A educação do desamor pelo futebol
É uma verdade reconhecida que os portugueses não gostam de futebol. Gostam, isso sim, da sua equipa e de vê-la ganhar, jogue bem ou jogue mal, com justiça ou injustiça, por mor de erros de arbitragem ou sem eles. Isto explica que, em relação aos estádios de quase todos os países europeus, os portugueses tenham umas das mais baixas médias de assistência por jogo. A realidade é indesmentível: os estádios estão vazios, enchentes só nos «grandes jogos».
A prova deste desamor dos portugueses pelo chamado desporto «rei» tive-a durante o último «mundial», de triste memória para as nossas cores. O mesmo café que deitava por fora quando havia jogos dos dois grandes de Lisboa, transmitidos pela «televisão dos ricos», esteve praticamente às moscas durante as reportagem do torneio. Mais: vi meus conhecidos, dos mais acérrimos a defender os seus emblemas e a discutir as peripécias dos embates futebolísticos nacionais, de costas voltadas para o aparelho de TV durante as transmissões do «mundial» de 2002. Por exemplo, durante o Inglaterra-Argentina, porventura, a partida mais bem jogada e emocionante daquele campeonato.
Este desamor é-nos diariamente incutido pela imprensa desportiva – escrita, radiofónica e electrónica -, que em vez de incutirem conhecimentos sobre o jogo e respectivas leis, procuram antes inflamar a clubite que existe, em forma latente, em muitos de nós. Os adeptos portugueses compram regularmente jornais desportivos não para melhorarem a sua cultura desportiva – que neles surge apenas excepcionalmente -, mas para saberem novas da sua equipa: tricas entre jogadores ou entre um atleta e o treinador, declarações do «seu» presidente, que geralmente provoca ou responde a provocações de um confrade, enfim, aspectos secundaríssimos quando realmente se ama o futebol e se gosta de viver toda a beleza e emoções que ele nos oferece.
É a clubite que faz vender. Por isso, é exacerbando esta «doença» que os jornais da especialidade – e outros órgão de comunicação – ganham terreno para imporem a sua capacidade de concorrência. Atente-se que há programas televisivos, ditos de debate, em que na pantalha surge um moderador e três comentadores, espécie de mandatários dos três «grandes», por vezes conhecidas figuras públicas, mas sem qualquer preparação futebolística teórica ou prática, cuja função é defenderem as posições dos respectivos clubes e atacarem as dos outros. Se isto não é uma injecção cavalar de clubite, então o que é?
Depois, esses «especialistas» que «debatem» as incidências do futebol ou dos próprios jogos são sempre os mesmos, ainda que hoje dêem a cara num canal e amanhã noutro. Lembram, no fundo, os analistas políticos com assento permanente e vitalício, que bem conhecemos.
Grave é também o facto de a nossa imprensa desportiva prestar um mau serviço aos adeptos do futebol não os industriando nas leis do jogo, que até não são muitas, apenas catorze. O certo é que a esmagadora maioria dos que vão aos estádios ou sedentarizam no sofá não conhecem as mais elementares leis que regem uma partida de futebol. E, como sói dizer-se e muito bem, só se ama verdadeiramente aquilo que se conhece.
Há anos, fiz uma experiência no terreno para desfazer qualquer dúvida que ainda subsistisse a este respeito. Peguei numa bola e numa tábua pintada de verde, com uma linha branca a imitar a dos relvados de futebol. A seguir, a cinquenta pessoas escolhidas ao acaso, das mais diversas profissões e estratos sociais, perguntei se protestavam contra os árbitros. A generalidade respondeu afirmativamente, pois cometiam erros grosseiros, quase sempre a favor do adversário da equipa que apoiavam. Então, coloquei-os perante uma das questões mais elementares. Servindo-se do material de que me munira, perguntei-lhes que me dissessem quando ultrapassa a bola a linha lateral. Os resultados foram desoladores. Embora entre os inquiridos houvesse antigos atletas federados, apenas um respondeu acertadamente! Quer isto dizer que, apesar de os portugueses assistirem a horas de futebol por mês, no local ou pela TV, apenas dois por cento está em condições de avaliar correctamente uma das mais corriqueiras situações do jogo.
Isto pode não dizer tudo sobre muitos dos aspectos negativos que envolvem o futebol que por cá se fabrica. Mas diz, por certo, muita coisa.
A prova deste desamor dos portugueses pelo chamado desporto «rei» tive-a durante o último «mundial», de triste memória para as nossas cores. O mesmo café que deitava por fora quando havia jogos dos dois grandes de Lisboa, transmitidos pela «televisão dos ricos», esteve praticamente às moscas durante as reportagem do torneio. Mais: vi meus conhecidos, dos mais acérrimos a defender os seus emblemas e a discutir as peripécias dos embates futebolísticos nacionais, de costas voltadas para o aparelho de TV durante as transmissões do «mundial» de 2002. Por exemplo, durante o Inglaterra-Argentina, porventura, a partida mais bem jogada e emocionante daquele campeonato.
Este desamor é-nos diariamente incutido pela imprensa desportiva – escrita, radiofónica e electrónica -, que em vez de incutirem conhecimentos sobre o jogo e respectivas leis, procuram antes inflamar a clubite que existe, em forma latente, em muitos de nós. Os adeptos portugueses compram regularmente jornais desportivos não para melhorarem a sua cultura desportiva – que neles surge apenas excepcionalmente -, mas para saberem novas da sua equipa: tricas entre jogadores ou entre um atleta e o treinador, declarações do «seu» presidente, que geralmente provoca ou responde a provocações de um confrade, enfim, aspectos secundaríssimos quando realmente se ama o futebol e se gosta de viver toda a beleza e emoções que ele nos oferece.
É a clubite que faz vender. Por isso, é exacerbando esta «doença» que os jornais da especialidade – e outros órgão de comunicação – ganham terreno para imporem a sua capacidade de concorrência. Atente-se que há programas televisivos, ditos de debate, em que na pantalha surge um moderador e três comentadores, espécie de mandatários dos três «grandes», por vezes conhecidas figuras públicas, mas sem qualquer preparação futebolística teórica ou prática, cuja função é defenderem as posições dos respectivos clubes e atacarem as dos outros. Se isto não é uma injecção cavalar de clubite, então o que é?
Depois, esses «especialistas» que «debatem» as incidências do futebol ou dos próprios jogos são sempre os mesmos, ainda que hoje dêem a cara num canal e amanhã noutro. Lembram, no fundo, os analistas políticos com assento permanente e vitalício, que bem conhecemos.
Grave é também o facto de a nossa imprensa desportiva prestar um mau serviço aos adeptos do futebol não os industriando nas leis do jogo, que até não são muitas, apenas catorze. O certo é que a esmagadora maioria dos que vão aos estádios ou sedentarizam no sofá não conhecem as mais elementares leis que regem uma partida de futebol. E, como sói dizer-se e muito bem, só se ama verdadeiramente aquilo que se conhece.
Há anos, fiz uma experiência no terreno para desfazer qualquer dúvida que ainda subsistisse a este respeito. Peguei numa bola e numa tábua pintada de verde, com uma linha branca a imitar a dos relvados de futebol. A seguir, a cinquenta pessoas escolhidas ao acaso, das mais diversas profissões e estratos sociais, perguntei se protestavam contra os árbitros. A generalidade respondeu afirmativamente, pois cometiam erros grosseiros, quase sempre a favor do adversário da equipa que apoiavam. Então, coloquei-os perante uma das questões mais elementares. Servindo-se do material de que me munira, perguntei-lhes que me dissessem quando ultrapassa a bola a linha lateral. Os resultados foram desoladores. Embora entre os inquiridos houvesse antigos atletas federados, apenas um respondeu acertadamente! Quer isto dizer que, apesar de os portugueses assistirem a horas de futebol por mês, no local ou pela TV, apenas dois por cento está em condições de avaliar correctamente uma das mais corriqueiras situações do jogo.
Isto pode não dizer tudo sobre muitos dos aspectos negativos que envolvem o futebol que por cá se fabrica. Mas diz, por certo, muita coisa.