TGV e a língua portuguesa
No TGV que me levava de Montmartre, em Paris, para Rennes, capital da Bretanha, cismava no que tinha lido numa mensagem de email recentemente recebida. Rezava a mesma que a Telefónica se apresenta como sendo o maior operador de telecomunicações [do mundo] de língua espanhola e portuguesa. Li e reli a mensagem como se estivesse a ver a cara de espanto, de choque, da minha interlocutora.
O comboio ia cheio que nem um ovo, pelo menos na segunda classe, e já partira uns minutos atrasado. À partida tinha ocorrido, naquele acabar de tarde de trabalho, uma avalanche de pessoas apressadas por chegar aos seus lugares. Uma multidão que se atropelava para entrar como se tratasse de uma linha suburbana, não obstante as centenas de quilómetros de extensão a percorrer. A carruagem em que eu ia - pelo menos nessa - já denotava bastante uso, como é próprio de material de transporte popular e já com bastante tempo de circulação.
Aquilo que me tinha chamado a atenção desde a minha chegada à estação de caminho ferro - chemin de fer, dizem os franceses, e deu caminho de ferro em Portugal - de Montmartre, até à partida, foi o TGV constituir o normal daquela «velha» gare. O normal nos quadros de anúncio de partidas e chegadas. O normal entre os comboios estacionados – vi-os à medida que dela nos afastávamos. O normal entre os comboios que se cruzavam com aquele em que eu viajava. Era aquilo que me tinha chamado a atenção, a mim cidadão português que passo a vida a ouvir debater inflamadamente um tal projecto para o nosso País – o nosso portugalinho dos que tanto prezam as diferenças sociais extremas e vêm nas coisas «europeias» e «americanas», pelo simples facto de o serem, os seus ídolos.
A Telefónica
Mas dizia eu que ia viajando no TGV para Rennes enquanto cismava naquela frase da Telefónica – a Telefónica é o operador de telecomunicações incumbente de Espanha, como a PT é o de Portugal; «telefónica» é também a forma como jornalistas portugueses «especializados em economia» gostam (!) de se referir à PT, quando não mencionam o seu nome –, dizia, a Telefónica apresentar-se como sendo o maior operador de telecomunicações [do mundo] de língua espanhola e portuguesa. Talvez não fosse bem cismar, mas antes matutar, enquanto preparava o computador para escrever um texto sobre este assunto, aproveitando aquelas duas horas de viagem até Rennes.
Na realidade, a Telefónica, a propriamente dita, contra a qual nada me move, antes pelo contrário reconheço nela uma bela obra dos trabalhadores de Espanha, que a trouxeram até ao que é hoje através do seu trabalho, criando o seu valor, que só o trabalho o pode criar, do mesmo modo como a PT é uma criação centenária ímpar do seu colectivo de trabalhadores, a Telefónica, dizia, é, de facto, «o maior operador de telecomunicações [do mundo] de língua espanhola e portuguesa». Não por o ser em Portugal, não obstante a sua participação minoritária na PT, com 10% do valor das suas acções. Além disso, não participa directamente em qualquer operadora de telecomunicações de algum país de língua oficial portuguesa em África ou de Timor Lorosae. Nem de Macau. Mas sim por ser «a maior operadora» de telecomunicações fixas e móveis do Brasil. Isto quanto à língua portuguesa. E quanto à língua espanhola, ou castelhana – não vou entrar por aí, pela discussão desta fraternal questão, se bem que eu saiba (pudera!) haver várias línguas ibéricas para além do português e do castelhano –, a verdade é que a Telefónica é, com toda a naturalidade, a maior de Espanha e também o é em toda a Iberoamérica – os franceses e os italianos preferem chamá-la América Latina, e nós, os da língua portuguesa, vamos atrás –, ou seja, desde o Rio Grande até à Patagónia, passando por Cuba. De facto, que mais seria necessário para justificar a apresentação da Telefónica como «o maior operador de telecomunicações [do mundo] de língua espanhola e portuguesa»?
Em particular no Brasil, a PT e a Telefónica encontram-se juntas na detenção a meias da maior operadora de telecomunicações móveis da Iberoamérica, com mais de 30 milhões de clientes o que compara com cerca de 10 milhões de residentes em Portugal e 40 milhões em Espanha. Trata-se da operadora Vivo que os proponentes da OPA À PT propõem ou alienar ou, então, comprar a outra metade à Telefónica… e que a Telefónica, na palavra de Viana Baptista, devido ao grande valor estratégico da Vivo, já fez saber que não a aliena.
Entretanto, saí em Rennes e o TGV largou para Quimper, na ponta oeste da Bretanha.
O comboio ia cheio que nem um ovo, pelo menos na segunda classe, e já partira uns minutos atrasado. À partida tinha ocorrido, naquele acabar de tarde de trabalho, uma avalanche de pessoas apressadas por chegar aos seus lugares. Uma multidão que se atropelava para entrar como se tratasse de uma linha suburbana, não obstante as centenas de quilómetros de extensão a percorrer. A carruagem em que eu ia - pelo menos nessa - já denotava bastante uso, como é próprio de material de transporte popular e já com bastante tempo de circulação.
Aquilo que me tinha chamado a atenção desde a minha chegada à estação de caminho ferro - chemin de fer, dizem os franceses, e deu caminho de ferro em Portugal - de Montmartre, até à partida, foi o TGV constituir o normal daquela «velha» gare. O normal nos quadros de anúncio de partidas e chegadas. O normal entre os comboios estacionados – vi-os à medida que dela nos afastávamos. O normal entre os comboios que se cruzavam com aquele em que eu viajava. Era aquilo que me tinha chamado a atenção, a mim cidadão português que passo a vida a ouvir debater inflamadamente um tal projecto para o nosso País – o nosso portugalinho dos que tanto prezam as diferenças sociais extremas e vêm nas coisas «europeias» e «americanas», pelo simples facto de o serem, os seus ídolos.
A Telefónica
Mas dizia eu que ia viajando no TGV para Rennes enquanto cismava naquela frase da Telefónica – a Telefónica é o operador de telecomunicações incumbente de Espanha, como a PT é o de Portugal; «telefónica» é também a forma como jornalistas portugueses «especializados em economia» gostam (!) de se referir à PT, quando não mencionam o seu nome –, dizia, a Telefónica apresentar-se como sendo o maior operador de telecomunicações [do mundo] de língua espanhola e portuguesa. Talvez não fosse bem cismar, mas antes matutar, enquanto preparava o computador para escrever um texto sobre este assunto, aproveitando aquelas duas horas de viagem até Rennes.
Na realidade, a Telefónica, a propriamente dita, contra a qual nada me move, antes pelo contrário reconheço nela uma bela obra dos trabalhadores de Espanha, que a trouxeram até ao que é hoje através do seu trabalho, criando o seu valor, que só o trabalho o pode criar, do mesmo modo como a PT é uma criação centenária ímpar do seu colectivo de trabalhadores, a Telefónica, dizia, é, de facto, «o maior operador de telecomunicações [do mundo] de língua espanhola e portuguesa». Não por o ser em Portugal, não obstante a sua participação minoritária na PT, com 10% do valor das suas acções. Além disso, não participa directamente em qualquer operadora de telecomunicações de algum país de língua oficial portuguesa em África ou de Timor Lorosae. Nem de Macau. Mas sim por ser «a maior operadora» de telecomunicações fixas e móveis do Brasil. Isto quanto à língua portuguesa. E quanto à língua espanhola, ou castelhana – não vou entrar por aí, pela discussão desta fraternal questão, se bem que eu saiba (pudera!) haver várias línguas ibéricas para além do português e do castelhano –, a verdade é que a Telefónica é, com toda a naturalidade, a maior de Espanha e também o é em toda a Iberoamérica – os franceses e os italianos preferem chamá-la América Latina, e nós, os da língua portuguesa, vamos atrás –, ou seja, desde o Rio Grande até à Patagónia, passando por Cuba. De facto, que mais seria necessário para justificar a apresentação da Telefónica como «o maior operador de telecomunicações [do mundo] de língua espanhola e portuguesa»?
Em particular no Brasil, a PT e a Telefónica encontram-se juntas na detenção a meias da maior operadora de telecomunicações móveis da Iberoamérica, com mais de 30 milhões de clientes o que compara com cerca de 10 milhões de residentes em Portugal e 40 milhões em Espanha. Trata-se da operadora Vivo que os proponentes da OPA À PT propõem ou alienar ou, então, comprar a outra metade à Telefónica… e que a Telefónica, na palavra de Viana Baptista, devido ao grande valor estratégico da Vivo, já fez saber que não a aliena.
Entretanto, saí em Rennes e o TGV largou para Quimper, na ponta oeste da Bretanha.