As motivações da prática
Ao contrário daquilo que muitos pensam, a forma de o indivíduo (seja qual for a sua idade e estatuto social) se relacionar com o desporto não é uniforme. Ou seja, não resulta de uma única «lógica de prática». Durante muito tempo o tipo de relacionamento com o desporto referiu-se, essencialmente, ao modelo «jovem, masculino, estudante, pertence às camadas mais favorecidas da população». O desporto assumia, nessa altura, um carácter vincadamente elitista. A «lógica» da prática era essencialmente competitiva, visando a prestação mais elevada possível, estruturando o «modelo» da alta competição.
Logo que se iniciou uma investigação minimamente segura, referida às motivações do praticante, surgiram alguns aspectos curiosos. Como se sabe a forma selectiva, desde sempre utilizada, privilegiava os jovens mais dotados e os outros eram, e são, excluídos. Mas, mesmo entre aqueles, verificou-se existirem dois fenómenos importantes:
Uma grande percentagem dos seleccionados nas idades de iniciação eram,
de facto «os precoces», ou seja, aqueles em que o ritmo de maturação era mais rápido e intenso até aos 16, 17 anos. Isto tinha, por seu lado, duas consequências: chegados à maturidade os elementos excluídos, afinal, possuíam as mesmas aptidões dos outros (assim se perderam muitos campeões e se passou ao lado da maioria dos melhores praticantes).
Por seu turno, os «precoces», habituados à vitória até certa idade, quando eram «apanhados» pelos outros, sentiam dificuldades inesperadas e afastavam-se.
O outro aspecto refere-se à incapacidade ou à recusa de muitos jovens (mesmo dos mais dotados), quererem aceitar o «modelo» a que eles tinham (e têm) de se adaptar. A quebra da prática, muito acentuada entre nós, a partir dos 14-15 anos, deve-se, entre outros factores, em grande parte a esta situação. Ou seja, à inadequação das respostas às motivações dos praticantes.
As consequências desta situação foram incalculáveis para o desenvolvimento desportivo do País, mesmo quando nos colocamos na lógica dominante que é a da alta competição.
Linhas de força
Torna-se necessário realizar um esforço para corrigir o que se passa.
Em primeiro lugar: quais são as motivações diferenciadas que, de uma forma mais ou menos intensa, caracteriza cada grupo da população? (não esquecendo que não há uma única motivação a determinar o comportamento, mas que este depende da inter-relação entre diferentes motivações).
Parece-nos que podemos agrupar estas motivações em cinco grandes grupos:
- desejo de aprender, de ser melhor, de ser como o seu «modelo» de referência (o campeão) e de adquirir novas capacidades num ambiente alegre e convivial – trata-se do conjunto de motivações para a «formação», dominante, naturalmente, entre a criança e pós-adolescente;
- desejo de exercer capacidades, de as medir com os outros iguais, com a finalidade de se afirmar e, se possível atingir a expressão máxima – trata-se do jovem campeão que deseja aceder ou já integra a «alta competição».
- procura de convivialidade, da integração no grupo, do bem estar através da melhoria da «forma» física e da satisfação em usufruir o contacto com os outros e com a natureza. Trata-se das formas de prática recreativa, de «baixa tensão» competitiva ou até nula, ainda que, por vezes, ela se estabeleça em relação a si próprio ou com a natureza (vencer dificuldades, etc);
- desejo de manter capacidades anteriormente adquiridas (manutenção da força de trabalho) de forma individualista ou em grupo, mas sem carácter competitivo de «alta tensão», ainda que esta possa aparecer esporadicamente como modo de os testar. Os «joggers», os amantes da natureza, os frequentadores das salas de musculação , etc., situam-se frequentemente neste grupo, juntamente com os praticantes da «peladinha» dominical no processo de manutenção;
- desejo de reconstruir capacidades perdidas (por acidente, por doença, ou por avanço da idade) de se afirmar e voltar a ser capaz (reconstrução da força de trabalho). Trata-se do caso dos acidentados de estrada, da guerra, e de portadores de deficiência de toda a ordem, que necessitam de se integrar ou reinserir no mercado de trabalho e na vida social em geral.
Estamos perante um campo extremamente complexo que exige uma investigação aprofundada. Mas, de qualquer forma, é indispensável tomar em consideração estas grandes linhas de força que se desprendem da prática desportiva actual quando se pretende definir uma grelha de equipamento e, ainda mais, quando se pretende elaborar uma «política» de acção que vise a autêntica democratização da prática desportiva. De outra forma, colocar-se-ão fora dessa acção extensos grupos da população, e a inadequação dos equipamentos subordinados a um único modelo (como acontece entre nós) não tarda em aparecer.
Logo que se iniciou uma investigação minimamente segura, referida às motivações do praticante, surgiram alguns aspectos curiosos. Como se sabe a forma selectiva, desde sempre utilizada, privilegiava os jovens mais dotados e os outros eram, e são, excluídos. Mas, mesmo entre aqueles, verificou-se existirem dois fenómenos importantes:
Uma grande percentagem dos seleccionados nas idades de iniciação eram,
de facto «os precoces», ou seja, aqueles em que o ritmo de maturação era mais rápido e intenso até aos 16, 17 anos. Isto tinha, por seu lado, duas consequências: chegados à maturidade os elementos excluídos, afinal, possuíam as mesmas aptidões dos outros (assim se perderam muitos campeões e se passou ao lado da maioria dos melhores praticantes).
Por seu turno, os «precoces», habituados à vitória até certa idade, quando eram «apanhados» pelos outros, sentiam dificuldades inesperadas e afastavam-se.
O outro aspecto refere-se à incapacidade ou à recusa de muitos jovens (mesmo dos mais dotados), quererem aceitar o «modelo» a que eles tinham (e têm) de se adaptar. A quebra da prática, muito acentuada entre nós, a partir dos 14-15 anos, deve-se, entre outros factores, em grande parte a esta situação. Ou seja, à inadequação das respostas às motivações dos praticantes.
As consequências desta situação foram incalculáveis para o desenvolvimento desportivo do País, mesmo quando nos colocamos na lógica dominante que é a da alta competição.
Linhas de força
Torna-se necessário realizar um esforço para corrigir o que se passa.
Em primeiro lugar: quais são as motivações diferenciadas que, de uma forma mais ou menos intensa, caracteriza cada grupo da população? (não esquecendo que não há uma única motivação a determinar o comportamento, mas que este depende da inter-relação entre diferentes motivações).
Parece-nos que podemos agrupar estas motivações em cinco grandes grupos:
- desejo de aprender, de ser melhor, de ser como o seu «modelo» de referência (o campeão) e de adquirir novas capacidades num ambiente alegre e convivial – trata-se do conjunto de motivações para a «formação», dominante, naturalmente, entre a criança e pós-adolescente;
- desejo de exercer capacidades, de as medir com os outros iguais, com a finalidade de se afirmar e, se possível atingir a expressão máxima – trata-se do jovem campeão que deseja aceder ou já integra a «alta competição».
- procura de convivialidade, da integração no grupo, do bem estar através da melhoria da «forma» física e da satisfação em usufruir o contacto com os outros e com a natureza. Trata-se das formas de prática recreativa, de «baixa tensão» competitiva ou até nula, ainda que, por vezes, ela se estabeleça em relação a si próprio ou com a natureza (vencer dificuldades, etc);
- desejo de manter capacidades anteriormente adquiridas (manutenção da força de trabalho) de forma individualista ou em grupo, mas sem carácter competitivo de «alta tensão», ainda que esta possa aparecer esporadicamente como modo de os testar. Os «joggers», os amantes da natureza, os frequentadores das salas de musculação , etc., situam-se frequentemente neste grupo, juntamente com os praticantes da «peladinha» dominical no processo de manutenção;
- desejo de reconstruir capacidades perdidas (por acidente, por doença, ou por avanço da idade) de se afirmar e voltar a ser capaz (reconstrução da força de trabalho). Trata-se do caso dos acidentados de estrada, da guerra, e de portadores de deficiência de toda a ordem, que necessitam de se integrar ou reinserir no mercado de trabalho e na vida social em geral.
Estamos perante um campo extremamente complexo que exige uma investigação aprofundada. Mas, de qualquer forma, é indispensável tomar em consideração estas grandes linhas de força que se desprendem da prática desportiva actual quando se pretende definir uma grelha de equipamento e, ainda mais, quando se pretende elaborar uma «política» de acção que vise a autêntica democratização da prática desportiva. De outra forma, colocar-se-ão fora dessa acção extensos grupos da população, e a inadequação dos equipamentos subordinados a um único modelo (como acontece entre nós) não tarda em aparecer.