A catástrofe e a guerra
Quando Bush venceu a segunda eleição, em Novembro do ano passado, o movimento pela paz atingiu o seu ponto mais baixo. Desde então, o sentimento anti-guerra não parou de crescer. Começou lentamente, numa postura passiva. Cada mês o Pentágono precisava de recrutar, em média, oito mil novos soldados. Cada mês os recrutadores não conseguiam mais que seis mil. A continuação da resistência iraquiana abanou este desconforto passivo até o tornar novamente numa questão em ponto de ebulição.
Em Agosto deste ano, aconteceram dois eventos que mobilizaram o movimento. No primeiro, Cindy Sheehan, cujo filho foi morto em Bagdad, em 2004, foi ao Texas confrontar Bush no seu próprio «quintal». A sua acção iniciou-se precisamente no dia em que 14 soldados norte-americanos morreram no Iraque. Ela exigiu-lhe que explicasse «qual a causa nobre pela qual o meu filho Casey morreu». Bush recusou recebê-la. A sua coragem e persistência deu voz a dezenas de milhares de pessoas que ainda não tinham encontrado uma forma activa de se expressarem contra a guerra. Na reunião de 24 de Setembro a multidão ouviu-a em total silêncio.
O segundo acontecimento foi o furacão Katrina, que atingiu a costa dos EUA destruindo Nova Orleães e outras cidades circundantes de menor dimensão. Cerca de 1,5 milhões de pessoas abandonaram as suas casas. Muitas outras ficaram em risco. As acções criminosas da administração Bush mostraram ao mundo – e a toda a população norte-americana – que é indiferente ao sofrimento de quem é pobre, particularmente se forem cidadãos afro-americanos. Este facto transformou milhões de pessoas em furiosos lutadores contra o regime de Washington.
Inquéritos provaram que mais de 60 por cento da população é contra a guerra. A popularidade de Bush atingiu o ponto mais baixo de sempre. Nunca nenhum presidente tinha sido tão impopular. Mas a realidade mostrou que o movimento anti-guerra ganhou mais do que recuperar a energia que tinha tido anteriormente. A postura passiva transformou-se num apelo urgente de regresso dos protestos às ruas.
Cerca de 300 mil pessoas marcharam em Washington no dia 24 de Setembro na maior demonstração de repúdio à ocupação norte-americana do Iraque. As palavras de ordem do protesto eram «Tragam as tropas para casa, já!» e «Fim das ocupações coloniais da Palestina, Afeganistão e Haiti». Outras 100 mil pessoas marcharam nas restantes cidades, sobretudo na Costa Oeste.
Um movimento que amadurece
Mas os slogans oficiais e os cartazes produzidos em massa contam apenas parte da história. Uma quota considerável da população norte-americana está furiosa com a administração Bush, furiosa como já não se via há anos. Trouxeram de casa os seus panos e cartazes expressando a sua indignação contra Bush, Cheney e outros protagonistas do gang da Casa Branca.
Aproximadamente um quarto dos participantes da marcha aproveitaram para ouvir os discursos, partilhando e aplaudindo cada apelo à acção. Os protestos ouvidos foram contra a guerra no Iraque mas também de condenação à administração Bush pelo comportamento criminoso e negligente para com o povo de Nova Orleães.
Os manifestantes repudiaram Bush pelas mortes causadas pelo Katrina. «Defenda-se a vida, não a guerra», um slogan muito semelhante ao mais popular dos slogans anti-guerra do Vietname. Uma afro-americana levava um cartaz que dizia «Nunca os iraquianos me abandonaram no topo de um tecto à espera da morte». Um grupo de manifestantes da plataforma Tropas Fora Agora proclamou-se como o «Contingente Katrina» e manteve-se durante três horas junto com a marcha procurando ganhar os restantes marchantes para os movimentos de defesa dos direitos civis. A ideia é realizar acções que, conjuntamente, liguem a luta das vítimas do furacão com a questão da ocupação do Iraque.
Um dos oradores, Curtis Muhammad, um activista proveniente de Nova Orleães, disse à multidão que «precisamos de pôr fim a ambas as guerras: a guerra no Iraque que está a matar os nossos soldados, a depauperar os nossos recursos e a devastar outro país, e a guerra contra os pobres e as minorias étnicas em nossa própria casa».
Foi notório que nenhum dos representantes da liderança do Partido Democrata tenha estado presente. Apenas Jesse Jackson e algumas congressistas do Fórum de Congressistas Negros compareceram. Pode ser errado afirmar que pouco mais que uma pequena percentagem dos manifestantes são anti-imperialistas. Ainda assim, nesta fase este movimento está a desenvolver-se independente das grandes instituições capitalistas, no que parece continuar a ser uma longa guerra.
Em Agosto deste ano, aconteceram dois eventos que mobilizaram o movimento. No primeiro, Cindy Sheehan, cujo filho foi morto em Bagdad, em 2004, foi ao Texas confrontar Bush no seu próprio «quintal». A sua acção iniciou-se precisamente no dia em que 14 soldados norte-americanos morreram no Iraque. Ela exigiu-lhe que explicasse «qual a causa nobre pela qual o meu filho Casey morreu». Bush recusou recebê-la. A sua coragem e persistência deu voz a dezenas de milhares de pessoas que ainda não tinham encontrado uma forma activa de se expressarem contra a guerra. Na reunião de 24 de Setembro a multidão ouviu-a em total silêncio.
O segundo acontecimento foi o furacão Katrina, que atingiu a costa dos EUA destruindo Nova Orleães e outras cidades circundantes de menor dimensão. Cerca de 1,5 milhões de pessoas abandonaram as suas casas. Muitas outras ficaram em risco. As acções criminosas da administração Bush mostraram ao mundo – e a toda a população norte-americana – que é indiferente ao sofrimento de quem é pobre, particularmente se forem cidadãos afro-americanos. Este facto transformou milhões de pessoas em furiosos lutadores contra o regime de Washington.
Inquéritos provaram que mais de 60 por cento da população é contra a guerra. A popularidade de Bush atingiu o ponto mais baixo de sempre. Nunca nenhum presidente tinha sido tão impopular. Mas a realidade mostrou que o movimento anti-guerra ganhou mais do que recuperar a energia que tinha tido anteriormente. A postura passiva transformou-se num apelo urgente de regresso dos protestos às ruas.
Cerca de 300 mil pessoas marcharam em Washington no dia 24 de Setembro na maior demonstração de repúdio à ocupação norte-americana do Iraque. As palavras de ordem do protesto eram «Tragam as tropas para casa, já!» e «Fim das ocupações coloniais da Palestina, Afeganistão e Haiti». Outras 100 mil pessoas marcharam nas restantes cidades, sobretudo na Costa Oeste.
Um movimento que amadurece
Mas os slogans oficiais e os cartazes produzidos em massa contam apenas parte da história. Uma quota considerável da população norte-americana está furiosa com a administração Bush, furiosa como já não se via há anos. Trouxeram de casa os seus panos e cartazes expressando a sua indignação contra Bush, Cheney e outros protagonistas do gang da Casa Branca.
Aproximadamente um quarto dos participantes da marcha aproveitaram para ouvir os discursos, partilhando e aplaudindo cada apelo à acção. Os protestos ouvidos foram contra a guerra no Iraque mas também de condenação à administração Bush pelo comportamento criminoso e negligente para com o povo de Nova Orleães.
Os manifestantes repudiaram Bush pelas mortes causadas pelo Katrina. «Defenda-se a vida, não a guerra», um slogan muito semelhante ao mais popular dos slogans anti-guerra do Vietname. Uma afro-americana levava um cartaz que dizia «Nunca os iraquianos me abandonaram no topo de um tecto à espera da morte». Um grupo de manifestantes da plataforma Tropas Fora Agora proclamou-se como o «Contingente Katrina» e manteve-se durante três horas junto com a marcha procurando ganhar os restantes marchantes para os movimentos de defesa dos direitos civis. A ideia é realizar acções que, conjuntamente, liguem a luta das vítimas do furacão com a questão da ocupação do Iraque.
Um dos oradores, Curtis Muhammad, um activista proveniente de Nova Orleães, disse à multidão que «precisamos de pôr fim a ambas as guerras: a guerra no Iraque que está a matar os nossos soldados, a depauperar os nossos recursos e a devastar outro país, e a guerra contra os pobres e as minorias étnicas em nossa própria casa».
Foi notório que nenhum dos representantes da liderança do Partido Democrata tenha estado presente. Apenas Jesse Jackson e algumas congressistas do Fórum de Congressistas Negros compareceram. Pode ser errado afirmar que pouco mais que uma pequena percentagem dos manifestantes são anti-imperialistas. Ainda assim, nesta fase este movimento está a desenvolver-se independente das grandes instituições capitalistas, no que parece continuar a ser uma longa guerra.