A miragem chilena
Ao longo dos últimos anos, o Chile tem sido apontado como um exemplo económico para a América Latina e não só. Especialmente porque os anos de «Concertación» foram encabeçados por um partido socialista «bem comportado», que seguiu, no essencial, as pautas marcadas pelo pinochetismo e pelo fundomonetarismo.
Os números da macro-economia apontam, na verdade, nesse sentido. E os da micro-economia? Os do povo que trabalha e sofre todos os dias? Vejamos.
Como resultado de um crescimento interanual de 5,8 por cento durante os últimos dez anos, o país austral tem um ingresso mínimo de seis mil dólares. Alto, não há dúvida. Mas ao mesmo tempo o Chile é um dos países onde se registam os níveis mais elevados de desigualdade na distribuição do ingresso. O grupo dos 10 por cento de chilenos mais ricos aufere rendimentos quinze vezes superiores ao dos 10 por cento do segmento mais pobre.
Por outro lado, temos que o ordenado mínimo é de mil pesos.
Se tivermos em conta que o câmbio está numa relação de 1:520, verificamos que é de menos de dois dólares, o que equivale a metade do preço de um quilo de cobre, a principal riqueza do país. Para o Chile, que é dono de perto de 40 por cento das reservas mundiais deste mineral, o cobre representa perto de 20 por cento do seu produto bruto… mas só uma terceira parte da sua exploração, manufactura e exportação produz royalties. Os outros dois terços não tributam e saem para o exterior sem pagar nada ao estado chileno, porque pertencem a empresas estrangeiras por obra e graça de Augusto Pinochet, assassino e escroque de alto voo.
Segurança social, um grande desafio a curto prazo
Dentro de umas quantas semanas, o Chile vai estrear um novo governo, também encabeçado pelo Partido Socialista, neste caso com algumas diferenças, que podem ser importantes em relação com os seus antecessores.
Michelle Bastelet, filha de um general assassinado por Pinochet e que viveu exilada na Austrália e na Alemanha, onde se formou profissionalmente, vai trabalhar com um parlamento onde a «Concertación» tem maioria pela primeira vez. Os governos socialistas anteriores não puderam avançar com algumas leis de justiça social porque eram minoritários no parlamento. Essa desculpa já não existe e uma área que necessita atenção urgente é a da segurança social.
Depois da imposição neoliberal, com tambores e foguetes, de um modelo privatizado de segurança social o panorama está terrivelmente claro. Os donos das AFP (Associações de Fundos de Pensões) conseguem ganhar milhares de milhões de dólares, entre outras razões porque 20 por cento das cotizações dos trabalhadores vão direitinhas para as suas algibeiras na qualidade de comissões por administrar esses fundos. Entretanto, os
especialistas já denunciaram que, em 2020, «nem sequer metade das pessoas que formam parte do sistema, disporão de fundos suficientes para a sua reforma».
Mas este não será um gato fácil de esfolar. As AFP gerem fundos que passam dos 50 mil milhões de dólares, e tanto dinheiro dá muita influência e muito poder.
Governará Michelle Bachelet, médica pediatra, mais virada para as grandes massas chilenas do que os seus antecessores – Aylwin e Frei, da democracia-cristã, e Lagos, socialista – ou de nada significará ter batido, na segunda volta, o multimilionário Piñero, senhor da empresa aérea LanChile, de um canal de televisão e de uma fortuna que atinge os mil milhões de dólares?
Máximo Kinast, professor universitário e assessor empresarial com mais de 30 anos de experiência internacional, enviou recentemente uma carta aberta a Batelet onde afirma que o «Chile continuará a ser uma plutocracia, os militares continuarão impunes e a usufruir o ordenado do Chile; os ricos serão mais ricos e os pobres mais pobres».
Será realmente assim? Talvez Santiago, cidade amena que nos mostra um Chile próspero e também – se procurarmos bem – a outra cara da moeda, seja capital de uma surpresa agradável.
Os números da macro-economia apontam, na verdade, nesse sentido. E os da micro-economia? Os do povo que trabalha e sofre todos os dias? Vejamos.
Como resultado de um crescimento interanual de 5,8 por cento durante os últimos dez anos, o país austral tem um ingresso mínimo de seis mil dólares. Alto, não há dúvida. Mas ao mesmo tempo o Chile é um dos países onde se registam os níveis mais elevados de desigualdade na distribuição do ingresso. O grupo dos 10 por cento de chilenos mais ricos aufere rendimentos quinze vezes superiores ao dos 10 por cento do segmento mais pobre.
Por outro lado, temos que o ordenado mínimo é de mil pesos.
Se tivermos em conta que o câmbio está numa relação de 1:520, verificamos que é de menos de dois dólares, o que equivale a metade do preço de um quilo de cobre, a principal riqueza do país. Para o Chile, que é dono de perto de 40 por cento das reservas mundiais deste mineral, o cobre representa perto de 20 por cento do seu produto bruto… mas só uma terceira parte da sua exploração, manufactura e exportação produz royalties. Os outros dois terços não tributam e saem para o exterior sem pagar nada ao estado chileno, porque pertencem a empresas estrangeiras por obra e graça de Augusto Pinochet, assassino e escroque de alto voo.
Segurança social, um grande desafio a curto prazo
Dentro de umas quantas semanas, o Chile vai estrear um novo governo, também encabeçado pelo Partido Socialista, neste caso com algumas diferenças, que podem ser importantes em relação com os seus antecessores.
Michelle Bastelet, filha de um general assassinado por Pinochet e que viveu exilada na Austrália e na Alemanha, onde se formou profissionalmente, vai trabalhar com um parlamento onde a «Concertación» tem maioria pela primeira vez. Os governos socialistas anteriores não puderam avançar com algumas leis de justiça social porque eram minoritários no parlamento. Essa desculpa já não existe e uma área que necessita atenção urgente é a da segurança social.
Depois da imposição neoliberal, com tambores e foguetes, de um modelo privatizado de segurança social o panorama está terrivelmente claro. Os donos das AFP (Associações de Fundos de Pensões) conseguem ganhar milhares de milhões de dólares, entre outras razões porque 20 por cento das cotizações dos trabalhadores vão direitinhas para as suas algibeiras na qualidade de comissões por administrar esses fundos. Entretanto, os
especialistas já denunciaram que, em 2020, «nem sequer metade das pessoas que formam parte do sistema, disporão de fundos suficientes para a sua reforma».
Mas este não será um gato fácil de esfolar. As AFP gerem fundos que passam dos 50 mil milhões de dólares, e tanto dinheiro dá muita influência e muito poder.
Governará Michelle Bachelet, médica pediatra, mais virada para as grandes massas chilenas do que os seus antecessores – Aylwin e Frei, da democracia-cristã, e Lagos, socialista – ou de nada significará ter batido, na segunda volta, o multimilionário Piñero, senhor da empresa aérea LanChile, de um canal de televisão e de uma fortuna que atinge os mil milhões de dólares?
Máximo Kinast, professor universitário e assessor empresarial com mais de 30 anos de experiência internacional, enviou recentemente uma carta aberta a Batelet onde afirma que o «Chile continuará a ser uma plutocracia, os militares continuarão impunes e a usufruir o ordenado do Chile; os ricos serão mais ricos e os pobres mais pobres».
Será realmente assim? Talvez Santiago, cidade amena que nos mostra um Chile próspero e também – se procurarmos bem – a outra cara da moeda, seja capital de uma surpresa agradável.