Assessor de Cheney demite-se
Lewis Libby demitiu-se na passada sexta-feira de assessor da Casa Branca, após ter sido indiciado por obstrução da justiça, perjúrio e mentira no caso CIAgate.
A demissão de Libby, que era o principal assessor em segurança nacional do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, coloca a administração Bush no centro do escândalo resultante da identificação de Valerie Plame como agente encoberta da CIA. Libby está indiciado como sendo a fonte que revelou a identidade de Plame, o que nos EUA é considerado um crime federal.
O facto de Libby ter sido indiciado significa que terá de comparecer em tribunal, o que deverá suceder ainda esta semana, para ouvir a acusação. O ex-assessor enfrenta uma pena até 30 anos de prisão.
Recorda-se que, segundo a imprensa norte-americana, a identificação de Plame como agente da CIA terá sido uma retaliação pelo facto de o diplomata Joseph Wilson, marido da agente, ter denunciado que Bush mentiu quando afirmou, para justificar a guerra no Iraque, que Saddam Hussein tinha tentado comprar urânio no Niger.
O indiciamento de Libby é a primeira acusação criminal resultante da investigação levada a cabo durante dois anos pelo grande júri, sob a direcção do conselheiro especial Patrick Fitzgerald sobre a revelação da identidade de um agente da CIA, e tudo indica que o caso não ficará por aqui. Outra das figuras importantes que está sob investigação é Karl Rove, principal assessor político de Bush, e admite-se que tanto Cheney como outras figuras da Casa Branca sejam chamadas a depor.
Libby é acusado de ter mentido aos agentes do FBI que o entrevistaram em 14 de Outubro de 2003 e em 26 de Novembro de 2003, cometendo perjúrio ao testemunhar sob juramento no grande júri, duas vezes, em Março de 2004, e de obstruir a justiça por impedir a investigação do grande júri.
O caso assume particular importância numa altura em que a administração Bush está sob fogo cerrado devido ao descalabro da sua política no Iraque - que de acordo com os dados oficiais já causou mais de 2000 baixas entre as forças norte-americanas -, e as críticas internas se agudizaram com a forma como o governo (não) actuou face ao furacão Katrina, entre outros aspectos. Razões de sobra para que o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, garanta que «neste estágio é importante não perdemos a oportunidade de termos um julgamento justo e imparcial».
Um tiro que saiu pela culatra
Lewis Libby foi um dos funcionários de alto nível responsáveis pelo planeamento da invasão do Iraque em 2003. Para justificar a decisão, enviou o diplomata Joseph Wilson, marido da agente Plame, ao Niger para comprovar que o regime desse país vendia urânio a Saddam Hussein para fabricar armas de destruição massiva.
Estava-se então em Fevereiro de 2002 e Wilson, que tinha sido embaixador dos EUA,
não só não pôde comprovar tal acusação - porque falsa - como se empenhou activamente na condenação da política belicista de Bush.
Apesar disso, cerca de um ano depois, em Janeiro de 2003, Bush afirmou publicamente ter «provas» de que Saddam Hussein tinha tentado comprar importantes quantidades de Urânio ao Niger. Alguns meses depois, a 6 de Julho, Wilson publica um artigo em The New York Times intitulado «O que não encontrei em África», denunciando a mentira de Bush.
É depois disso que a identidade de Valerie Plame como agente da CIA é revelada, quase em simultâneo, no diário The New York Times e na revista Time.
O caso tinha todos os contornos de vingança oficial, mas o escândalo assumiu tais proporções que foi impossível evitar a investigação independente. Com a credibilidade da Casa Branca em causa, Libby foi a primeira cabeça a rolar, mas pode não ser a única.
A pista italiana
O jornal italiano Il Messaggero atribuiu a anulação da conferência de imprensa conjunta de Bush e do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, na passada segunda-feira, ao CIAgate.
Escreve o jornal que a anulação da conferência permitiu «evitar questões embaraçosas» para o presidente norte-americano, após a acusação de Lewis Libby.
Por outro lado, segundo o La Repubblica, a alegada implicação italiana no Nigergate - falsos documentos sobre a compra pelo Governo iraquiano de urânio ao Niger - terá levado os dois políticos a eliminarem a declaração conjunta que deveria seguir-se ao encontro de ambos em Washington.
Silvio Berlusconi, que garante «ter tentado várias vezes convencer» Bush «a não iniciar a guerra» no Iraque, desmente o envolvimento dos serviços secretos militares italianos (SISMI) na elaboração e respectiva entrega aos EUA desse «falso dossier», mas o caso está ainda a ser investigado, estando agendada para hoje, 3 de Novembro, a audição do director do SISMI, Nicolo Pollari, pela comissão parlamentar de controlo dos serviços secretos.
O facto de Libby ter sido indiciado significa que terá de comparecer em tribunal, o que deverá suceder ainda esta semana, para ouvir a acusação. O ex-assessor enfrenta uma pena até 30 anos de prisão.
Recorda-se que, segundo a imprensa norte-americana, a identificação de Plame como agente da CIA terá sido uma retaliação pelo facto de o diplomata Joseph Wilson, marido da agente, ter denunciado que Bush mentiu quando afirmou, para justificar a guerra no Iraque, que Saddam Hussein tinha tentado comprar urânio no Niger.
O indiciamento de Libby é a primeira acusação criminal resultante da investigação levada a cabo durante dois anos pelo grande júri, sob a direcção do conselheiro especial Patrick Fitzgerald sobre a revelação da identidade de um agente da CIA, e tudo indica que o caso não ficará por aqui. Outra das figuras importantes que está sob investigação é Karl Rove, principal assessor político de Bush, e admite-se que tanto Cheney como outras figuras da Casa Branca sejam chamadas a depor.
Libby é acusado de ter mentido aos agentes do FBI que o entrevistaram em 14 de Outubro de 2003 e em 26 de Novembro de 2003, cometendo perjúrio ao testemunhar sob juramento no grande júri, duas vezes, em Março de 2004, e de obstruir a justiça por impedir a investigação do grande júri.
O caso assume particular importância numa altura em que a administração Bush está sob fogo cerrado devido ao descalabro da sua política no Iraque - que de acordo com os dados oficiais já causou mais de 2000 baixas entre as forças norte-americanas -, e as críticas internas se agudizaram com a forma como o governo (não) actuou face ao furacão Katrina, entre outros aspectos. Razões de sobra para que o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, garanta que «neste estágio é importante não perdemos a oportunidade de termos um julgamento justo e imparcial».
Um tiro que saiu pela culatra
Lewis Libby foi um dos funcionários de alto nível responsáveis pelo planeamento da invasão do Iraque em 2003. Para justificar a decisão, enviou o diplomata Joseph Wilson, marido da agente Plame, ao Niger para comprovar que o regime desse país vendia urânio a Saddam Hussein para fabricar armas de destruição massiva.
Estava-se então em Fevereiro de 2002 e Wilson, que tinha sido embaixador dos EUA,
não só não pôde comprovar tal acusação - porque falsa - como se empenhou activamente na condenação da política belicista de Bush.
Apesar disso, cerca de um ano depois, em Janeiro de 2003, Bush afirmou publicamente ter «provas» de que Saddam Hussein tinha tentado comprar importantes quantidades de Urânio ao Niger. Alguns meses depois, a 6 de Julho, Wilson publica um artigo em The New York Times intitulado «O que não encontrei em África», denunciando a mentira de Bush.
É depois disso que a identidade de Valerie Plame como agente da CIA é revelada, quase em simultâneo, no diário The New York Times e na revista Time.
O caso tinha todos os contornos de vingança oficial, mas o escândalo assumiu tais proporções que foi impossível evitar a investigação independente. Com a credibilidade da Casa Branca em causa, Libby foi a primeira cabeça a rolar, mas pode não ser a única.
A pista italiana
O jornal italiano Il Messaggero atribuiu a anulação da conferência de imprensa conjunta de Bush e do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, na passada segunda-feira, ao CIAgate.
Escreve o jornal que a anulação da conferência permitiu «evitar questões embaraçosas» para o presidente norte-americano, após a acusação de Lewis Libby.
Por outro lado, segundo o La Repubblica, a alegada implicação italiana no Nigergate - falsos documentos sobre a compra pelo Governo iraquiano de urânio ao Niger - terá levado os dois políticos a eliminarem a declaração conjunta que deveria seguir-se ao encontro de ambos em Washington.
Silvio Berlusconi, que garante «ter tentado várias vezes convencer» Bush «a não iniciar a guerra» no Iraque, desmente o envolvimento dos serviços secretos militares italianos (SISMI) na elaboração e respectiva entrega aos EUA desse «falso dossier», mas o caso está ainda a ser investigado, estando agendada para hoje, 3 de Novembro, a audição do director do SISMI, Nicolo Pollari, pela comissão parlamentar de controlo dos serviços secretos.