Voos secretos da CIA

PCP condena atitude do Governo

Alvo de duras críticas do PCP continua a ser o comportamento do Governo na questão dos aviões da CIA utilizados à escala global em operações de sequestro de suspeitos enviados para prisões onde são sujeitos às piores torturas e sevícias.

Governo alterna o silêncio com evasivas

O assunto voltou na passada semana ao Parlamento pela voz do deputado comunista Jorge Machado que, depois de lembrar que o director da CIA «não desmentiu a existência de prisões clandestinas», reiterou a exigência ao Executivo para que dê «uma resposta clara e inequívoca de repúdio a todas as formas de terrorismo». Não deixa ainda de ser significativo que a bancada do PS, apesar de interpelada no debate, nada tenha dito sobre o assunto.
A posição do Grupo Parlamentar do PCP (recorde-se que em Setembro foi a primeira força política a levantar a questão no Parlamento) surge na sequência de diligências suas junto do Governo no sentido de obter esclarecimentos sobre a comprovada utilização do espaço aéreo português por aviões da secreta dos EUA para práticas que classifica de terroristas.
Depois de um silêncio que se prolongou até se revelar insuportável, o Governo só muito recentemente veio responder ao primeiro requerimento do deputado Jorge Machado onde este o inquiria sobre a matéria.
Mas fê-lo em termos tais que só agravaram as preocupações da bancada comunista. É que, durante muito tempo, do Governo, não se ouviu uma única palavra a condenar a utilização dos métodos criminosos adoptados pela CIA. E quando resolve abrir a boca – como foi o caso da resposta dada pelo Ministro das Obras públicas, Transportes e Comunicações – é para vir dizer que «a aviação civil rege-se por normas internacionais que são seguidas pela generalidade dos Estados a nível mundial, incluindo Portugal».
«Se a matéria não fosse tão séria até daria vontade de rir», afirmou Jorge Machado, depois de ter em posto em evidência as diferenças entre esta postura cúmplice e subserviente do governo português e as assumidas por outros países e organizações internacionais que pediram informações (casos da Hungria, Itália, Suíça e Islândia) ou abriram investigações (Noruega, Suécia e Conselho da Europa) ou anunciaram o reforço da vigilância e inspecção de aviões nos seus aeroportos, como fez a Espanha.
As recentes declarações de Condoleeza Rice, secretária de Estado norte-americana, confirmando a utilização pela CIA do chamado método de rendições extraordinárias, acompanhada do apelo à cooperação em operações secretas, mereceram ainda uma forte condenação do deputado Jorge Machado, na declaração política que proferiu em nome da bancada do PCP, considerando que elas só vêm evidenciar ainda mais a gravidade de toda esta situação.

Factos comprometedores

Novos dados sobre o escândalo dos aviões da CIA vieram nos últimos dias a lume. Desde Junho de 2002, foram pelo menos 59 as vezes que aeronaves terão aterrado em solo português. Dezassete dessas passagens por território nacional foram já durante o consulado de Sócrates, o que desmente as afirmações iniciais do Governo de que não existiriam casos após a sua tomada de posse em Março deste ano.
Esta informações foram publicadas em recente edição do «Diário de Notícias» na qual se refere que os aeroportos situados no Porto, em Ponta Delgada e nas Lajes são os preferidos pelos aviões da CIA na sua passagem por Portugal em trânsito para países onde aos prisioneiros são aplicados métodos bárbaros e desumanos de tortura.


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