EUA, França e Grã-Bretanha apertam cerco à Síria

Sob a mira do capital

O Conselho de Segurança aprovou, segunda-feira, uma resolução que obriga a Síria a cumprir as ordens da comissão de investigação da ONU sobre a morte do ex-primeiro-ministro libanês, Rafik Hariri.

«EUA, Grã-Bretanha e França pretendiam sanções económicas contra o governo de Damasco»

O documento mereceu o voto favorável dos 15 membros com assento no CS das Nações Unidas, mas o aparente consenso só foi alcançado após intensas negociações diplomáticas envolvendo os ministros dos negócios estrangeiros dos países representados e o próprio secretário-geral da organização, Kofi Annan.
Inicialmente, os EUA, a Grã-Bretanha e a França pretendiam que o Conselho adopta-se imediatamente sanções económicas contra o governo de Damasco, mas as reservas levantadas pela China, Rússia e Argélia, e, sobretudo, a voz insubmissa da diplomacia Síria obrigaram as três potências a fazer algumas concessões, embora não as suficientes para que a investigação decorra sob um clima de confiança mútua.

Ingerência inadmissível

Convidado a participar na reunião como observador, o chefe da diplomacia da Síria, Faruk al-Chara, vincou a posição contrária do seu governo em face do que considera ser uma ingerência na política do país e uma suspeita prévia à apresentação de conclusões sobre o sucedido a 14 de Fevereiro último em Beirute, capital do Líbano.
A argumentação de Charad é que, nestes moldes, o CS e a comissão de inquérito da ONU partem da presunção de culpa dos responsáveis sírios. Acresce, segundo o responsável, que no caso dos atentados de Nova Iorque, Londres e Madrid, ninguém ousou apontar o dedo aos serviços secretos e aos altos funcionários governamentais dos EUA, Grã-Bretanha e Espanha.
Apesar do esforço feito, as palavras do ministro não convenceram os promotores do texto. O executivo de Damasco fica assim obrigado a cumprir «plena e incondicionalmente» as determinações emanadas pela comissão de investigação liderada pelo juiz alemão Detlev Mehlis, caso contrário, serão accionadas «medidas adicionais».
No fundamental, a resolução 1636 exige que a Síria detenha qualquer indivíduo suspeito de estar por trás do assassinato de Hariri, permita o congelamento de todos os seus bens até ordens contrárias e limite a sua liberdade de circulação; autorize que os supostos implicados na alegada conspiração sejam interrogados quando, onde e como a «comissão Mehlis» bem entender; forneça todos os dados solicitados pelo juiz alemão ou seus mandatários, incluindo os respeitantes aos políticos mais próximos do presidente sírio, Bassar al-Assad, entre os quais se encontram o chefe dos serviços secretos, Asaf Shawkat.

O trio da ténue discórdia

Durante o processo de discussão do texto final da resolução no CS, três países levantaram reservas ao conteúdo inicial do documento, facto que obrigou a uma ardilosa ginástica diplomática por parte das potências promotoras, mais interessadas em cercar a Síria do que em apurar com rigor os factos que conduziram à morte de Rafik Hariri e outras 20 pessoas que o acompanhavam.
Para além de ter pedido cautela à ONU por forma a que o processo não fosse politizado, a Argélia declarou-se favorável ao cabal apuramento das circunstâncias, desde que tal fosse conduzido de forma «justa, objectiva e imparcial».
Posições idênticas manifestaram os representantes diplomáticos da China e da Rússia, os quais observaram a necessidade de confiar na vontade expressa pela Síria em levar a bom porto as investigações, sem contudo usarem o legítimo direito de veto para chumbarem a resolução.

Apesar das ameaças e das provocações
Damasco empenha-se no inquérito


Antecipando o resultado da discussão no Conselho de Segurança da ONU, o governo Sírio anunciou, sábado da semana passada, a constituição de um comité de inquérito para apurar responsabilidades na morte do antigo chefe do executivo do vizinho Líbano, Rafik Hariri.
De acordo com uma nota presidencial, o referido comité integrará o procurador-geral do país, um magistrado indicado pelo ministério da justiça e vários membros pertencentes à procuradoria militar da Síria.
Para além disso, o executivo de Damasco revelou que o grupo não vai poupar esforços no apuramento da verdade e encontra-se disposto a colaborar tanto com a «comissão Mehlis» nomeado pelas Nações Unidas como com as autoridades judicias de Beirute.
Dois dias antes, o governo liderado por Fouad Siniora confirmou o envio de um contingente do exército para a fronteira com a Síria, uma acção justificada pela suposta ameaça de organizações armadas palestinianas «hostis» ao processo de paz em curso na região.
Apesar de pouco numerosa, a força militar mobilizada pelo Líbano desloca-se pela primeira vez em direcção ao país vizinho, facto que pouco contribui para o aliviar da tensão entre as duas nações.


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