Contra-informação e pânico moral

Jorge Messias
A fraude na informação é prática comum da comunicação social capitalista, quase completamente dominada por poderosos grupos financeiros. Mas esta rotina adquire uma outra dimensão quando, em fase imperialista, a fraude deixa de ser passiva ou oportunista e ganha contornos activos e coordenados de guerra psicológica integrada em esquemas políticos, monetários e militares. Então, a comunicação transforma-se em terrorismo e a informação converte-se em contra-informação manipulada. É assim que, nas guerras com raízes no domínio absoluto do petróleo e do gás natural, a diplomacia, as bolsas financeiras e a informação unem esforços no sentido de programarem, em conjunto, imagens virtuais e factos políticos completamente fictícios e destinados a criar na opinião pública mundial a ideia de realidades simuladas, de coisas imaginadas que exigiriam, caso fossem reais, decisões repressivas imediatas, reforço das polícias e aumento da dureza das leis, em defesa das liberdades e da segurança pública.

O «pânico moral»

A contra-informação procura insinuar na opinião de um grupo humano importante a ideia da proximidade de um facto iminente, catastrófico, criminoso, anormal e repulsivo. Tão pavoroso será esse acontecimento que se anuncia, que os cidadãos esquecem o que na realidade se passa no mundo e concentram toda a sua atenção na antecipação virtual daquilo que, em geral, nunca vem a acontecer. No passado recente tivemos os casos da pista búlgara, das armas de destruição maciça iraquianas, do Eixo do Mal muçulmano ou da natureza diabólica da Al-Caeda. Tudo, casos forjados pela imaginação fértil dos arquitectos da contra-informação. Quando depois a mentira acaba por ser desmontada, já deixou marcas na opinião pública.
Num outro patamar, agrupam-se os acontecimentos que não se contestam mas cuja responsabilidade é imputada a autores mal definidos e cujos perfis a contra-informação rigorosamente protege. Exemplos : as origens americanas da Al-Caeda e do projecto dos gasodutos, o terrorismo privado no Iraque e no Afeganistão, a destruição das torres gémeas de Nova Iorque, os atentados ferroviários de Madrid, Tóquio e Londres ou os actos terroristas menores sistematicamente ligados à sugestão de terem sido cometidos por fanáticos muçulmanos. Isto, ainda que se saiba que a Al-Caeda foi criação de Georges Bush (pai) e da família real saudita, que os atentados de Nova Iorque tiveram uma história secreta altamente suspeita, que há centenas de milícias privadas norte-americanas a actuarem impunemente no Médio Oriente, com actos terroristas, que existe uma íntima ligação entre os terrorismos ligados ao petróleo, à droga, ao tráfico de armas e de divisas, e que todas estas actividades criminosas são coordenadas aos mais altos níveis institucionais.
Os métodos do «pânico moral» têm sido minuciosamente aperfeiçoados, desde os tempos em que os nazis alemães os inventaram. Possuem um grande poder de penetração nas mentes e dispõem de um vasto leque de modalidades. De entre estas lembremos apenas duas, ainda recentemente usadas nas guerras do Médio Oriente.
No Líbano, não foi por mero acaso que os sionistas, hebreus e norte-americanos, estabeleceram como prioridade militar a destruição de alvos civis. Foram atacadas e demolidas pontes, estradas, áreas de habitação, escolas, centrais eléctricas, serviços de saúde e de assistência social. Mas os comandos não procederam assim por simples malvadez. Aplicaram regras previstas pelo «pânico moral». Quando o sofrimento das populações se torna insuportável, o que em princípio acontece é que o desânimo ganha a população civil a qual vira as suas iras, não contra os atacantes mas contra os próprios resistentes. Sabemos agora que os cálculos de Israel saíram furados.
Um outro exemplo é fornecido pela historieta dos terroristas sem nome que terão projectado reavivar a Al-Caeda e fazer explodir aviões das linhas civis. As agências secretas que afirmam ter descoberto a marosca são as mesmas que têm estado desde sempre envolvidas nas intrigas do petróleo: a CIA, a SIS paquistanesa e os serviços secretos de Sua Majestade britânica. Não houve explosões e nada realmente aconteceu. Foram presos 20 jovens civis, todos muçulmanos. Os jornais fizeram-se eco daqueles que reclamam medidas antiterroristas mais duras e livre pulso para as polícias. Amplas camadas da burguesia sentiram-se gratas pelos poderes cuidarem tão bem da sua segurança.
Funcionou o «pânico moral». É à sua sombra que florescem as sociedades concentracionárias e o fascismo galopa livremente. Importa à vigilância popular a denúncia de todas estas manobras de terror. A contra-informação é uma poderosa seta envenenada.


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