Afro-americanos exigem justiça
Centenas de pessoas manifestaram-se a 14 de Junho junto ao gigantesco complexo prisional de Baltimore em protesto contra o assassinato de Raymond Smoot.
«Vinte e cinco agentes saltaram-lhe em cima e espancaram-no até á morte»
Os manifestantes, desfilando pelas ruas que rodeiam a prisão, entoavam palavras de ordem como «As paredes choram!» e «Digam a verdade, parem as mentiras, Raymond Smoot não tinha de morrer». A polícia de Baltimore, normalmente bastante rígida e brutal, não se atreveu a intervir.
Smoot, um afro-americano de 52 anos, esteve preso durante duas semanas na prisão Central Booking de Baltimore, onde ficam detidas as muitas pessoas que aguardam ser formalmente acusadas. De acordo com o tribunal, é suposto que os presos não fiquem mais de 24 horas na Central Booking. A 14 de Maio, Smoot teve um discussão com os guardas. Vinte e cinco agentes saltaram-lhe em cima e espancaram-no até á morte.
Nenhum guarda foi até à data acusado da morte de Smoot, oficialmente declarada como homicídio. A 10 de Junho, as autoridades prisionais despediram oito guardas que assistiram à morte de Smoot. Mary Ann Saar, secretária de segurança pública e dos serviços correcionais de Maryland, tenta responsabilizar individualmente os guardas em vez de culpar o sistema estatal de repressão.
A Central Booking de Baltimore foi construída em 1995 para acolher 45 000 presos por ano.
Nos últimos quatro anos, o sistema prisional processou ali 100 000 prisões por ano, quase uma em cada seis pessoas da população. Para formalizar a prisão são necessários dias ou mesmo semanas. As celas concebidas para receber cinco a oito pessoas têm muitas vezes 18, o que obriga a que todos tenham de permanecer em pé. Desde 2002 já morreram 27 pessoas em Central Booking.
A gota de água
O assassinato de Raymond Smoot foi a gota de água que fez transbordar o copo. Os seus familiares, indignados com a sua morte, têm-se empenhado activamente em conseguir justiça para a vítima e procuram organizar os amigos com o apoio do «All Peoples Congress», uma organização comunitária. Donnetta Kidd, sobrinha de Smoot, interveio na manifestação junto à Central Booking. Emocionada até às lágrimas, explicou à multidão que a família exige justiça para todas as vítimas.
Muitos dos políticos e dirigentes religiosos afro-americanos locais, incluindo os da Nação do Islão, juntaram-se à manifestação, tal como membros do movimento anti-guerra e de grupos políticos de esquerda.
Familiares de outras vítimas da repressão policial e do sistema prisional participaram igualmente na organização da denúncia pública dos crimes. Alguns falaram na manifestação, como os familiares de Joey Wilbon, espancado até à morte pela polícia da cidade de baltimore, e os irmãos de Debby Epifanio, que morreu em Central Booking quando se recusou a tomar medicamentos.
Os trabalhadores e os pobres dos Estados Unidos estão cada vez mais furiosos com muitas coisas: a guerra no Iraque que ameaça os seus filhos, o crescente abismo entre ricos e pobres, o desaparecimento do salário mínimo, a falta de seguro de saúde, e a ameaça à Segurança Social.
Mas o que pode trazer à superfície este descontentamento latente é o aumento da repressão policial, especialmente entre os afro-americanos, latinos e comunidades nativas. Nas comunidades afro-americanas de Dever, Colorado, Detroit, Michigan, Los Angeles, Califórnia, Somerville, Massachussets e agora em Baltimore, as pessoas começam a reagir.
«A nossa Abu Ghraib»
Com uma população de cerca de 635 000 habitantes, Baltimore é a maior cidade de Maryland. Está situada 75 km a Norte de Washington, D.C. Quase dois terços da população de Baltimore é afro-americana, e uma em cada quatro pessoas vive abaixo do limiar da pobreza. Até 1990 registam-se 300 ou mais homicídios por ano em Baltimore, um nível elevado até para os Estados Unidos.
A resposta do governo de Baltimore à pobreza e à miséria da cidade foi o aumento da repressão policial. Adoptou a chamada «tolerância zero». Isto significa que sempre que os moradores de Baltimore se juntam num parque podem ser presos por «ociosidade». Se bebem uma cerveja nos degraus de entrada das suas casas, podem ser presos por «se embebedar em público».
São escorraçados da vizinhança e presos indiscriminadamente. Existe agora uma quota policial de prisões por agente e por distrito, o que encoraja as perseguições e as prisões, fazendo de Baltimore uma espécie de país ocupado. As prisões são tão comuns que em cerca de 30 por cento dos casos nem sequer chega a haver acusação. Alguns moradores chamam já a Central Booking a «nossa Abu Ghraib».
Smoot, um afro-americano de 52 anos, esteve preso durante duas semanas na prisão Central Booking de Baltimore, onde ficam detidas as muitas pessoas que aguardam ser formalmente acusadas. De acordo com o tribunal, é suposto que os presos não fiquem mais de 24 horas na Central Booking. A 14 de Maio, Smoot teve um discussão com os guardas. Vinte e cinco agentes saltaram-lhe em cima e espancaram-no até á morte.
Nenhum guarda foi até à data acusado da morte de Smoot, oficialmente declarada como homicídio. A 10 de Junho, as autoridades prisionais despediram oito guardas que assistiram à morte de Smoot. Mary Ann Saar, secretária de segurança pública e dos serviços correcionais de Maryland, tenta responsabilizar individualmente os guardas em vez de culpar o sistema estatal de repressão.
A Central Booking de Baltimore foi construída em 1995 para acolher 45 000 presos por ano.
Nos últimos quatro anos, o sistema prisional processou ali 100 000 prisões por ano, quase uma em cada seis pessoas da população. Para formalizar a prisão são necessários dias ou mesmo semanas. As celas concebidas para receber cinco a oito pessoas têm muitas vezes 18, o que obriga a que todos tenham de permanecer em pé. Desde 2002 já morreram 27 pessoas em Central Booking.
A gota de água
O assassinato de Raymond Smoot foi a gota de água que fez transbordar o copo. Os seus familiares, indignados com a sua morte, têm-se empenhado activamente em conseguir justiça para a vítima e procuram organizar os amigos com o apoio do «All Peoples Congress», uma organização comunitária. Donnetta Kidd, sobrinha de Smoot, interveio na manifestação junto à Central Booking. Emocionada até às lágrimas, explicou à multidão que a família exige justiça para todas as vítimas.
Muitos dos políticos e dirigentes religiosos afro-americanos locais, incluindo os da Nação do Islão, juntaram-se à manifestação, tal como membros do movimento anti-guerra e de grupos políticos de esquerda.
Familiares de outras vítimas da repressão policial e do sistema prisional participaram igualmente na organização da denúncia pública dos crimes. Alguns falaram na manifestação, como os familiares de Joey Wilbon, espancado até à morte pela polícia da cidade de baltimore, e os irmãos de Debby Epifanio, que morreu em Central Booking quando se recusou a tomar medicamentos.
Os trabalhadores e os pobres dos Estados Unidos estão cada vez mais furiosos com muitas coisas: a guerra no Iraque que ameaça os seus filhos, o crescente abismo entre ricos e pobres, o desaparecimento do salário mínimo, a falta de seguro de saúde, e a ameaça à Segurança Social.
Mas o que pode trazer à superfície este descontentamento latente é o aumento da repressão policial, especialmente entre os afro-americanos, latinos e comunidades nativas. Nas comunidades afro-americanas de Dever, Colorado, Detroit, Michigan, Los Angeles, Califórnia, Somerville, Massachussets e agora em Baltimore, as pessoas começam a reagir.
«A nossa Abu Ghraib»
Com uma população de cerca de 635 000 habitantes, Baltimore é a maior cidade de Maryland. Está situada 75 km a Norte de Washington, D.C. Quase dois terços da população de Baltimore é afro-americana, e uma em cada quatro pessoas vive abaixo do limiar da pobreza. Até 1990 registam-se 300 ou mais homicídios por ano em Baltimore, um nível elevado até para os Estados Unidos.
A resposta do governo de Baltimore à pobreza e à miséria da cidade foi o aumento da repressão policial. Adoptou a chamada «tolerância zero». Isto significa que sempre que os moradores de Baltimore se juntam num parque podem ser presos por «ociosidade». Se bebem uma cerveja nos degraus de entrada das suas casas, podem ser presos por «se embebedar em público».
São escorraçados da vizinhança e presos indiscriminadamente. Existe agora uma quota policial de prisões por agente e por distrito, o que encoraja as perseguições e as prisões, fazendo de Baltimore uma espécie de país ocupado. As prisões são tão comuns que em cerca de 30 por cento dos casos nem sequer chega a haver acusação. Alguns moradores chamam já a Central Booking a «nossa Abu Ghraib».