Compreensão do Desporto
O trabalho constitui o elemento determinante da hominização, ou seja, da transformação do ser humano em «Homem» em plena posse das suas capacidades. É pelo trabalho que ele se constrói como um «ser social» capaz de transformar a natureza e de transformar a si próprio, transformando aquilo que o rodeia.
Esta função do trabalho tem gerado uma enorme polémica. Mas, se as recentes alterações que se deram no mundo demonstraram que a modificação do comportamento humano é tão rápida como se desejava, convém não esquecer que foi a acção consciente de muitos milhões de seres humanos que provocou as alterações sociais que permitiram construir a sociedade e dominar aspectos essenciais dos fenómenos naturais colocando-os ao seu serviço.
O facto de se reafirmar aqui esta perspectiva de carácter histórico tem como objectivo chamar a atenção para um fenómeno, muito frequente, que consiste em rejeitar a análise científica da realidade para fundamentar o desenvolvimento do desporto. Desclassificado na sua função social, maioritariamente praticado por jovens, actividade de fazer e, por isso, não directamente reprodutiva, o desporto não se tem prestado a grandes teorizações. Mais grave ainda, estas são olhadas com desconfiança pelos homens que construíram o desporto no passado que não tinham tempo, nem disposição, para se dedicar à teorização de uma actividade que parecia derivar directamente da brincadeira infantil.
A situação do desporto transformou-se radicalmente. Mas a atitude de recusa de o considerar uma prática digna de teorização continua a dominar entre aqueles que assumem responsabilidades directas na sua organização e orientação. A situação assume uma gravidade particular quando se trata de pensar, definir quais os princípios, objectivos e formas de acção, que devem orientar o processo de democratização desportiva no seu sentido total (democratização do acesso, democratização dos conteúdos, democratização das organizações, democratização da gestão, democratização da participação, etc.).
Quando se trata de definir uma forma alternativa ao desporto promovido pela estrutura federada, assente noutra perspectiva, é fundamental combater o duplo erro que consiste em desclassificar a importância da reflexão e da aquisição de conhecimentos, ao mesmo tempo que não se procura ligar estruturalmente estes conhecimentos com a vida. A primeira posição leva à reprodução acrítica de modelos de actuação e à assimilação passiva da ideologia dominante (a desportiva e toda aquela que tem directa ou indirecta relação com ela). A segunda atitude constitui, no fundo, uma outra forma de ignorância. De facto, afastar a teorização dos factos reais a que ela se refere, é obrar no vazio e condenar a acção a desenvolver-se sem rumo certo, no fundo reproduzindo, sob uma outra forma, a atitude anterior.
Uma nova doutrina
Observar permanentemente a realidade, ultrapassando a simples atitude empírica, raiz de um «praticismo» puramente reprodutor, para caminhar no sentido de compreender, cada vez mais profunda e completamente, o fenómeno desportivo, constitui a atitude essencial para se elaborar uma nova visão do desporto. Por sua vez, a elaboração desta nova visão é fundamental se se quiser contrariar a acção nefasta da perspectiva dominante, altamente prejudicial para os grupos sociais mais desprotegidos e para a sociedade no seu todo.
A necessidade de uma nova doutrina radicada na luta de resistência às forças de degradação e de criação de uma nova sociedade, impõe a elaboração e o estudo dos fenómenos, comportamentos e opiniões. A teorização não é, assim, um capucho intelectual mas um instrumento essencial para que o desporto contribua para transformar a vida das camadas populares, cujo acesso à prática desportiva está muito longe de se ter conseguido num País em que a educação física no 1.º Ciclo e a generalização do desporto escolar não encontraram ainda solução, apesar do anúncio marcadamente demagógico que se vai fazendo de que ela está para breve.
Para compreender plenamente a necessidade de elaborar uma perspectiva alternativa é preciso tomar em consideração que a enorme maioria da população trabalhadora realiza uma prática desportiva muito restrita. Mesmo entre os jovens a quebra da participação é notória por volta dos 14 anos de idade, acentua-se aos 18, para cair a níveis irrisórios (aliás, totalmente desconhecidos entre nós) na altura em que o jovem acede «à vida real».
É evidente que as razões fundamentais desta situação são de carácter social, político e económico.
Mas será só por isso? Como explicar a forma insalubre como muitos jovens e adultos trabalhadores passam o seu tempo livre e como vivem o desporto (são a grande massa de «supporters» dos espectáculos desportivos mais alienantes)?
Esta função do trabalho tem gerado uma enorme polémica. Mas, se as recentes alterações que se deram no mundo demonstraram que a modificação do comportamento humano é tão rápida como se desejava, convém não esquecer que foi a acção consciente de muitos milhões de seres humanos que provocou as alterações sociais que permitiram construir a sociedade e dominar aspectos essenciais dos fenómenos naturais colocando-os ao seu serviço.
O facto de se reafirmar aqui esta perspectiva de carácter histórico tem como objectivo chamar a atenção para um fenómeno, muito frequente, que consiste em rejeitar a análise científica da realidade para fundamentar o desenvolvimento do desporto. Desclassificado na sua função social, maioritariamente praticado por jovens, actividade de fazer e, por isso, não directamente reprodutiva, o desporto não se tem prestado a grandes teorizações. Mais grave ainda, estas são olhadas com desconfiança pelos homens que construíram o desporto no passado que não tinham tempo, nem disposição, para se dedicar à teorização de uma actividade que parecia derivar directamente da brincadeira infantil.
A situação do desporto transformou-se radicalmente. Mas a atitude de recusa de o considerar uma prática digna de teorização continua a dominar entre aqueles que assumem responsabilidades directas na sua organização e orientação. A situação assume uma gravidade particular quando se trata de pensar, definir quais os princípios, objectivos e formas de acção, que devem orientar o processo de democratização desportiva no seu sentido total (democratização do acesso, democratização dos conteúdos, democratização das organizações, democratização da gestão, democratização da participação, etc.).
Quando se trata de definir uma forma alternativa ao desporto promovido pela estrutura federada, assente noutra perspectiva, é fundamental combater o duplo erro que consiste em desclassificar a importância da reflexão e da aquisição de conhecimentos, ao mesmo tempo que não se procura ligar estruturalmente estes conhecimentos com a vida. A primeira posição leva à reprodução acrítica de modelos de actuação e à assimilação passiva da ideologia dominante (a desportiva e toda aquela que tem directa ou indirecta relação com ela). A segunda atitude constitui, no fundo, uma outra forma de ignorância. De facto, afastar a teorização dos factos reais a que ela se refere, é obrar no vazio e condenar a acção a desenvolver-se sem rumo certo, no fundo reproduzindo, sob uma outra forma, a atitude anterior.
Uma nova doutrina
Observar permanentemente a realidade, ultrapassando a simples atitude empírica, raiz de um «praticismo» puramente reprodutor, para caminhar no sentido de compreender, cada vez mais profunda e completamente, o fenómeno desportivo, constitui a atitude essencial para se elaborar uma nova visão do desporto. Por sua vez, a elaboração desta nova visão é fundamental se se quiser contrariar a acção nefasta da perspectiva dominante, altamente prejudicial para os grupos sociais mais desprotegidos e para a sociedade no seu todo.
A necessidade de uma nova doutrina radicada na luta de resistência às forças de degradação e de criação de uma nova sociedade, impõe a elaboração e o estudo dos fenómenos, comportamentos e opiniões. A teorização não é, assim, um capucho intelectual mas um instrumento essencial para que o desporto contribua para transformar a vida das camadas populares, cujo acesso à prática desportiva está muito longe de se ter conseguido num País em que a educação física no 1.º Ciclo e a generalização do desporto escolar não encontraram ainda solução, apesar do anúncio marcadamente demagógico que se vai fazendo de que ela está para breve.
Para compreender plenamente a necessidade de elaborar uma perspectiva alternativa é preciso tomar em consideração que a enorme maioria da população trabalhadora realiza uma prática desportiva muito restrita. Mesmo entre os jovens a quebra da participação é notória por volta dos 14 anos de idade, acentua-se aos 18, para cair a níveis irrisórios (aliás, totalmente desconhecidos entre nós) na altura em que o jovem acede «à vida real».
É evidente que as razões fundamentais desta situação são de carácter social, político e económico.
Mas será só por isso? Como explicar a forma insalubre como muitos jovens e adultos trabalhadores passam o seu tempo livre e como vivem o desporto (são a grande massa de «supporters» dos espectáculos desportivos mais alienantes)?