Tendencionalmente de direita
O ministro da Saúde, Correia de Campos, em recente entrevista à agência Lusa, anunciou a intenção de impor novas taxas no Serviço Nacional de Saúde, afectando internamentos e cirurgias. Justificando a medida com «objectivos estruturais», como a «moderação do acesso» e a «valorização do serviço prestado», o ministro diz-se «preparado» para a polémica que sabe inevitável.
«É claro que a medida vai levantar celeuma, como sempre levantou, mas o povo não é estúpido, faz as contas e verifica que, apesar do que muitos partidos políticos disseram, pouparam 20 milhões de euros no ano passado» com as alterações introduzidas pelo Governo no sector do medicamento, diz Correia de Campos.
Seria interessante saber como chegou o ministro a semelhante conclusão, mas na falta de esclarecimento somos levados a pensar que estamos perante mais em um daqueles ilusionismos fruto das estatísticas que fazem com que todos sejamos putativos consumidores de uns tantos frangos por ano ou de uns quantos litros de vinho – ou de caviar, ou de champanhe… – apesar de sermos abstémios e vegetarianos ou de simplesmente nunca termos tido a sorte de tais coisas nos passar pela goela.
Num aspecto tem o ministro razão: o povo não é estúpido. Por isso mesmo é que sabe que a diminuição da comparticipação dos fármacos para doentes crónicos de cem para 95 por cento ou a subida das taxas moderadoras o obrigou a poupar, sim, mas no seu direito à saúde, o que fez crescer exponencialmente o risco da necessidade de internamentos e intervenções, justamente os sectores agora visados pelo Governo.
Tratando-se, como se trata, de actos médicos que não dependem da vontade do doente – «doutor, quero passar uma semana em Santa Maria»; «doutora, quero ser operada à vesícula» – a «moderação do acesso» a que Correia de Campos alude só pode ser entendida como mais um passo na senda do caminho aberto por Leonor Beleza com o seu tristemente célebre «quem quer saúde paga-a», como se não a pagássemos já todos com os nossos impostos. Por outras palavras, trata-se de mais uma machadada no Serviço Nacional de Saúde e no princípio constitucional do direito à saúde, que começou por consagrar o direito a serviços gratuitos, passou depois para tendencionalmente gratuitos e caminha agora a passos largos para serviços tendencionalmente pagos e cada vez mais caros.
Fazendo o paralelismo com o PS, forçado se torna constatar que começou por se dizer de esquerda, passou depois a ser tendencionalmente de esquerda e agora, com maioria absoluta, já nem se dá ao trabalho de esconder como se sente bem à direita.
«É claro que a medida vai levantar celeuma, como sempre levantou, mas o povo não é estúpido, faz as contas e verifica que, apesar do que muitos partidos políticos disseram, pouparam 20 milhões de euros no ano passado» com as alterações introduzidas pelo Governo no sector do medicamento, diz Correia de Campos.
Seria interessante saber como chegou o ministro a semelhante conclusão, mas na falta de esclarecimento somos levados a pensar que estamos perante mais em um daqueles ilusionismos fruto das estatísticas que fazem com que todos sejamos putativos consumidores de uns tantos frangos por ano ou de uns quantos litros de vinho – ou de caviar, ou de champanhe… – apesar de sermos abstémios e vegetarianos ou de simplesmente nunca termos tido a sorte de tais coisas nos passar pela goela.
Num aspecto tem o ministro razão: o povo não é estúpido. Por isso mesmo é que sabe que a diminuição da comparticipação dos fármacos para doentes crónicos de cem para 95 por cento ou a subida das taxas moderadoras o obrigou a poupar, sim, mas no seu direito à saúde, o que fez crescer exponencialmente o risco da necessidade de internamentos e intervenções, justamente os sectores agora visados pelo Governo.
Tratando-se, como se trata, de actos médicos que não dependem da vontade do doente – «doutor, quero passar uma semana em Santa Maria»; «doutora, quero ser operada à vesícula» – a «moderação do acesso» a que Correia de Campos alude só pode ser entendida como mais um passo na senda do caminho aberto por Leonor Beleza com o seu tristemente célebre «quem quer saúde paga-a», como se não a pagássemos já todos com os nossos impostos. Por outras palavras, trata-se de mais uma machadada no Serviço Nacional de Saúde e no princípio constitucional do direito à saúde, que começou por consagrar o direito a serviços gratuitos, passou depois para tendencionalmente gratuitos e caminha agora a passos largos para serviços tendencionalmente pagos e cada vez mais caros.
Fazendo o paralelismo com o PS, forçado se torna constatar que começou por se dizer de esquerda, passou depois a ser tendencionalmente de esquerda e agora, com maioria absoluta, já nem se dá ao trabalho de esconder como se sente bem à direita.