Boas acções, santos negócios
Assim como acontece com a fé, também os grandes interesses movem montanhas. A água transforma-se em vinho, os peixes em pão. Atesta-o a Comunicação Social que quase todos os dias menciona milagres deste tipo. Mencionam-se actos caritativos da sociedade civil, enquanto discretamente cresce o poder financeiro das principais instituições privadas de solidariedade. A começar pelas Misericórdias. Se não, veja-se.
Em Portugal há 398 instituições deste tipo. Constituem um sub-sistema com financiamento misto: parte das receitas é alimentada pelo Orçamento do Estado e parte através de subsídios diversos, nas áreas da Saúde, da Segurança Social, do Ensino, etc. Controlam um vastíssimo património, insuficientemente conhecido, em terras produtivas, bens imobiliários, hospitais, fundações ou lares para a terceira idade, para estudantes ou para grandes deficientes. As misericórdias detêm o monopólio das lotarias e capacidade legal para actuarem, simultaneamente, na área lucrativa e como instituições sem objectivo de lucro. Gozam de benefícios fiscais concedidos pelo Estado, quer através da Concordata, quer no âmbito das empresas de solidariedade social, das instituições humanitárias não lucrativas, patrimoniais, das fundações, dos legados filantrópicos, etc.
O Orçamento para 2007 da União das Misericórdias, é de 12.800.000 euros. Dir-se-ia ser demasiado para um grupo privado, numa pequena comunidade pobre como a portuguesa, onde a maior fatia dos investimentos sociais é institucionalmente atribuída ao Estado. Este estatuto consentido permite que só nas lotarias, sobretudo no Euromilhões, na saúde dos privados, nos patrocínios das empresas ou no ziguezague dos cadernos de encargos, as misericórdias lucrem verbas que ultrapassam em muito os saldos orçamentais previstos.
Outras operações de vulto
No caso do Euromilhões, a Santa Casa prevê para o ano corrente vendas no valor de 47 milhões de euros dos quais só 5% serão destinados aos chamados «vendedores de quiosque». O resto, é praticamente lucro líquido. É natural, aliás, que o imenso número de holdings incluídos no grupo económico caritativo permita disfarçar as reais dimensões desta área comercial ligada à hierarquia da igreja (apesar das declarações em contrário do P. Melícias, sabe-se que assim é). Há participação nos lucros da banca privada, cobrança de taxas adicionais, sobrevalorização dos terrenos detidos em pontos estratégicos como a OTA, o percurso do TVG, as participações estratégicas nas Cajas de Ahorro ou a rápida penetração no mundo dos clubes desportivos, com as inevitáveis contrapartidas de influências e mais-valias.
Sendo por enquanto só suspeitas, também se reconhece que nomes das grandes vedetas do SRU da Câmara de Lisboa (Sociedade Urbana da Baixa Pombalina) são de autarcas ligados a áreas da direita e às misericórdias da igreja. «Negócio não é pecado».
Em traços gerais, este anteprojecto camarário configura uma destruição apocalíptica do centro pombalino. Hotéis de luxo nos palácios nacionais, rede de novos «passeios pedonais», representação folclórica de mercados medievais, criação de zonas habitacionais para as classes ricas, em resumo, entrega total do que há de mais precioso na cidade a quem mais der. Trata-se, ainda, de um projecto em fase provisória. Fácil será prever, porém, que o negócio oculta a intenção de privatizar Lisboa, por trespasse.
Carmona Rodrigues e Maria José Nogueira Pinto são descritos como situados em áreas políticas divergentes. Mas não pode passar despercebido que a SRU terá amplos poderes de decisão, que a Câmara Municipal de Lisboa acaba de criar um primeiro quadro geral de emprego privado e que a sua direcção camarária revelou já a intenção de accionar mini-planos sectoriais a nível dos bairros da cidade, decalcados neste opaco SRU.
A destruição da cidade histórica é um crime de lesa-pátria que destrói o património e ofende a história do país e a cultura do seu povo. Representa a morte da «galinha dos ovos de oiro» do turismo que todos dizem, no entanto defender e que exige mobilidade com garantias responsáveis do Estado.
A concretizar-se representaria, sobretudo, o golpe de misericórdia desferido na população trabalhadora dos lisboetas, a expulsão dos pobres do centro da cidade e dos bairros velhos. Teria para os grandes capitalistas, a vantagem adicional de colocar a seus pés mais trabalhadores dependentes que viriam engrossar as fileiras do voluntariado obrigatório ou dos empregos precários sem garantias. O SRU é tarefa importante das Misericórdias que tanto tentam promover o voluntarismo cristão. Segundo o P. Melícias, «Esquecem-se que somos voluntários. Não ganhamos um tostão!».
Em Portugal há 398 instituições deste tipo. Constituem um sub-sistema com financiamento misto: parte das receitas é alimentada pelo Orçamento do Estado e parte através de subsídios diversos, nas áreas da Saúde, da Segurança Social, do Ensino, etc. Controlam um vastíssimo património, insuficientemente conhecido, em terras produtivas, bens imobiliários, hospitais, fundações ou lares para a terceira idade, para estudantes ou para grandes deficientes. As misericórdias detêm o monopólio das lotarias e capacidade legal para actuarem, simultaneamente, na área lucrativa e como instituições sem objectivo de lucro. Gozam de benefícios fiscais concedidos pelo Estado, quer através da Concordata, quer no âmbito das empresas de solidariedade social, das instituições humanitárias não lucrativas, patrimoniais, das fundações, dos legados filantrópicos, etc.
O Orçamento para 2007 da União das Misericórdias, é de 12.800.000 euros. Dir-se-ia ser demasiado para um grupo privado, numa pequena comunidade pobre como a portuguesa, onde a maior fatia dos investimentos sociais é institucionalmente atribuída ao Estado. Este estatuto consentido permite que só nas lotarias, sobretudo no Euromilhões, na saúde dos privados, nos patrocínios das empresas ou no ziguezague dos cadernos de encargos, as misericórdias lucrem verbas que ultrapassam em muito os saldos orçamentais previstos.
Outras operações de vulto
No caso do Euromilhões, a Santa Casa prevê para o ano corrente vendas no valor de 47 milhões de euros dos quais só 5% serão destinados aos chamados «vendedores de quiosque». O resto, é praticamente lucro líquido. É natural, aliás, que o imenso número de holdings incluídos no grupo económico caritativo permita disfarçar as reais dimensões desta área comercial ligada à hierarquia da igreja (apesar das declarações em contrário do P. Melícias, sabe-se que assim é). Há participação nos lucros da banca privada, cobrança de taxas adicionais, sobrevalorização dos terrenos detidos em pontos estratégicos como a OTA, o percurso do TVG, as participações estratégicas nas Cajas de Ahorro ou a rápida penetração no mundo dos clubes desportivos, com as inevitáveis contrapartidas de influências e mais-valias.
Sendo por enquanto só suspeitas, também se reconhece que nomes das grandes vedetas do SRU da Câmara de Lisboa (Sociedade Urbana da Baixa Pombalina) são de autarcas ligados a áreas da direita e às misericórdias da igreja. «Negócio não é pecado».
Em traços gerais, este anteprojecto camarário configura uma destruição apocalíptica do centro pombalino. Hotéis de luxo nos palácios nacionais, rede de novos «passeios pedonais», representação folclórica de mercados medievais, criação de zonas habitacionais para as classes ricas, em resumo, entrega total do que há de mais precioso na cidade a quem mais der. Trata-se, ainda, de um projecto em fase provisória. Fácil será prever, porém, que o negócio oculta a intenção de privatizar Lisboa, por trespasse.
Carmona Rodrigues e Maria José Nogueira Pinto são descritos como situados em áreas políticas divergentes. Mas não pode passar despercebido que a SRU terá amplos poderes de decisão, que a Câmara Municipal de Lisboa acaba de criar um primeiro quadro geral de emprego privado e que a sua direcção camarária revelou já a intenção de accionar mini-planos sectoriais a nível dos bairros da cidade, decalcados neste opaco SRU.
A destruição da cidade histórica é um crime de lesa-pátria que destrói o património e ofende a história do país e a cultura do seu povo. Representa a morte da «galinha dos ovos de oiro» do turismo que todos dizem, no entanto defender e que exige mobilidade com garantias responsáveis do Estado.
A concretizar-se representaria, sobretudo, o golpe de misericórdia desferido na população trabalhadora dos lisboetas, a expulsão dos pobres do centro da cidade e dos bairros velhos. Teria para os grandes capitalistas, a vantagem adicional de colocar a seus pés mais trabalhadores dependentes que viriam engrossar as fileiras do voluntariado obrigatório ou dos empregos precários sem garantias. O SRU é tarefa importante das Misericórdias que tanto tentam promover o voluntarismo cristão. Segundo o P. Melícias, «Esquecem-se que somos voluntários. Não ganhamos um tostão!».