Semana da Europa
No plano da União Europeia, a semana que decorre é marcada pelas comemorações do Dia da Europa (9 de Maio). Além das habituais efemérides, da cobertura mediática deste ano salta-me à vista a omnipresença de um Presidente da República eleito pela direita, pela primeira vez na história da nossa democracia de Abril; uma entrevista com um Ministro dos Negócios Estrangeiros de direita (auto-denominado independente), cansado e com dores nas costas, sem grande entusiasmo pelas suas funções que considera quase banais perto da grandiosidade de outras tarefas que desempenhou; um Primeiro-Ministro que se movimenta relativamente à finada Constituição Europeia, indiciando a procura de um lugar na pole position dos destinos europeus, iludido talvez pela Presidência Portuguesa da UE, no próximo ano.
Nesta babilónia de declarações avulsas e cerimónias intricadas, os pastéis de nata do Martinho da Arcada são reis e senhores da festa – não sendo contraponto do que está antes, é pelo menos uma doce notícia...
Produtividade e natalidade
A iniciar a semana, e como prenúncio das comemorações, um dos diários portugueses destacava os resultados de um estudo indicando que Portugal se afastava da Europa durante mais meio século. Estas conclusões fazem parte de um trabalho apresentado no princípio deste ano – e, pelos vistos, guardadinho para esta altura – sobre o impacto da demografia na economia dos países da UE. Segundo o mesmo jornal, Portugal estaria em 2050 na cauda da Europa, ultrapassado por todos os países da adesão em termos de PIB per capita, e assistido apenas pela companheira de infortúnio Grécia.
Que a convergência de Portugal relativamente ao conjunto dos países da UE não tem sido famosa, não é novidade. Interessantes são as razões citadas para esta estagnação na riqueza produzida em média por cada português, nos próximos 44 anos: as baixas expectativas demográficas e a fraca produtividade.
A questão da produtividade é sobejamente conhecida. Para, aparentemente, a resolver apela-se à flexibilidade, exigem-se novos ritmos de trabalho, impõem-se regras que sacrificam os direitos dos muitos que trabalham em prol dos poucos que enriquecem. As más condições e a sinistralidade no trabalho, a fraca aposta na formação profissional, o baixo nível de qualificação de quem gere bens e recursos humanos nas empresas não são admissíveis como chave da questão. Num país cada vez mais pobre e com graves carências, procura-se o bode expiatório no malandro do trabalhador que não quer produzir.
O fraco crescimento demográfico previsto para Portugal, perspectivando um envelhecimento acentuado da população nas próximas décadas, cai que nem pedra no charco numa semana de grandes contestações. Nem a propósito, milhares e milhares de portugueses saíram às ruas, gritando pelos direitos inerentes à maternidade, neste caso, às maternidades propriamente ditas. Barcelos, Santo Tirso, Elvas, Oliveira de Azeméis, entre outras localidades, vão perder as suas maternidades, obrigando as parturientes a deslocarem-se muitos quilómetros para terem os seus filhos noutros concelhos. Estranha forma de combater a quebra anunciada da natalidade, que se junta a outras tantas medidas penalizadoras das famílias que aspiram a aumentar o seu agregado (alargamento da licença de maternidade para 150 dias com perda de subsídio, retirada da indemnização em dobro aquando do despedimento ilegal de uma grávida ou puérpera, alienação da rede pública de amas, creches, infantários e ATL’s ou as propostas de aumento da idade de reforma).
À parte os indicadores económicos que nos dizem, neste caso, o que já sabemos - que estamos cada vez mais pobres -, espanta a desfaçatez com que se encontram explicações e avançam caminhos sem uma palavra para as políticas que conduzem o país a este estado de coisas.
A UE que temos e onde nos inserimos não é a que escolhemos. A busca de um novo caminho para Portugal e para a Europa anima-nos de uma força que se renova na luta de massas, conjugada com uma intensa actividade institucional, que batalha pelos direitos sociais e a igualdade, pela solidariedade e o desenvolvimento sustentado, pela democracia, a cooperação entre estados iguais e a paz. Esta sim, seria a Europa a comemorar.
Nesta babilónia de declarações avulsas e cerimónias intricadas, os pastéis de nata do Martinho da Arcada são reis e senhores da festa – não sendo contraponto do que está antes, é pelo menos uma doce notícia...
Produtividade e natalidade
A iniciar a semana, e como prenúncio das comemorações, um dos diários portugueses destacava os resultados de um estudo indicando que Portugal se afastava da Europa durante mais meio século. Estas conclusões fazem parte de um trabalho apresentado no princípio deste ano – e, pelos vistos, guardadinho para esta altura – sobre o impacto da demografia na economia dos países da UE. Segundo o mesmo jornal, Portugal estaria em 2050 na cauda da Europa, ultrapassado por todos os países da adesão em termos de PIB per capita, e assistido apenas pela companheira de infortúnio Grécia.
Que a convergência de Portugal relativamente ao conjunto dos países da UE não tem sido famosa, não é novidade. Interessantes são as razões citadas para esta estagnação na riqueza produzida em média por cada português, nos próximos 44 anos: as baixas expectativas demográficas e a fraca produtividade.
A questão da produtividade é sobejamente conhecida. Para, aparentemente, a resolver apela-se à flexibilidade, exigem-se novos ritmos de trabalho, impõem-se regras que sacrificam os direitos dos muitos que trabalham em prol dos poucos que enriquecem. As más condições e a sinistralidade no trabalho, a fraca aposta na formação profissional, o baixo nível de qualificação de quem gere bens e recursos humanos nas empresas não são admissíveis como chave da questão. Num país cada vez mais pobre e com graves carências, procura-se o bode expiatório no malandro do trabalhador que não quer produzir.
O fraco crescimento demográfico previsto para Portugal, perspectivando um envelhecimento acentuado da população nas próximas décadas, cai que nem pedra no charco numa semana de grandes contestações. Nem a propósito, milhares e milhares de portugueses saíram às ruas, gritando pelos direitos inerentes à maternidade, neste caso, às maternidades propriamente ditas. Barcelos, Santo Tirso, Elvas, Oliveira de Azeméis, entre outras localidades, vão perder as suas maternidades, obrigando as parturientes a deslocarem-se muitos quilómetros para terem os seus filhos noutros concelhos. Estranha forma de combater a quebra anunciada da natalidade, que se junta a outras tantas medidas penalizadoras das famílias que aspiram a aumentar o seu agregado (alargamento da licença de maternidade para 150 dias com perda de subsídio, retirada da indemnização em dobro aquando do despedimento ilegal de uma grávida ou puérpera, alienação da rede pública de amas, creches, infantários e ATL’s ou as propostas de aumento da idade de reforma).
À parte os indicadores económicos que nos dizem, neste caso, o que já sabemos - que estamos cada vez mais pobres -, espanta a desfaçatez com que se encontram explicações e avançam caminhos sem uma palavra para as políticas que conduzem o país a este estado de coisas.
A UE que temos e onde nos inserimos não é a que escolhemos. A busca de um novo caminho para Portugal e para a Europa anima-nos de uma força que se renova na luta de massas, conjugada com uma intensa actividade institucional, que batalha pelos direitos sociais e a igualdade, pela solidariedade e o desenvolvimento sustentado, pela democracia, a cooperação entre estados iguais e a paz. Esta sim, seria a Europa a comemorar.