Bendita sociedade da informação
Vivemos recentemente mais uma ocasião de píncaro da Sociedade da Informação, ou da Sociedade do Conhecimento, como alguns dados a análises mais «profundas» preferem designar. Refiro-me, é claro, aos Campeonatos de Mundo de Futebol realizados na Alemanha. E neste particular, recordo o que o ex-Vice Presidente da Comissão Europeia, Professor Mário Monti, afirmou para a lápide logo a seguir ao EURO 2004: que é de futebol que se trata quando se fala da Sociedade da Informação.
(Reafirmo que nada tenho contra o futebol jogado, que me proporciona com frequência momentos de lazer e prazer, de vibração e de entusiasmo.)
Então, por essa ocasião, na véspera do jogo da selecção portuguesa contra a neerlandesa, passava eu por Madrid e, com a curiosidade costumeira, deitei a olhadela para os escaparates dos jornais. E lá se podia ver as fotografias dos jogadores da equipa espanhola (desculpem, mas não gosto de chamar Espanha à selecção espanhola, nem Portugal à selecção portuguesa, etc.) abraçados, unidos, preparados para a fase seguinte, os oitavos de final. Que, rebéubéu, já estariam a pensar no jogo com a equipa francesa apenas apurada no último jogo – na véspera, assistira eu à epopeia «francesa» desde Nice, de uma equipa que – diziam – andava amedontrada (?). E a selecção espanhola, bem como os seus apoiantes, tinha razão para estar contente com a sua carreira nas eliminatórias – três vitórias, nove pontos, boas exibições, após os calafrios por que passaram para chegar aquela fase do Campeonato do Mundo de Futebol (desculpem insistir em citar o futebol, para evitar ambiguidades, visto haver outros campeonatos do mundo e outros desportos). Até aí tudo certo.
Manipulações
Agora, o que quero é referir em concreto são dois casos que me chamaram a atenção a confirmar, aliás, as grandes e intrínsecas possibilidades de manipulação dos órgãos de comunicação de massas, dos arautos. Coisas que não acontecem apenas em Portugal, como muitos gostam de fazer querer, para poderem salvar os sistemas sociais de que são indefectíveis apoiantes.
O primeiro caso (refiro-me apenas a notícias – imagens e legendas – ocupando a quase totalidade de primeiras páginas visíveis nos escaparates) foi o do La Vanguardia de Barcelona – fotografia de um cacho de jogadores espanhóis abraçados e legenda a noticiar que a Espanha, o Campeão Brasil (um país ibero-americano, diria eu, quase «espanhol») e a organizadora Alemanha eram os únicos três que tinham passado só com vitórias; a grandeza da Espanha bem enquadrada, «esquecendo» que a selecção portuguesa também tinha conseguido três vitórias. Mas, para eles foi melhor fingir que Portugal não existe, nem sequer uma equipa representando uma federação portuguesa. Parecia o velho truque: o melhor é nem falar deles… Grande Comunicação Social, grande periódico, melhor grandes Director e Chefe de Redacção, etc. Aí está a tão proclamada objectividade em termos informacionais.
O segundo caso, famoso periódico desportivo A Marca, com uma fotografia da glória francesa Zidane, um herói do Real Madrid, quase traidor, a ocupar a primeira página, e uma legenda menos informacional, mais comunicacional. Um descortinar do futuro, como Deus que vê desde sempre e para sempre. Pois, A Marca rezava em legenda, mais ou menos: Espanha – França o melhor jogo dos oitavos de final. Isto, antes destes se terem realizado: Mais, a vitória dos seus ia ser o castigo da reforma para Zidane(1). Em que se baseariam para tais afirmações, quando, por exemplo, o Portugal – Países Baixos ia envolver dois semi-finalistas do Euro 2004, um dois quais Vice-campeão da Europa? Quando à «Espanha», repete-se, não teve um caminho fácil para chegar à Alemanha; e a ««França», muitos franceses já a davam por perdida.
(Para mim é claro que qualquer das duas equipas tem grande categoria, mas eu estou só a tentar contribuir para ilustrar o que na realidade são os órgãos de comunicação social que tanto prezam a chamada objectividade, incluindo sobretudo os que mais de referência se vão intitulando.)
Tenho para mim que os órgãos mais isentos são exactamente aqueles que não disfarçam o que defendem, que dizem quem são. Por outro lado, é a Internet tão criticada por profissionais por não se poder certificar a origem e qualidade da sua informação. A quem querem enganar os que se erigem em «papas» e «professores» da informação «certificada»? Ou querem que a gente finja que não entende? Mas tudo sempre a favor de quem controla a «alocação» das mais valias do Trabalho.
(1) A Marca, viu-se, enganou-se – ganhou a selecção da França.
(Reafirmo que nada tenho contra o futebol jogado, que me proporciona com frequência momentos de lazer e prazer, de vibração e de entusiasmo.)
Então, por essa ocasião, na véspera do jogo da selecção portuguesa contra a neerlandesa, passava eu por Madrid e, com a curiosidade costumeira, deitei a olhadela para os escaparates dos jornais. E lá se podia ver as fotografias dos jogadores da equipa espanhola (desculpem, mas não gosto de chamar Espanha à selecção espanhola, nem Portugal à selecção portuguesa, etc.) abraçados, unidos, preparados para a fase seguinte, os oitavos de final. Que, rebéubéu, já estariam a pensar no jogo com a equipa francesa apenas apurada no último jogo – na véspera, assistira eu à epopeia «francesa» desde Nice, de uma equipa que – diziam – andava amedontrada (?). E a selecção espanhola, bem como os seus apoiantes, tinha razão para estar contente com a sua carreira nas eliminatórias – três vitórias, nove pontos, boas exibições, após os calafrios por que passaram para chegar aquela fase do Campeonato do Mundo de Futebol (desculpem insistir em citar o futebol, para evitar ambiguidades, visto haver outros campeonatos do mundo e outros desportos). Até aí tudo certo.
Manipulações
Agora, o que quero é referir em concreto são dois casos que me chamaram a atenção a confirmar, aliás, as grandes e intrínsecas possibilidades de manipulação dos órgãos de comunicação de massas, dos arautos. Coisas que não acontecem apenas em Portugal, como muitos gostam de fazer querer, para poderem salvar os sistemas sociais de que são indefectíveis apoiantes.
O primeiro caso (refiro-me apenas a notícias – imagens e legendas – ocupando a quase totalidade de primeiras páginas visíveis nos escaparates) foi o do La Vanguardia de Barcelona – fotografia de um cacho de jogadores espanhóis abraçados e legenda a noticiar que a Espanha, o Campeão Brasil (um país ibero-americano, diria eu, quase «espanhol») e a organizadora Alemanha eram os únicos três que tinham passado só com vitórias; a grandeza da Espanha bem enquadrada, «esquecendo» que a selecção portuguesa também tinha conseguido três vitórias. Mas, para eles foi melhor fingir que Portugal não existe, nem sequer uma equipa representando uma federação portuguesa. Parecia o velho truque: o melhor é nem falar deles… Grande Comunicação Social, grande periódico, melhor grandes Director e Chefe de Redacção, etc. Aí está a tão proclamada objectividade em termos informacionais.
O segundo caso, famoso periódico desportivo A Marca, com uma fotografia da glória francesa Zidane, um herói do Real Madrid, quase traidor, a ocupar a primeira página, e uma legenda menos informacional, mais comunicacional. Um descortinar do futuro, como Deus que vê desde sempre e para sempre. Pois, A Marca rezava em legenda, mais ou menos: Espanha – França o melhor jogo dos oitavos de final. Isto, antes destes se terem realizado: Mais, a vitória dos seus ia ser o castigo da reforma para Zidane(1). Em que se baseariam para tais afirmações, quando, por exemplo, o Portugal – Países Baixos ia envolver dois semi-finalistas do Euro 2004, um dois quais Vice-campeão da Europa? Quando à «Espanha», repete-se, não teve um caminho fácil para chegar à Alemanha; e a ««França», muitos franceses já a davam por perdida.
(Para mim é claro que qualquer das duas equipas tem grande categoria, mas eu estou só a tentar contribuir para ilustrar o que na realidade são os órgãos de comunicação social que tanto prezam a chamada objectividade, incluindo sobretudo os que mais de referência se vão intitulando.)
Tenho para mim que os órgãos mais isentos são exactamente aqueles que não disfarçam o que defendem, que dizem quem são. Por outro lado, é a Internet tão criticada por profissionais por não se poder certificar a origem e qualidade da sua informação. A quem querem enganar os que se erigem em «papas» e «professores» da informação «certificada»? Ou querem que a gente finja que não entende? Mas tudo sempre a favor de quem controla a «alocação» das mais valias do Trabalho.
(1) A Marca, viu-se, enganou-se – ganhou a selecção da França.