TV da América Latina para latino-americanos

Telesul na senda de Bolívar

A nova estação de TV, Telesul, que se propõe contribuir para romper com o monopólio informativo dos média imperialistas, começou a emitir a 24 de Julho.

«Dar a conhecer à região e ao mundo a realidade latino-americana»

«A Telesul será sempre independente, neutra jamais», garante o jornalista colombiano Jorge Enrique Botero, director de informação da estação patrocinada pela Venezuela (51%), Argentina, Cuba e Uruguai.
A cerimónia que no passado domingo deu início às emissões para todo o continente americano realizou-se no Teatro Teresa Carreño de Caracas, e coincidiu com o 222.º aniversário de Simón Bolívar, o libertador.
A carga simbólica da data foi sublinhada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, para quem esta iniciativa vai permitir aproximar «ainda mais os povos latino-americanos em busca da integração».
No mesmo sentido se pronunciou o ministro da Comunicação e Informação da venezuela, Andrés Izarra, ao sublinhar que «com o surgimento do canal foi dado um passo para a construção de uma nova realidade na América Latina».
De acordo com Izarra, o objectivo da estação não é o de agredir nenhum país, mas antes o de dar a conhecer à região e ao mundo a realidade latino-americana a partir de uma perspectiva latino-americana.
Como faz notar o director geral da Telesul e um dos criadores do projecto, Aram Aharonian, «do Norte vêem-nos a preto e branco, quando na realidade somos um continente multicolor», pelo que importa começar a romper com os «latifúndios mediáticos» na América Latina para que os latino-americanos possam passar a ver-se «com os próprios olhos e não através dos meios de comunicação estrangeiros».
Segundo o director de informação, Enrique Botero, a programação, experimental até Setembro, será preenchida por quatro blocos diários de seis horas cada um, incluindo serviços informativos, crónicas, documentário e cinema da América Latina.

Combater o pensamento único

«A Telesul é importante porque actualmente os meios de comunicação estão em crise. Não pela ausência de opção. Há vários meios, mas um único discurso.» Quem o afirma é Ignácio Ramonet, editor do jornal francês Le Monde Diplomatique, que integra o Conselho Assessor da Telesul, formado por jornalistas, intelectuais e estudiosos do mundo contemporâneo.
Segundo Ramonet, o grande desafio que a nova estação enfrenta é o da qualidade. «Uma das principais carências do mundo mediático actual é a qualidade. Se a Telesul quiser vencer a batalha pela soberania comunicacional terá que lutar por ela», afirma.
Já o conselheiro norte-americano Richard Stallman, um dos criadores do software livre,
considera que o canal necessita de apresentar ideias e conseguir que elas sejam ouvidas.
«A Telesul não pode ser vista apenas por intelectuais», sublinha, alertando que no caso de os EUA emitirem sinais de rádio para neutralizar o sinal de satélite da estação, será necessário que «a Telesul envie transmissões de rádio em inglês para dizer aos cidadãos dos EUA as ideias que eles não ouvem nos canais Fox e CNN».
A ameaça é bem real. Os EUA não vêem com bons olhos o aparecimento da Telesul e a Câmara de Representantes dos EUA já decidiu dar luz verde às transmissões de rádio e televisão contra a Venezuela. A iniciativa não parece preocupar Aram Aharonian, que a propósito afirmou que «os congressistas norte-americanos parecem ignorar que na Venezuela há mais de 40 emissoras de televisão privadas, somente duas estatais, e que são vistos 128 canais por cabo».

Editora do Sul na calha

A par do canal de televisão, e sempre com o objectivo de consolidar a integração cultural da região, as autoridades venezuelanas estudam a possibilidade de criar uma «Editora do Sul», informou esta segunda-feira o ministério da Comunicação e Informação do país.
«A ideia é fomentar uma estrutura que permita revelar os valores literários do continente e, dessa maneira, “lançar outra carga de profundidade” na consciência dos nossos povos e da nossa gente, fortalecendo a integração e a nossa cultura», afirmou o ministro de Comunicação e Informação da Venezuela, Andrés Izarra. Acresce, sublinhou o ministro, que actualmente é mais fácil encontrar as obras de autores latino-americanos em qualquer país europeu do que nos próprios países.
A proposta é apoiada por Hugo Chávez, que considera a iniciativa susceptível de democratizar o direito ao conhecimento.


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