedade mais justa e fraterna , «verdadeiro prenúncio e vivência pré-figurada da Cidade Celeste». A Pastoral Social ganha corpo e unidade. Une-se, por um lado, aos dogmas da igreja materna. Define o seu corpo físico e o seu âmbito de acção. E propõe-se como uma clara ideologia de transformação da sociedade. O destinatário principal da pastoral é, em princípio, o pobre.
Inesperadamente, porém, dá-se um golpe de teatro. O pobre ocupa um segundo plano e o sujeito principal do combate à pobreza é entregue à «classe média» e à «nova evangelização». O agente da pastoral despe-se de preconceitos e aceita reflectir terra-a-terra. Assim fez o padre Feytor Pinto na III Semana Nacional da Pastoral Social. Considerou então o conhecido dirigente católico: «Caminhante, não há caminhos, os caminhos fazem-se a andar! A descoberta do método faz-se por comparação com a experiência de Cristo, na sua acção conhecida através do Evangelho. Para consegui-lo é preciso : a) Deixar as ideologias. Uma vez que o agente da Pastoral Social é normalmente oriundo da classe média, convém recordar que a definição ideológica de classe média é, essencialmente, a sua indefinição. São seu traços característicos : vive por cima das coisas, oscilando à esquerda e à direita sem se comprometer; tem o gosto das teorias abstractas (intelectualização dos problemas, revolucionarismo teórico, sectarismo político e atitude moralista); vive no individualismo extremo que se exprime através do isolamento social, do egoísmo de interesses, do privatismo na solução dos problemas e de uma certa alienação do religioso e espiritual... É que o cristianismo não é uma ideologia mas uma experiência de vida. b) Manter todos os valores universais que são úteis à libertação do homem e c) Intentar a conversão do próprio agente da Pastoral que tem de realizar uma profunda mudança de vida na sua relação com o outro e, também, na sua relação com Cristo definitivamente tornado valor absoluto e referência permanente».
Tudo parece ficar esclarecido. Os crimes do capitalismo são esquecidos. Pode escavar fossos à vontade, desde que não toque nos privilégios históricos da Igreja. O combate à pobreza é um simples pretexto. A religião e a classe média são o pomo central desse saboroso fruto que é a globalização capitalista.