Povos desejam políticas sociais

A descrença no rumo liberal

Quase um ano após a rejeição do projecto constitucional pela França e Holanda, a maioria esmagadora dos inquiridos, numa sondagem realizada nos 25 países da UE, rejeita o objectivo de uma constituição comum.

Eurobarómetro revela desilusão com orientações liberais da UE

Nesta sondagem efectuada entre 20 de Fevereiro e 24 de Março, apenas 25 por cento das respostas consideram o projecto constitucional como um elemento decisivo para o futuro.
Aliás, com 29 e 32 por cento de opiniões favoráveis à constituição, os franceses e holandeses nem sequer são os mais hostis. De acordo com a sondagem, nos novos estados do leste europeu, em Portugal, Irlanda, Reino Unido, Áustria e Finlândia esse apoio é muito mais reduzido, ficando abaixo dos 20 por cento.
Mesmo outros projectos, como o euro, estão longe de recolher o consenso na opinião pública. O Eurobarómetro, cujos resultados oficiais foram divulgados na sexta-feira, dia 5, indica que apenas 26 por cento dos inquiridos consideram a moeda única como um factor importante para o futuro, sendo que só 27 por cento a incluem entre os «resultados positivos» da integração europeia.
Sintomático é que, nos 12 países da zona euro, a moeda europeia não é vista como uma factor de diminuição da inflação e aumento do poder de compra, mas pelo contrário como causa da subida dos preços.
As opiniões negativas reveladas pelo estudo abrangem igualmente outros domínios das políticas europeias, em particular nos que respeita à protecção dos direitos sociais ou ao combate ao desemprego. Nestas matérias, a sondagem mostra que 53 e 62 por cento, respectivamente, dos europeus reprovam as actuais orientações.
Em sentido contrário, é registada uma forte maioria de opiniões (62%) favoráveis a uma harmonização da protecção social a nível europeu. Um terço dos inquiridos (32%) consideram que esta harmonização permitiria reforçar a noção de cidadania europeia, mais do que uma constituição comum (27%) ou que um presidente da UE eleito por sufrágio universal (16%).
O grande consenso em relação à necessidade de reforçar as políticas sociais está certamente ligado ao facto de que mais de um terço dos inquiridos (37%) afirmam chegar ao fim do mês com dificuldades financeiras.
Neste contexto, a maioria dos europeus está pessimista em relação ao futuro da Europa (61 por cento), percentagem que sobe para 66 por cento quando perguntados sobre o futuro dos seus próprios países.


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