Milhares nas ruas por Cuba e Venezuela

Salamanca, capital da solidariedade

Gustavo Carneiro
No passado sábado, dia 15, Salamanca foi a capital ibérica da solidariedade. À margem da cimeira ibero-americana, que se realizava naquela cidade, mais de uma dezena de milhares de pessoas, manifestavam, nas ruas e praças da cidade, a sua solidariedade para com os processos revolucionários cubano e venezuelano. Entre elas, mais de mil portugueses, vindos de todo o País.
Ninguém pára a solidariedade com os povos em luta. Mais uma vez, isso ficou claro, na grandiosa jornada de solidariedade com as revoluções cubana e venezuelana, que teve lugar no sábado em Salamanca, a propósito da presença naquela cidade das delegações de Cuba e Venezuela (esta chefiada pelo presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chavez) que participavam na cimeira ibero-americana de chefes de Estado e de governo. E foram muitos milhares os que, desafiando as dificuldades que foram encontrando (ver caixa), demonstraram a sua solidariedade com os processos revolucionários em curso naqueles dois países da América Latina.
Pouco passava das sete horas da tarde, seis em Portugal (hora marcada para o início da manifestação), quando os primeiros portugueses se juntaram ao impressionante desfile que já percorria as ruas e praças de Salamanca. À sua chegada, foram recebidos com «saudações solidárias e revolucionárias», entoadas por milhares de manifestantes do país vizinho. Daí seguiram juntos até à praça onde se realizou o acto final da jornada, à medida que cada vez mais manifestantes portugueses se iam juntando ao desfile.
Pelo meio, reconheciam-se panos e faixas de diversas organizações espanholas – políticas (nomeadamente o PCE e a UJCE), sindicais, de solidariedade – e portuguesas, como o PCP e a JCP, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a Associação de Amizade Portugal-Cuba, a CGTP-IN, entre muitas outras, e entoavam-se palavras de ordem de solidariedade com a luta daqueles povos e com a sua corajosa resistência ao imperialismo: «Cuba, Venezuela una sola bandera», «Manos fuera de Cuba y Venezuela», «No al bloqueo, Cuba vencera», «Alerta que camina la espada de Bolivar por America Latina» foram alguns dos lemas mais ouvidos.

Retratos do futuro

Pelo palco, localizado numa praça escura e marginal da cidade – a única para a qual houve autorização para realizar a iniciativa –, passaram vozes solidárias, representantes de diversas organizações. Na sua intervenção, a presidente da Associação de Amizade Portugal-Cuba, Armanda Fonseca, após nomear Salamanca como a capital ibérica da solidariedade com Cuba e Venezuela, afirmou que esses dois países mostram que é possível um mundo sem exploração e sem opressão. São um retrato do futuro, considerou.
Armanda Fonseca manifestou a frontal e activa oposição dos portugueses presentes ao criminoso bloqueio que desde há quarenta anos os Estados Unidos impõem a Cuba. Para a presidente da associação de solidariedade, a União Europeia é cúmplice nesta agressão contra a Revolução e o povo de Cuba.
Numa intervenção muito saudada pelos milhares de presentes, Armanda Fonseca guardou umas palavras de saudação para com a Revolução Bolivariana da Venezuela, lembrando que também na Revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974, as Forças Armadas desempenharam um papel fundamental, tal como assumem hoje no processo revolucionário em curso na pátria de Simon Bolivar.
Pela tribuna passaram outras vozes, igualmente solidárias, oriundas de todas as partes do país vizinho. A libertação dos cinco patriotas cubanos presos nos Estados Unidos – «por serem revolucionários cubanos e por mais razão nenhuma», afirmou-se a partir da tribuna – e a extradição para a Venezuela do terrorista cubano Luis Posada Carrilles, foram outras das causas que moveram os muitos manifestantes que percorreram Salamanca no passado sábado e a encheram de fraternidade revolucionária.

Provocações e obstáculos não impediram manifestação
Nada quebrou a vontade dos combatentes


Não foi fácil chegar de Portugal a Salamanca no passado sábado para participar nas acções de solidariedade com Cuba e Venezuela, assim como não foi fácil, na própria cidade de Salamanca, demonstrar essa mesma solidariedade. Os entraves foram mais que muitos. Mas a determinação dos manifestantes foi maior do que qualquer dos obstáculos e a manifestação não apenas se realizou como foi imensa e intensa.
Para os portugueses, as provocações e os obstáculos à sua participação começaram na fronteira de Vilar Formoso. Reunidos os 18 autocarros e mais uns quantos automóveis particulares na localidade portuguesa, com o objectivo de seguirem juntos para Salamanca, apenas dois autocarros passaram sem problemas a fronteira, tendo os restantes ficado retidos à entrada de Espanha. Passado algum tempo, e muita contestação dos responsáveis pela delegação portuguesa, lá foi possível seguirem todos a marcha. Mas o tempo perdido não voltava atrás e logo passados cem metros alguns dos autocarros eram mandados parar mais uma vez.
Passados estes primeiros contratempos, logo surgiriam outros, em plena auto-estrada, alguns quilómetros mais à frente. Parados os autocarros num parque – para nova reunião de toda a coluna –, surgiu uma patrulha da Guardia Civil (polícia espanhola), composta por várias viaturas e homens. Após uma longuíssima sessão de perguntas e respostas, começaram a exigir as listas de passageiros por viatura e a identificar todos os que seguiam nos autocarros. Sem pressas, pois o objectivo central da polícia, demorar o mais possível, a isso obrigava. Os telefonemas sucediam-se e vinha a notícia que a restante coluna portuguesa estava retida quilómetros atrás.
Passadas cerca de duas horas de entraves, discriminação e provocações e à medida que a identificação ia sendo feita, a Guardia Civil ia dando ordem de marcha aos autocarros, com grandes intervalos entre eles, para quebrar a coluna. Ainda se tentou fazer com que pudessem seguir todos juntos, mas o chefe da patrulha não autorizou. E os dois primeiros autocarros seguiram a marcha rumo a Salamanca, para garantir a presença portuguesa na jornada solidária. E, aos poucos, com muita contestação, lá foram seguindo os outros, ainda a tempo de participar na manifestação e no acto de encerramento.
A própria jornada de solidariedade foi vítima de sabotagem, a começar pelo próprio local em que se realizou o acto de encerramento – que só não contou com a presença do presidente venezuelano, Hugo Chavez, e do ministro cubano das Relações Exteriores, Felipe Pérez Roque, porque o local não oferecia as mínimas condições de segurança. Depois de terem visto rejeitados pavilhões desportivos e outros espaços pelas autoridades locais, assim como por várias entidades, os promotores da iniciativa tiveram que realizar o comício numa praça escura e marginal da cidade. Mas a solidariedade manifestou-se. E o seu clamor fraterno, furando obstáculos, atravessou o Atlântico.


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