Incluir o sobrenatural na Ciência?
Na realidade a Civilização [Ocidental] passa por uma crise muito profunda. Sem querer entrar neste texto na consideração do tópico de esta ser ou não uma sua crise terminal; caindo também fora do âmbito que aqui nos propomos focá-la segundo o seu enquadramento explícito no modo dominante como o Capitalismo hoje é, nomeadamente global - modo que tantos vão comentando de forma pertinente; nem sequer querendo entrar aqui na questão da acelerada transição dos poderes «globais» a caminho do BRIC - Brasil, Rússia, Índia, China -, ou simplesmente do trânsito do poderio para o dueto China/Índia - como actualmente se teoriza; ou, muito menos, na problemática da divisão atlântica entre os EUA e a fraquejante e cada vez menos relevante UE, já que o Japão passou a ser quase sistematicamente esquecido como um dos três grandes da antiga Tríada do «Ocidente», agora passada a Dupla - por quanto tempo, não sei; dizia eu, não querendo referir-me a nada isto, quero antes ir aqui, neste texto, pela via da consideração do preocupante ataque ao ensino da Ciência, ou das ciências, ataque florescente, aqui e ali, nos EUA.
Um ataque florescente nos EUA, mas não exclusivo. Escrevi noutra ocasião - a propósito da recente publicação do livro «O bico do tentilhão», de Jonathan Weiner - que, não havia mais de dois anos, o Ministro da Cultura da Sérvia decidiu que as escolas deixassem de ensinar a teoria de evolução de Darwin, decisão que entretanto foi revogada em consequência da luta desenvolvida pelos cientistas daquele País. No entanto, o caso que detém a primazia é o do Estado do Kansas, nos EUA, cujo Conselho para a Educação retirou dos currículos escolares, já desde 1999, o ensino da teoria da evolução de Darwin. Mais recentemente, foi o caso da tentativa da introdução nos currículos de Biologia no Estado da Pensilvânia, nos EUA, do estudo da «Teoria do Projecto Inteligente» - Intelligent Design -, que defende a intervenção de causas sobrenaturais para explicar a Vida, nomeadamente a sua origem - a par da teoria da evolução de Darwin. Tentativa aliás desmontada por decisão da Justiça em reposta a uma queixa apresentada naquele estado norte-americano, tomada em Dezembro de 2005.
Grande foi a luta da Humanidade pela Ciência, a qual, ao contrário da Teologia, é uma actividade onde só contam os dados e as causas naturais, na qual as teorias não incluem explicações sobrenaturais. As explicações e teorias científicas estão sujeitas a ser contestadas, o que não é o caso, nem poderia ser, das revelações religiosas - estas são matéria de crença: ou se acredita ou não. Por isso, nem a crença religiosa pode estar submetida a métodos próprios da Ciência, nem esta pode invocar argumentos não testáveis pela observação. Os grandes debates, as grandes lutas entre o lado científico e o poder político-religioso, por altura dos alvores da Revolução Científica, vai para quatro séculos, os seus ensinamentos, as figuras emblemáticas da Ciência dessa época como Giordano Bruno, Galileu, Descartes, não serão esquecidos.
É certo não ter o conhecimento científico, nestes quatro séculos que distam do arranque da Revolução Científica, penetrado tão a fundo nas massas como por vezes se possa imaginar. Por exemplo, num daqueles concursos da televisão onde o concorrente, quando não sabe ou não está seguro da resposta à pergunta colocada, quando tem dúvidas na escolha da alternativa, pode pedir ajuda ao público presente na sessão, numa situação ocorrida num canal da televisão francesa, o concorrente, ao ter que optar entre Marte, Vénus, Lua e Sol, qual o que volve em torno da Terra, na dúvida lá pediu a opinião ao público que, por estreita margem - pouco mais de metade das escolhas - indicou o Sol (!), vejam lá, e o concorrente seguiu democraticamente esta opinião mais «votada».
Esta e outras disparidades, como a de cerca de metade da população dos EUA e do Reino Unido estar a «Leste» da teoria da evolução originada por Darwin - e não estou a falar de teorias mais «confidenciais» como a da Relatividade ou a Quântica -, este desconhecimento por parte de grandes camadas torna mais fácil o atrevimento de quantos pretendem desvirtuar o ensino da Ciência aos jovens: é este o caso das causas sobrenaturais cientificamente inexplicáveis, agora referidas como «Projecto Inteligente», para mais com o apoio intelectual de personagens como George W. Bush que vê na confusão desta teoria anticientífica com a da Evolução, um «saudável» confronto de ideias.
Um ataque florescente nos EUA, mas não exclusivo. Escrevi noutra ocasião - a propósito da recente publicação do livro «O bico do tentilhão», de Jonathan Weiner - que, não havia mais de dois anos, o Ministro da Cultura da Sérvia decidiu que as escolas deixassem de ensinar a teoria de evolução de Darwin, decisão que entretanto foi revogada em consequência da luta desenvolvida pelos cientistas daquele País. No entanto, o caso que detém a primazia é o do Estado do Kansas, nos EUA, cujo Conselho para a Educação retirou dos currículos escolares, já desde 1999, o ensino da teoria da evolução de Darwin. Mais recentemente, foi o caso da tentativa da introdução nos currículos de Biologia no Estado da Pensilvânia, nos EUA, do estudo da «Teoria do Projecto Inteligente» - Intelligent Design -, que defende a intervenção de causas sobrenaturais para explicar a Vida, nomeadamente a sua origem - a par da teoria da evolução de Darwin. Tentativa aliás desmontada por decisão da Justiça em reposta a uma queixa apresentada naquele estado norte-americano, tomada em Dezembro de 2005.
Grande foi a luta da Humanidade pela Ciência, a qual, ao contrário da Teologia, é uma actividade onde só contam os dados e as causas naturais, na qual as teorias não incluem explicações sobrenaturais. As explicações e teorias científicas estão sujeitas a ser contestadas, o que não é o caso, nem poderia ser, das revelações religiosas - estas são matéria de crença: ou se acredita ou não. Por isso, nem a crença religiosa pode estar submetida a métodos próprios da Ciência, nem esta pode invocar argumentos não testáveis pela observação. Os grandes debates, as grandes lutas entre o lado científico e o poder político-religioso, por altura dos alvores da Revolução Científica, vai para quatro séculos, os seus ensinamentos, as figuras emblemáticas da Ciência dessa época como Giordano Bruno, Galileu, Descartes, não serão esquecidos.
É certo não ter o conhecimento científico, nestes quatro séculos que distam do arranque da Revolução Científica, penetrado tão a fundo nas massas como por vezes se possa imaginar. Por exemplo, num daqueles concursos da televisão onde o concorrente, quando não sabe ou não está seguro da resposta à pergunta colocada, quando tem dúvidas na escolha da alternativa, pode pedir ajuda ao público presente na sessão, numa situação ocorrida num canal da televisão francesa, o concorrente, ao ter que optar entre Marte, Vénus, Lua e Sol, qual o que volve em torno da Terra, na dúvida lá pediu a opinião ao público que, por estreita margem - pouco mais de metade das escolhas - indicou o Sol (!), vejam lá, e o concorrente seguiu democraticamente esta opinião mais «votada».
Esta e outras disparidades, como a de cerca de metade da população dos EUA e do Reino Unido estar a «Leste» da teoria da evolução originada por Darwin - e não estou a falar de teorias mais «confidenciais» como a da Relatividade ou a Quântica -, este desconhecimento por parte de grandes camadas torna mais fácil o atrevimento de quantos pretendem desvirtuar o ensino da Ciência aos jovens: é este o caso das causas sobrenaturais cientificamente inexplicáveis, agora referidas como «Projecto Inteligente», para mais com o apoio intelectual de personagens como George W. Bush que vê na confusão desta teoria anticientífica com a da Evolução, um «saudável» confronto de ideias.