Sociedade civil e voluntariado
A noção de sociedade civil procura afirmar-se como factor insubstituível da paz social. Se, por um lado, o Estado dispõe de capacidade para promulgar leis imperativas, as organizações civis de cidadãos, espontaneamente formadas para defesa dos interesses de classe ou de grupo social devem ter acesso à esfera do poder político. O princípio é correcto e faz parte dos ideários de todos os processos de libertação. A prática, entretanto, revela haver sempre um espaço vazio entre o poder central imperativo e a vontade popular. A Igreja, velha perita em humanidades, estudou o problema nas suas diferentes facetas e elaborou um método de ocupação da falha. Criou uma apertada malha de associações laicas de natureza civil, discretamente vigiadas pela hierarquia eclesiástica. Ligou a acção assistencial, católica e não católica, aos objectivos religiosos da Pastoral. E concebeu o princípio político e doutrinal da subsidiariedade: nas estruturas do Estado, o executivo apenas deve preocupar-se com as questões essenciais, tendo o dever de delegar poderes em níveis inferiores da organização social vocacionados para o tratamento e solução dos problemas práticos. Não admira, pois, que a maioria das instituições privadas da Pastoral da Igreja, base fundamental da Sociedade Civil, surjam insistentemente relacionadas com as campanhas da Nova Evangelização. Com um pé na religião e o outro pé nas áreas político-sociais, a Sociedade Civil pode percorrer o arco da ponte que liga a religião, as populações e o governo capitalista, líder máximo de todo o sistema económico, político e social. É certo que nenhum problema de fundo será resolvido. Aprofundar-se-á o fosso entre ricos e pobres. Mas as reacções populares serão atenuadas. E perderá impulso a luta de classes.
Agentes e meios da Sociedade Civil
As consequências da intervenção pública da sociedade civil da igreja na ocupação que fez da radiotelevisão, bem poderiam reflectir o velho ditado «um bom exemplo vale mais que mil palavras». Os níveis médios de qualidade dos conteúdos programados desceram nitidamente. Os materiais televisivos passaram a ser fornecidos por dezenas ou por centenas de associações religiosas sectoriais dispersas. Só as metas a atingir continuam inspiradas numa fonte ideológica comum. As peças são ditas, mostradas, faladas e comentadas por agentes culturais directa ou indirectamente ligados à pastoral da igreja e isso é evidente. Cultivam uma liturgia passadista da palavra e da imagem. Insinuam escolhas políticas e partidárias conservadoras e retrógradas. Depois, tentam dar um ar de modernidade a tudo aquilo com o recurso, sem escrúpulos, à violência e ao sexo.
Culturalmente o resultado é catastrófico. Mas atrai a atenção de certos sectores populares centrando-os na cruz, no beatice, no sucesso fácil do lucro e do dinheiro. A capacidade destrutiva e demagógica que a sociedade civil da igreja revela na TV, não pode e não deve ser subestimada. É uma versão moderna da religião como ópio do povo.
Um outro exemplo válido é o do voluntariado católico. O voluntário, em princípio, é todo aquele que nada lucra materialmente com a sua acção solidária. Dá-se simplesmente àquilo que para todos considera ser importante. Mas a igreja, de braço dado com o capitalismo, manipulou este princípio básico do voluntariado. Existe, agora, um enquadramento legal destas funções. O trabalho voluntário pode ser gratuito ou pago por empresas que cedem temporariamente pessoas ao seu serviço (naturalmente aquelas que lhes são desnecessárias). As que estão na prateleira, à beira do desemprego. Em breve, funcionará na NET portuguesa uma Bolsa de Voluntariado on-line para oferta e procura de voluntários. O desemprego disfarçado encontrou mais uma esconderijo onde se ocultar. Cria-se um novo mercado: o do voluntário à força. Recusar é perder o posto de trabalho. Os patrões serão os grandes fornecedores do voluntariado. É mais um serviço que a igreja presta ao capitalismo.
Segundo revelaram os coordenadores deste projecto que reorganiza o voluntariado nacional, o seu núcleo central é o famoso Banco Alimentar contra a Fome, do padre Vaz Pinto e da Ordem dos Jesuítas. À boa maneira neocapitalista, o banco criou a sua rede de holdings na qual figura uma obscura sucursal de EntreAjuda, na qual ninguém tinha reparado.
É o típico método clandestino da igreja. Diziam os bispos em 2001 «não se pode confundir voluntariado e associativismo, voluntariado e amadorismo, voluntariado com acção não estruturada e informal ... não cedam os cristãos à tentação de reduzir as suas comunidades a agências sociais!».
Ora, é justamente isto que está a acontecer em Portugal.
Agentes e meios da Sociedade Civil
As consequências da intervenção pública da sociedade civil da igreja na ocupação que fez da radiotelevisão, bem poderiam reflectir o velho ditado «um bom exemplo vale mais que mil palavras». Os níveis médios de qualidade dos conteúdos programados desceram nitidamente. Os materiais televisivos passaram a ser fornecidos por dezenas ou por centenas de associações religiosas sectoriais dispersas. Só as metas a atingir continuam inspiradas numa fonte ideológica comum. As peças são ditas, mostradas, faladas e comentadas por agentes culturais directa ou indirectamente ligados à pastoral da igreja e isso é evidente. Cultivam uma liturgia passadista da palavra e da imagem. Insinuam escolhas políticas e partidárias conservadoras e retrógradas. Depois, tentam dar um ar de modernidade a tudo aquilo com o recurso, sem escrúpulos, à violência e ao sexo.
Culturalmente o resultado é catastrófico. Mas atrai a atenção de certos sectores populares centrando-os na cruz, no beatice, no sucesso fácil do lucro e do dinheiro. A capacidade destrutiva e demagógica que a sociedade civil da igreja revela na TV, não pode e não deve ser subestimada. É uma versão moderna da religião como ópio do povo.
Um outro exemplo válido é o do voluntariado católico. O voluntário, em princípio, é todo aquele que nada lucra materialmente com a sua acção solidária. Dá-se simplesmente àquilo que para todos considera ser importante. Mas a igreja, de braço dado com o capitalismo, manipulou este princípio básico do voluntariado. Existe, agora, um enquadramento legal destas funções. O trabalho voluntário pode ser gratuito ou pago por empresas que cedem temporariamente pessoas ao seu serviço (naturalmente aquelas que lhes são desnecessárias). As que estão na prateleira, à beira do desemprego. Em breve, funcionará na NET portuguesa uma Bolsa de Voluntariado on-line para oferta e procura de voluntários. O desemprego disfarçado encontrou mais uma esconderijo onde se ocultar. Cria-se um novo mercado: o do voluntário à força. Recusar é perder o posto de trabalho. Os patrões serão os grandes fornecedores do voluntariado. É mais um serviço que a igreja presta ao capitalismo.
Segundo revelaram os coordenadores deste projecto que reorganiza o voluntariado nacional, o seu núcleo central é o famoso Banco Alimentar contra a Fome, do padre Vaz Pinto e da Ordem dos Jesuítas. À boa maneira neocapitalista, o banco criou a sua rede de holdings na qual figura uma obscura sucursal de EntreAjuda, na qual ninguém tinha reparado.
É o típico método clandestino da igreja. Diziam os bispos em 2001 «não se pode confundir voluntariado e associativismo, voluntariado e amadorismo, voluntariado com acção não estruturada e informal ... não cedam os cristãos à tentação de reduzir as suas comunidades a agências sociais!».
Ora, é justamente isto que está a acontecer em Portugal.