No desporto como no resto – a mistificação
As análises referidas à transformação do desporto, realizadas no nosso País, tocam, por vezes, as raias de imaginação infantil. Uns, porque, finalmente descobriram que o desporto não pode ser retirado do contexto global de que faz parte, dedicam-se aos exercícios mais inesperados sobre a evolução da própria sociedade. Outros, porque se deixam embarcar numa «conceptualização demagógica da mudança» (Bordieu). Em qualquer dos casos a visão fornecida é pouco sólida e, o que é bem pior, continuam a velha manobra de escamoteamento da verdade essencial: o desporto depende das características do sistema social em que vivemos.
Mas não se ficam por aqui: utilizando a inegável transformação que se está a verificar, no desporto como no resto, fazem-se projecções futuras (na realidade visões futurólogas vazias de sentido) que têm como objectivo último, simultaneamente, caucionar o sistema vigente e traçar vias que coloquem o desporto, ainda mais, ao seu serviço. Assim, de uma visão quase fixista, realizada em circuito fechado, que recusou, durante muitas décadas, a análise do real mais próximo, passou-se para uma visão mais elaborada, mas que se revela como continuadora fiel das antigas preocupações.
Sempre que ouço falar em «morte da ideologia», puxo da minha capacidade crítica. Na verdade, a «morte da ideologia», como, por exemplo, «a morte da história» é muito cómoda para calar os inimigos da ideologia dominante e veicular, habilmente, os seus valores perenes. Por isso, é indispensável para quem deseja manter a lucidez num processo confuso de transformação real da sociedade em que vivemos, exercer uma análise crítica constante sobre as teorias que nos são apresentadas. Isto é tanto mais importante quanto, naturalmente, a «mudança» é uma realidade, e a transformação inevitável, em todos os domínios da dinâmica social.
Na verdade, uma certa sociologia foi comandada durante muito tempo, pela visão clássica do desporto, de tal modo que ela passou a ser considerada o modelo único de referência. A esta perspectiva, aliás sempre combatida por aqueles que não aceitavam acriticamente os «eternos valores» do desporto (o desporto portador automático de elementos de progresso), sucedeu uma nova visão que valoriza, sobretudo, as novas práticas, ditas «californianas» (porque tendo origem frequente na Califórnia, terra de muitas imaginações).
O que se passa, no presente, é que à antiga defesa do desporto como elemento caucionador de uma ideologia dos «valores eternos», se segue a defesa dos mesmos interesses classistas (predominância do mercado capitalista, manutenção imutável da estrutura social, valor da concorrência como factor de progresso etc.) agora assumindo novos aspectos «embrulhados» num novo palavreado paradigmático.
Como afirma uma célebre personagem Sheakespeariana «tudo tem de mudar para se manter tudo como dantes». Os sociólogos da crise não conseguem escapar à «fúria» sociológica da exaltação máxima da mudança que é acompanhada pelo «patético da modernidade» que impõe a sobrevalorização do discurso sobre a nossa época (Bordieu).
O fenómeno é sobejamente conhecido na análise das transformações sócio económicas, quando se acentua que à sociedade industrial sucedeu uma outra baseada na informação. Uma vez mais, de uma forma que, antes de tudo, emerge de um processo de «sociologia espontânea», substitui-se uma análise profunda dos fenómenos, em si mesma trabalhosa e «chata», pela emotiva descrição do espectacular (sensacionalismo pacóvio mas embrutecedor ou, no mínimo, escamoteador da realidade subjacente ao acontecimento).
De facto, é indispensável compreender que, no fundo, o que se encontra por detrás de todo este esforço conceptual que se quer apresentar como inovador, é a antiga luta contra a determinação da vida do indivíduo pelo sistema de produção. Trata-se, antes de tudo, de afirmar uma complexidade de que as relações de produção são eliminadas sem vergonha nem prurido, porque convém mantê-las tal como se encontram sem sofrerem qualquer alteração.
A transformação das práticas desportivas existe e resulta da acção cumulativa de dois fenómenos essenciais característicos da dinâmica social: por um lado, as leis do mercado que se impõem, cada vez mais, ao mundo do desporto; por outro lado, as leis do desenvolvimento do ser humano, que procura conquistar novas capacidades e lutar contra a redução das taxas de progresso. Entre os dois fenómenos estabelece-se um processo dialéctico que é determinante para a dinâmica da transformação do próprio desporto.
Mas não se ficam por aqui: utilizando a inegável transformação que se está a verificar, no desporto como no resto, fazem-se projecções futuras (na realidade visões futurólogas vazias de sentido) que têm como objectivo último, simultaneamente, caucionar o sistema vigente e traçar vias que coloquem o desporto, ainda mais, ao seu serviço. Assim, de uma visão quase fixista, realizada em circuito fechado, que recusou, durante muitas décadas, a análise do real mais próximo, passou-se para uma visão mais elaborada, mas que se revela como continuadora fiel das antigas preocupações.
Sempre que ouço falar em «morte da ideologia», puxo da minha capacidade crítica. Na verdade, a «morte da ideologia», como, por exemplo, «a morte da história» é muito cómoda para calar os inimigos da ideologia dominante e veicular, habilmente, os seus valores perenes. Por isso, é indispensável para quem deseja manter a lucidez num processo confuso de transformação real da sociedade em que vivemos, exercer uma análise crítica constante sobre as teorias que nos são apresentadas. Isto é tanto mais importante quanto, naturalmente, a «mudança» é uma realidade, e a transformação inevitável, em todos os domínios da dinâmica social.
Na verdade, uma certa sociologia foi comandada durante muito tempo, pela visão clássica do desporto, de tal modo que ela passou a ser considerada o modelo único de referência. A esta perspectiva, aliás sempre combatida por aqueles que não aceitavam acriticamente os «eternos valores» do desporto (o desporto portador automático de elementos de progresso), sucedeu uma nova visão que valoriza, sobretudo, as novas práticas, ditas «californianas» (porque tendo origem frequente na Califórnia, terra de muitas imaginações).
O que se passa, no presente, é que à antiga defesa do desporto como elemento caucionador de uma ideologia dos «valores eternos», se segue a defesa dos mesmos interesses classistas (predominância do mercado capitalista, manutenção imutável da estrutura social, valor da concorrência como factor de progresso etc.) agora assumindo novos aspectos «embrulhados» num novo palavreado paradigmático.
Como afirma uma célebre personagem Sheakespeariana «tudo tem de mudar para se manter tudo como dantes». Os sociólogos da crise não conseguem escapar à «fúria» sociológica da exaltação máxima da mudança que é acompanhada pelo «patético da modernidade» que impõe a sobrevalorização do discurso sobre a nossa época (Bordieu).
O fenómeno é sobejamente conhecido na análise das transformações sócio económicas, quando se acentua que à sociedade industrial sucedeu uma outra baseada na informação. Uma vez mais, de uma forma que, antes de tudo, emerge de um processo de «sociologia espontânea», substitui-se uma análise profunda dos fenómenos, em si mesma trabalhosa e «chata», pela emotiva descrição do espectacular (sensacionalismo pacóvio mas embrutecedor ou, no mínimo, escamoteador da realidade subjacente ao acontecimento).
De facto, é indispensável compreender que, no fundo, o que se encontra por detrás de todo este esforço conceptual que se quer apresentar como inovador, é a antiga luta contra a determinação da vida do indivíduo pelo sistema de produção. Trata-se, antes de tudo, de afirmar uma complexidade de que as relações de produção são eliminadas sem vergonha nem prurido, porque convém mantê-las tal como se encontram sem sofrerem qualquer alteração.
A transformação das práticas desportivas existe e resulta da acção cumulativa de dois fenómenos essenciais característicos da dinâmica social: por um lado, as leis do mercado que se impõem, cada vez mais, ao mundo do desporto; por outro lado, as leis do desenvolvimento do ser humano, que procura conquistar novas capacidades e lutar contra a redução das taxas de progresso. Entre os dois fenómenos estabelece-se um processo dialéctico que é determinante para a dinâmica da transformação do próprio desporto.