Uribe entre escândalos e drogas

Pedro Campos
A poucos dias de ter conseguido que o máximo tribunal do país aceitasse a possibilidade de uma nova candidatura à presidência, Uribe está a braços com outro escândalo que volta a pôr a nu as relações entre os paramilitares – paracos – e o Departamento Administrativo de Segurança – o DAS.
A sacudidela na cúpula da central de inteligência do Estado implicou para já a renúncia de Jorge Noguera e de José Miguel Narváez, respectivamente director e subdirector do organismo, que tem sido visado pela comunicação social devido a uma série de denúncias que podem afectar negativamente a «imagem» presidencial de Uribe.
Há pouco mais de um mês, El Espectador, jornal de orientação uribista, revelou que estava em marcha uma investigação contra Noguera porque tinha recebido um cheque de 10 milhões de dólares de parte de um tal Rafael Garcia, ex-subordinado que está a ser processado por enriquecimento ilícito. Garcia, até não há muito director de informática do DAS, revelou a 13 de Outubro, numa declaração de várias horas, a existência de relações entre Noguera e os paramilitares, um vínculo sistematicamente denunciado pelas forças progressistas da Colômbia. Ao que se sabe, já em 2003, Noguera sabotou uma investigação da polícia de Magdalena contra vários paramilitares da Costa Atlântica, entre eles Hernán Giraldo. Também foi revelada uma série de reuniões entre o responsável do DAS e o paraco Rodrigo Tovar Pupo, conhecido igualmente como Jorge Quarenta, que foi indigitado pelo alto comando militar como chefe paramilitar do departamento de Valladur, onde Uribe montou, em colaboração com grandes proprietários agrários, uma «rede de informantes» para defender os seus vários negócios na região.

As drogas

Paramilitares e drogas são coisas difíceis de separar. Recentemente, num encontro internacional que decorreu em Bogotá, na Universidade dos Andes, foi desancada a política antidrogas do governo uribista e, por carambola, a de Bush. Durante as jornadas do fórum-seminário, que tinha como tema «Narcotráfico: as relações entre América Latina, Europa e Estados Unidos», foram feitas algumas declarações que são de registar. «A quantidade e disponibilidade de cocaína e heroína continua abundante nos Estados Unidos, onde os preços estão a níveis historicamente baixos e o consumo permanece estável». «A política dos Estados Unidos para a América Latina e sua crescente militarização em matéria de drogas resultou em instabilidade institucional e exacerbou a corrupção e a criminalidade nestes países». «A política de drogas de Estados Unidos é um verdadeiro desastre». Por último, esta pérola: «O fenómeno da concentração da propriedade é uma das principais causas da pobreza rural, dos deslocamentos das populações, dos grupos armados, da utilização indevida da terra e dos cultivos ilícitos».
A propósito deste fórum, o conservador El Tiempo publicou um editorial [1] onde fala da «estratégia falhada» da «guerra contra as drogas», que já leva 34 anos e não só não solucionou o problema como «tem ajudado a que não se resolvam outros tão ou mais graves». Depois de se perguntar se não seria hora de abordar o problema desde uma perspectiva de «saúde pública e não de polícia», comenta que «esta estratégia repressiva contra os produtores e pequenos traficantes e consumidores» tem como dado notável «que se encheram os cárceres dos Estados Unidos de pretos e de hispanos». Num tom singularmente duro contra Uribe e Washington, o jornal adianta que «muitos anos [2] e milhares de milhões de dólares depois e com um inarrável sofrimento humano dos países que temos a desgraça de produzir drogas, o resultado é como se tivessem proibido as formigas ou as baratas».
Mais adiante, o jornal põe dedo na haga: «Os narcos tão-pouco terminarão enquanto por um quilo de cocaína, que vale 1500 dólares no Pacifico, se paguem, em Miami, 25 mil. Esta diferença só se explica pela ilegalidade do negócio. Este segue de vento em popa pese a que custou à Colômbia – não aos Estados Unidos – um sofrimento indescritível acabar com os cartéis de Medelhim e Cali».
Finalmente, rematemos com esta pergunta do editorial: «Não é uma injustiça que paguemos com uma guerra tão sangrenta e custosa o gosto de menos de um porcento da população mundial pela cocaína, heroína e meta-anfetaminas?»
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[1] - El Tiempo, 30 de Outubro de 2005.

[2] - Referência à conferência de imprensa de Nixon (17 de Junho de 1971) , quando foi tornada pública a actual estratégia de «guerra contra as drogas».


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